Três horas e vinte três minutos da madrugada. Acácio caiu de cabeça no chão do sexto andar do prédio em que morava. Os vizinhos de condomínio escutaram um leve estrondo quando seu corpo entrou em detrimento ao chão. Marta Gomes, sua vizinha de cima, ligou para o hospital mais próximo, e naquela região só haviam dois hospitais. Mas logo trouxeram uma ambulância e o colocaram numa maca. Marta ficou no prédio, pois só havia ela acordada naquela noite e precisava voltar para o seu apartamento. Ele estava inconsciente quando chegara no hospital. Acácio chegou numa ambulância com uma sirene que não parava de tagarelar. Abrindo as portas do veículo com rapidez, Acácio estava desacordado e deitado numa maca, com a testa lacerada e usando um colar cervical para mantê-lo com a cabeça ereta. Dr. Jorge Ramos cobria o plantão no Hospital Regional quando ele havia chegado. E logo, uma equipe foi o levando para fazer uma tomografia.
Mais tarde, ainda desacordado, o resultado da tomografia não deu resultados graves. Acácio escapara por um tris da morte. Seis andares, de cabeça, e continuar com o crânio ileso, sim, isso era um milagre. Ele estava acordando. Abrindo os olhos lentamente, se acostumando a luz do quarto em que estava repousando, Dr. Jorge estava com suas fichas e suas informações, e logo foi o enchendo de perguntas e colocando uma lanterna nos seus olhos.
-- Você pode me explicar o que aconteceu com você, Sr. Felício? -- Era seu sobrenome.
-- Se eu não souber o que aconteceu? -- Ele pergunta, retoricamente.
-- Você mora com mais alguém no apartamento? -- Dr. Jorge pergunta. Acácio estava coçando a cabeça e olhando para os lados, ainda assimilando o que estava acontecendo.
-- Que horas são?
-- São quase quatro horas da manhã, Senhor. -- Disse. Acácio arregalava os olhos em seguida. -- Sr. Felício, tem histórico de sonambulismo? -- Pergunta o doutor, enquanto Acácio parava e olhava para ele, atentamente.
-- Não que eu saiba, nunca fiz nada demais, não sei o que aconteceu hoje... -- Ele estava confuso. -- Você não pode me ajudar? -- Nervoso, ele pega na mão do doutor, que naquele momento não pensava nada a não ser numa possível hipnofrenose. O que não parecia nada demais, até agora.
-- Você mora com mais alguém? Tem amigos, família morando com você? -- Jorge pergunta, pegando mais fichas e prontuários para Acácio assinar e responder.
-- Não. -- A resposta foi breve, seca e resumida. Não. Acácio era frio e isso acabava por resultar numa solidão, e nem ele gostava de pessoas. Dr. Jorge se espanta, mas mantém a postura, e então, ele sugere que Acácio passe a noite naquele hospital, para ter a conclusão de que ele possui sonambulismo ou não.
-- Nós vamos ficar de tocaia no seu quarto a noite toda, se você receber uma resposta involuntária do seu cérebro, que não seja comandada por você e nós virmos, você é sonâmbulo... -- Acácio parecia assustado. -- Tudo bem, senhor?
-- Acácio. -- Ele responde. -- Você não precisa me chamar de senhor, ainda tenho trinta anos. -- Dr. Jorge ri. -- E sim, estou bem. Uma noite não é uma vida.
Pelo resto da noite, Acácio Felício seria supervisionado por Dr. Jorge e Dr. Onofre, um sujeito robusto e jovem que já tinha os cabelos muito grisalhos, que também estava de plantão, e pegara o caso do homem. Depois de mais ou menos uma hora de sono, e sem respostas de sonambulismo, Acácio não acorda. Mas repentinamente, ele abre os olhos negros e se levanta, ficando sentado na cama. Ele se sentia leve e com um pouco de frio. Jorge e Onofre não estavam mais naquele ambiente. Se levantando, ele vai até a porta do quarto e fica entre ela e o corredor, pensando "esse sou eu ou estou sonâmbulo?" e sai do quarto, começando a andar pelos corredores procurando por Dr. Jorge. Mas não o encontra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Zeni - A Consciência Perdida
RomanceAcácio Felício é um homem de trinta anos que tem sonambulismo. Em uma de suas noites incomuns ele vaga pela varanda do seu apartamento e acaba caindo do sexto andar do prédio em que morava, o que o leva à uma longa viagem ao hospital até que ele aco...