N/A: Serão dois capítulos no total 💙
Parado em frente à janela, Hyungwon observa os carros e ônibus da avenida principal, pequenos, iguais aos brinquedos baratos que ganhava na infância. O décimo andar não é tão ruim como imaginou, o vidro impede todos os sons externos, não há insetos indesejados e a vista do céu é ampla, mesmo estando próximo aos outros prédios.
Do lado de dentro, em seu quarto, há uma cama bagunçada e uma cômoda perto da porta. E ao lado, a escrivaninha que suporta o peso de suas frustrações. O notebook ligado repousa sobre ela, exibindo o único parágrafo escrito no início da página. O maldito parágrafo que nem ao menos foi finalizado.
Hyungwon deixa o cômodo em busca de sua primeira — de muitas — xícara de café. É sábado, o décimo quarto dia sem surpresas ou intervenções na rotina. Não é a primeira vez que sofre de uma perda temporária da habilidade, mas nunca imaginou enfrentar um bloqueio tão grande. O histórico sujo do navegador e os post-its amassados dentro da lixeira revelam todos os endereços dos lugares que viajou — alguns próximos, outros em cidades vizinhas — a fim de encontrar a fagulha de inspiração tão necessitada. Nenhum deles funcionou, não como previsto.
Em cada local uma ideia para um novo suspense surgia, como um pequeno demônio em seu ombro com poder de persuasão. No final do passeio, o romance era deixado de lado ou ganhava um rumo diferente, correndo de volta para a zona de conforto.
Ao beber metade do líquido, uma ideia lhe atingiu, grande a ponto de obrigá-lo a repousar a xícara sobre a pia e retornar para o quarto. Nem ao menos passou por sua cabeça que Hoseok, um grande amigo viciado em clichês românticos, possui conhecimentos suficientes para ajudá-lo. Com sorte poderiam almoçar juntos e discutir sobre a história.
Ao pegar o telefone esquecido entre os lençóis da cama, aproveitou para sentar na superfície macia enquanto busca o número na agenda. A ligação demorou cerca de um minuto até ser atendida, bem rápido quando o assunto é alguém que gasta mais tempo erguendo pesos do que próximo ao celular.
Hoseok é dono de uma academia e sem dúvidas um dos melhores instrutores da cidade. Aquele detalhe pôde confirmar por experiência própria, é difícil escapar de um amigo insistente, saudável e degustador de frutas. Hyungwon aceitou participar das aulas por um mês, trocou o cardápio e até se arriscou a experimentar sucos estranhos. No entanto, ao chegar no final da primeira semana seu corpo dolorido utilizou toda a energia restante para levá-lo até a lanchonete mais próxima. Desde então, compreendeu que seu lugar é em frente ao computador e o único exercício se resume ao levantar constante dos dedos enquanto digita.
" — Uma ligação sua depois de duas semanas, melhor eu avisar aos outros para cancelarem o funeral."
Não é a primeira vez escutando aquela frase, mas sorriu da mesma forma.
— Me desculpe por não te mandar uma mensagem.
" — Me deixe adivinhar. Você estava ocupado pensando em uma nova forma de torturar seu personagem principal?"
O sorriso anterior se transformou em uma risada, Hoseok possui um bom senso de humor e abusa de sua habilidade.
— Na verdade, te liguei para conversarmos sobre isso.
" — Sério? Eu não sou a melhor pessoa, Hyunwoo é o amante de terror por aqui. Ou suspense. Não sei qual será o gênero desta vez."
— Romance.
" — O quê?" — Hoseok travou antes de continuar, gerando um surto previsível.
— Romance, como nos filmes que você vê nas folgas. — provocou.
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Mas então veio o problema (2Won)
RomanceEm busca de um gênero novo, Hyungwon, um escritor de suspense, decide iniciar um romance. No entanto, ele não esperava se deparar com um bloqueio criativo logo no primeiro parágrafo. Após falhar por duas semanas, surge a ideia de pedir conselhos à p...