VIII. O perfume do desejo

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A garota assistia uma peça erótica com sua amiga, que logo sussurrou, como se fosse por telepatia:

- Você está pensando nele, não é?

Era tão óbvio assim? Ela riu sozinha enquanto observava a cena sensual.

Sim, pensava nele. Desejava ele. Queria sentir seu corpo no dela.

Sua mente resgatava os poucos momentos de contato físico. A mão na perna, o toque sutil nas suas costas, o toque no braço, o roçar das pernas por debaixo da mesa, e por fim o beijo no rosto de comprimento. Sua mente revivia os momentos com intensidade na falta de novos. E quando esses breves momentos aconteciam, seu coração acelerava e sua respiração parecia falhar. O tempo exato do toque deveria ser de apenas um segundo, no entanto, para ela, durava mais, muito mais.

Tiveram sua primeira discussão. Uma breve discussão. Ele se esqueceu do horário combinado. A garota se irritou com o descaso e sequer disfarçou sua decepção. Não iria esperá-lo. Iria embora.

Esperou os amigos para irem quando ele surgiu de repente pelo corredor, guiado pela sua voz. Ele a impediu, disse para conversarem. Queria insultá-lo e ir embora, mas como poderia negar-lhe a conversa? Seu coração não permitia.

Ela queria brigar! Mas ele...

Seu perfume invadia suas narinas e desacelerava sua respiração. E ele pedia desculpas de um jeito tão cordial e amável...

A garota se fez de brava por fora, ou pelo menos assim tentou. Por dentro já estava derretida por ele, sorrindo internamente, perdoando-o e o amando mais.

Sim, amando-o mais. Porque ele fora atrás dela, guiado pela sua voz. Estavam há salas de distância, um longo corredor, e ele simplesmente fora até ela. Era como se fosse também até seu coração e o aquecesse. E seu perfume ainda lhe confortava mais! Queria se jogar nos braços dele e senti-lo ainda mais fortemente. Queria se afogar naquele cheiro maravilhoso.

E ele ainda a fez rir, no momento em que ela queria brigar com ele.

Pegou sua camisa de manga comprida e puxou para baixo, sorrindo de canto, todo brincalhão, todo jovial, como se não tivesse o dobro de sua idade.

Que bobagem. A garota tivera receio de tê-lo perdido, de nunca mais voltarem ao ponto inicial da sala secreta. Quanta bobagem! Pois agora estavam mais próximos do que nunca, muito mais perto do que estiveram no ponto inicial.

Trocavam mensagens eventualmente, e a garota sempre sorria por um longo tempo ao lê-las. Eram breves e simples, mas acalentavam seu coração e lhe fazia sorrir e ansiar pelo próximo encontro.

Sempre ansiava pelo próximo encontro.

E quando estava nele, o relógio simplesmente congelava.

Houve um dia em que estava estudando na biblioteca quando ele lhe mandou uma mensagem para que o encontrasse. Ela ficou com raiva por ter que parar tudo para atender um pedido dele, como uma ordem. Todavia, por outro lado, uma parte sua se satisfazia com o poder que tinha sobre ela.

E quando o encontrou, rapidamente desapareceu qualquer vestígio de raiva ou insatisfação. Seu coração sempre sorria na presença dele.

- Nossa. - ele a olhou de cima a baixo - Como você está elegante!

E naquele dia a garota sorriu mais do que todas as outras vezes. Ele a olhara como homem, não como professor. Admirara sua beleza, sua elegância.

E quando estavam ali, somente os dois, na sala secreta, tão próximos, e aquele maravilhoso perfume...

A garota fechava os olhos e aspirava seu cheiro, desejando e imaginando como seria tê-lo em seus braços, como seria ter seu toque verdadeiramente, mesmo que por um breve instante...

Nada aconteceu, como sempre. Pelo menos nada concreto.

Ele abriu a porta e lhe deu passagem, porém era estreito, e ela fez questão de ficar ainda mais estreito, deixando seus corpos o mais próximo possível.

Em outro dia estavam ali outra vez. Ela precisou de ajuda e ele a atendeu prontamente. Aproximou-se mais do que o necessário para um professor e uma aluna, e o suficiente para um homem e uma mulher. O braço dele tocou o dela. A garota se arrepiou. Dessa vez os braços se mantiveram encostados por mais de um segundo. Não houve pedido de desculpas nem afastamento. Os dois consentiram. O calor do toque e a proximidade, como se fosse o único toque permitido e possível. O coração da garota acelerou e a respiração falhou. Era muito e ainda era tão pouco!

E então ele se afastou outra vez e voltou ao trabalho.

Como ela queria manter aquele toque e prorrogá-lo o máximo possível.

Apenas um toque... apenas um instante...

SubmersoWhere stories live. Discover now