Parte 2

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A dor é intensa e alucinante que quase me deixa enlouquecer. A minha cabeça se torna a parte mais pesada do meu corpo e o líquido transparente me escapa dos poros. Eu sei que a dor que sinto é o futuro me agredindo, um futuro próximo que exala a azedume da agrura da inclemência do animal que bate as asas brilhando com o seu vermelho que as vezes parece a luz do fogo que tem o desejo da destruição. Um vento que minutos atrás era solene se torna sobranceiro vencendo tudo e ameaçando a minha respiração.

Me organizo na cadeira quando o meu charuto é levado pelas correntes da natureza, voando para bem distante de mim do mesmo jeito que muitas pessoas o fizeram. Pelo menos eu fiz a coisa certa, nunca escondi sobre a minha escolha, sobre a minha malignidade, pois odeio a hipocrisia. Eu sei, você acha que assim que escolhi a perversidade não tenha algumas belas qualidades, sorrio comigo mesmo e o que me resta é a minha garrafa que jaz na superfície a espera do meu toque com classe e perfeição.

Uma vez conversei com um velho homem que vestia a honestidade, mas fiquei totalmente enfurecido quando descobri que ele era a hipocrisia em carne e osso. A morte dele foi atroz.

Sentados na mesa de um bar, conversámos até eu descobrir a sua falsidade, então não pensei duas vezes antes de cravar nas suas mãos que estavam estendidas com as palmas para o suporte e as costas visíveis, duas facas enormes e bem afiadas até ao ápice do corte. Ele gritou loucamente, quando os olhares ao meu redor se viraram para mim, apenas usei uma gota da minha magia truculenta e todos ficaram imotos, pairando no tempo e assim consegui continuar com o meu trabalho, no entanto eu não disse que eu sou um justiceiro, mas sim uma pessoa má. Acredito que a justiça seja muito mal interpretada e que talvez só uma entidade divina seja ela a única capaz de aplicá-la de um modo eficiente.

Os meus movimentos foram rápidos como em filmes de ação onde o protagonista é um lutador de alguma arte marcial possante.

Nos gritos, primeiro furei os olhos, em seguida cortei os pulsos do homem e as veias atrás dos pés. Ele estava em total agonia, ulteriormente do local saí cantando mais uma vitória na coleção dos meus troféus, mais uma alma que levei comigo.

Não sei por quanto tempo os idiotas no bar permaneceram pairando no tempo, mas tenho a certeza que o homem falso partiu e deixou o mundo que eu, hoje me preparo para despedir.

A minha dor de cabeça continua e de imediato, levanto, chuto com força a minha garrafa de uísque contra uma das paredes da varanda, os estilhaços saltam de uma forma desorganizada. Sinto cada veia na minha esfera se delatando como se estivesse prestes a explodir, a dor é de acordo com os batimentos do meu maldito coração e sinto a eternidade da chegada da admirada ave. Depois de apreciar os céus volto para o meu assento.

Vejo pelo futuro a sua beleza que está acima da minha. Sempre foi assim, bem engraçado, quando as pessoas normais imaginam os autores das atrocidades têm sempre o equívoco de achar que trata-se de pessoas assustadoras, porém a verdade é o puro contraste, pois eles são lindos e enganosos.

Eu estou contra essa idea de usar o bem como a ponte para alcançar o mal. Isso não tem espaço no meu cérebro.

Um negro agressivo toma os céus e uma linha da cor da lava corta os mesmos de uma forma negativamente extraordinária que devia me deixar boquiaberto, porém eu apenas aguardava por um ser que nunca tinha visto na minha frente, apenas o via nos meus pesadelos frequentes e nas descrições de várias bocas fofoqueiras. Em seguida uma luz de um fogo azul exala o seu fulgor que parece capaz de cegar os olhos humanos. Fecho os olhos.

Ouço o bater das asas antecipadamente e o som de uma ave gritando, pronunciando palavras dos homens, contudo não compreendo e sem respeito pelo meu opoente que age da mesma forma que eu ou talvez até pior, não me levanto da minha cadeira e continuo balançando com desprezo.

De imediato o ser voador vem com a sua intensa beleza que respira a cor vermelha similar à mesma que circula nas veias de muitos que têm fôlego. O seu bater das asas emite uma venustidade no som apaziguador e em simultâneo assustador. Os seus olhos brilham com uma alternância de cores infernais. Por um momento não consigo pousar os meus olhos nele por tanto fulgor que dele eclode com perfeição na sua vaidosa exibição, uma chegada triunfal, de uma deslumbrante abominação.

Em círculos ele dança no ar sendo a fonte da luz no pequeno espaço onde eu lhe observo chegando para a minha partida.

Vendo ele pousando no interior da minha varanda coloco a óbvia questão só para desfilar a minha classe, gingado como aquele que é superior e que ostenta um desprezo que atinge o ápice do significado da palavra.

— O que faz aqui senhor ave dos fogos e das entranhas da terra?

— Venho fazer o que já se esperava de ser feito. Chegou a sua hora de partir, no entanto antes da sua partida tem de passar de uma etapa caótica.

A ave olha no fundo dos meus olhos tenebrosos e encontra várias similaridades nas profundezas dos mesmos, com os meus atos que exalavam e exalam a imprecação a todos e a tudo que há na face da terra amaldiçoada pelo Homem.

— Qual é o seu nome, seu maldito como eu?

— Meu nome é simples, Vermelho Pombo.

— Eu lhe imaginava como um pombo, mas vejo que é outro tipo de ave.

— Eu sei, muitos malditos acham que eu sou um pombo, porém eu não sou um pombo, mas o meu nome é Vermelho Pombo.

— Prazer em lhe conhecer seu maldito dos infernos.

— Vejo o quão está preparado para o início da sessão da sua morte.

— Vermelho Pombo, eu nasci preparado. Já esperava por um momento como este, então vai logo, começa com essa merda.

Vermelho Pombo olha para mim e em silêncio parece vasculhar na sua mente o melhor começo do que será o meu ponto final. Assim como eu, ele aprecia a arte, então de repente aparece uma espada banhada de uma luz como fogo. Finalmente levanto e digo apontado para a porta da minha casa:

— Posso levar a minha arma?

— Claro, pode sim.

Entro e novamente ouço o som do Vermelho Pombo, agora anunciando a hora do combate final.

†††
Continua

Vermelho PomboOnde histórias criam vida. Descubra agora