O passarinho e o Nephilim caído

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Mil anos depois eu criei vergonha na cara pra atualizar, perdão a demora, mas aqui vai o último capítulo da minha primeira DabiHawks, amei escrever isso aqui, espero que gostem também.

Boa leitura :)

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Hawks não conseguia acreditar em seus olhos. Diante de si, estava o algo mais tenebroso e magnífico que já presenciara. Nem em seus sonhos mais criativos tinha visto algo parecido. 

À sua frente, um monstro enorme encarava-o. Sua pele era feita de retalhos roxos, que se repuxavam por todo seu corpo, tão esticados que davam agonia. Era como se ele vestisse algo que não lhe servia, e, em alguns pontos, os remendos pareciam ruir, deixando alguns ossos à mostra nas articulações dos braços e pernas. Sua altura devia ultrapassar os três metros, e, das costas, grandes asas negras e disformes pendiam, um tanto tortas. A boca era enorme, com grandes dentes brancos arreganhados numa expressão hostil. 

A única área que parecia livre de retalhos era em volta dos olhos, onde existia um pequeno pedaço de pele clara, que se unia a pele roxa na altura das maçãs, numa costura mais firme. 

Ao redor de ambos, cinzas jaziam no chão, conforme o agente pôde observar, graças a luz púrpura que emanava das suas asas, denunciando e assombrando o local. Olhando melhor, ele percebeu que ao menos três corpos estavam parcialmente queimados, apodrecendo. Pareciam ter sido devorados em algumas partes, o que era assustador. Ele voltou sua atenção para a criatura e então avaliou cada centímetro do rosto enorme. O algo parecia hesitar, avaliando-o também, demorando-se na contemplação das asas. Parecia não se preocupar em atacar imediatamente, como se não estivesse sob real ameaça. 

Mas, naquele momento, a maior perturbação de Hawks se devia aos olhos, que lhe encaravam com profundidade. Incandescentes, pareciam lava de vulcão em cor azul, se diluindo dentro das órbitas. Eram marcantes demais para serem esquecidos, e aquele era o motivo de aflição do agente: tinha certeza que já os havia visto antes. Piscou, lutando para relembrar. 

 E então, de forma súbita, uma lembrança invadiu sua mente; ele era criança e dividia espaço com uma dúzia de garotos que falavam português. Aquilo era uma memória de sua estadia no Brasil, numa semana ensolarada de férias.

Os meninos estavam resolvendo quem iria ser o "pegador" da brincadeira, com tarefa de correr atrás do outros. Uma música familiar tomou sua mente: 

"Cinquenta e um
Cada tiro mata um
Pá; pum 
Tchau!"

Hawks havia sido aquele que não fora atingido pelo tiro, o que sobrara e precisaria correr atrás dos outros. Ao seu lado, intensos olhos azuis sorriram silenciosamente antes de sumirem, correndo para longe. Depois daquele breve momento, Hawks nunca mais os vira. Um nome parecia implorar para sair de sua boca, na ponta de sua língua. Ao mesmo tempo, sua mente parecia não querer lhe oferecer aquela revelação. 

Alguns segundos — que pareceram-lhe uma eternidade — se passaram, até que ele finalmente pudesse pronunciar o nome, cambaleando com lágrimas no olhar. 

— Touya? É você? 

O monstro hesitou. Algo nele pareceu despertar, e ele encarou Hawks com seus enormes olhos azuis. Não eram mais cheios de esperança como outrora; brilhavam agora com o que parecia ser mágoa e ódio. Mas, ainda eram aqueles olhos, ele pôde perceber. O agente piscou, emocionado. 

— O que eles fizeram com você? — perguntou num fio de voz, aproximando-se vagarosamente. — Oh, Touya, o que eles fizeram com você? 

Besta e homem se encararam, e naquele átimo de segundo, reconhecimento perpassou por ambos. Ainda eram os mesmos, embora tão diferentes. Sempre se reconheceriam, não importava onde fosse o reencontro. Estavam juntos novamente, como Keigo havia prometido que seria quando se conheceram naquela excursão, naquele país diferente que possuía muitos buracos nas calçadas, responsáveis pela queda e pelo choro de Touya, responsáveis pelo encontro dos dois e pela primeira promessa de Hawks. Se lembrava da cena agora, como se ela tivesse acontecido momentos atrás.

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