Capítulo Único

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Kristoff Orlov nunca tinha frio. Aquilo sempre foi natural para ele. Sua mãe dizia que era porque ele havia caído em um lago congelado quando criança, mas ele preferia não dar um nome a isso.

Foi apenas com doze anos que ele percebeu que aquilo era muito mais do que somente não sentir frio. Ele era quente por dentro, sua mãe brincava que ele tinha fogo dentro de si e naquele dia cinza na fazenda da família, ele entendeu que aquilo significava mais do que teimosia.

Após incendiar uma macieira só por sentir raiva, ele correu até Edilene, aquela que sempre tinha sido sua melhor amiga e desesperadamente lhe contou o que havia acontecido. A morena havia se mantido muito calma, dito a ele para respirar fundo e conforme ele lhe contava que sua maior preocupação era machucar ela ou sua família.

Então, ela, com o cabelo seco como palha e mirrada como um cabrito, lhe prometeu que ia treiná-lo. Ele não acreditou que aquilo fosse possível na época, mas durante o próximo ano eles treinaram todas as tardes até que ele se tornasse completamente dono de seu dom. Ele não ficou surpreso por quatro anos depois ser Picotado, mas isso não significava que ele ia se render tão facilmente.

Então Kristoff Oce Orlov e Edilene Lucia Alvor fugiram juntos mundo a fora. Ele sofreu com a perda da sua família nas primeiras semanas, mas conforme o tempo passou e mais dias voaram sem que eles fossem pegos, uma sensação de invencibilidade tomou conta dele, que alimentava cada vez mais a esperança de rever seus parentes. Edilene não sentiu nem de longe o mesmo que ele, com um pai violento e uma mãe submissa, ela estava melhor longe.

Entretanto, nada dura sempre e um dia, desleixados por não esperar aquilo, eles foram pegos dormindo ao relento em um parque estúpido e quando Kristoff tentou defendê-los, foi como se todos os alarmes soassem e eles foram levados pela Verhallow e trancafiados em uma masmorra.

O tempo se tornou uma massa elástica então, seu tamanho indistinto e infinito e Kristoff desistiu de contá-lo. Quando foram pegos era outono, no verão era quase impossível usar seu poder, mas no inverno ele era vital e o loiro sempre sentiu prazer em usá-lo para aquecer Anna.

Ali, em poder da Verhallow, eles estavam em celas distintas, lado a lado, e raramente era permitido que eles se vissem. Ele não sabia o que tinha de especial naquela lugar que fazia com que ele fosse incapaz de usar seu poder, mas entendia muito bem que todo aquele tempo sem o utilizar estava cobrando seu preço, fazendo com que ele se sentisse cada vez mais exausto e fraco. Ele estava adoecendo e não sabia mais quanto tempo poderia se manter daquele jeito.

Ele há muito tempo tinha desistido da ideia de fugir, não conseguiram ver por onde foram levados até ali e com exceção das poucas vezes que os levavam para tomar banho, mais adiante nas masmorras, não saiam daqueles cubículos sem cor nunca e Kristoff já tinha perdido as esperanças de algum dia rever a família.

Seus pensamentos se tornaram difusos e ele tentou focar sua atenção no badalar do relógio do corredor, que ditava o horário em que os guardas lhes traziam comida e se imaginou com Edilene, mas não a Edilene cansada e abatida que tinha visto da última vez. Ao invés, ele imaginou sua pele sempre suja, lustrosa, imaginou que seus olhos injetados de sangue eram límpidos e o encaravam com carinho.

Por fim, fechou os olhos deixando que a imagem do teto acima de si desaparecesse e só Edilene restasse em sua mente. Derivando para o sono, que parecia ser seu estado constante agora, ele inspirou. Amanhã será um dia melhor, pensou, amanhã talvez eu veja Edilene. 

When The Cold Catch UsOnde histórias criam vida. Descubra agora