A Festa

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Queria ter o privilégio de saber o que foi real e o que minha imaginação foi capaz de fazer. Acordei atordoado com um galo enorme na cabeça e duas palavras anotadas em minhas mãos e tentei me lembrar da noite anterior. Aquela festa arruinara minha casa e os idiotas que estavam nela entornaram praticamente todo o meu estoque de bebidas (quero dizer, do meu pai). Voltando às lembranças, as pessoas chegaram, e começaram a se espalhar pela sala, algumas foram para cima e por incrível que pareça, já tinha gente no banheiro vomitando. As bebidas estavam por todo o lado, o chão estava cheio de terra, a música estava alta (ainda bem que metade da vizinhança tinha viajado junto com meus pais) e já havia pelo menos quinze pessoas se beijando, tudo isso em exatos cinco minutos de festa. Quando achei que ninguém mais viria, apareceu ela. Agora me lembrei! Foi aquela menina de camisa torta com estampa de "I Love Rock 'n roll" que mudou minha noite. Ninguém a conhecia, ela era estranha, mas também era linda.

Seus olhos eram profundos e escuros, sua maquiagem era totalmente negra, o que fazia seu rosto branco parecer mais pálido. Usava botas pretas e acessórios, um tanto incomuns, no pescoço e no pulso. Tinha um piercing no nariz que só a deixava mais sexy. Tinha seios não tão grandes e uma bunda que, bom, chamava atenção. Usava um curto short jeans. Fiquei uns dois minutos parado somente observando a sua beleza, mas então ela fez algo imprevisível. Ela puxou uma garota qualquer perto de onde entrou e deu um beijo que fez todos os meninos bêbados ao seu redor gritarem. Depois, simplesmente largou a menina que estava com um sorriso de orelha até orelha e simplesmente começou a caminhar pela casa, observando os móveis e a arquitetura.

Fiquei me perguntando, por que diabos ela fez isso? Será que ela é lésbica e eu não tenho uma chance qualquer com ela? E por que eu estava daquele jeito? Eu nem sequer conhecia a garota. Então me aproximei dela:

- Aquilo que você fez quando chegou, foi um tanto...

-Excitante? - disse ela sabendo misteriosamente o que ia falar

-Éh, como sabia que eu fiquei...

-Você é homem, não é de duvidar que fosse sentir algo parecido.

-Qual é o seu nome?

-Só as pessoas que merecem, podem saber meu nome.

-E eu não mereço? - Falei com um tom meio safado e me arrependi ter feito isso.

-Por mim você é só mais um qualquer que reparou no quanto eu sou gostosa e não no que eu sou de verdade e, mesmo assim só quer uma noite de puro sexo para no dia seguinte me deixar na cama com uma cara de idiota, enquanto você já está se gabando por ter me comido na noite anterior. Isso responde a sua pergunta? - Fiquei pasmo depois que ela disse isso, mas prossegui.

-O que faz você achar que sou assim?

-Mais uma vez, você é homem, já é um tanto previsível.

-Nem todos são.

-Já tive experiência com bastante deles, e não quero mais saber sobre a natureza deles.

-Ah, então você é lésbica?

-Viu só como você é previsível.

-Eu posso te impressionar. - Logo depois que falei, dei um beijo nela. A princípio, achei que ela me daria um tapa, mas ela foi adiante me correspondendo. Aquele beijo nunca mais irá sair da minha cabeça. Quando paramos, fiquei olhando nos olhos dela. - Então... Hã... Posso saber seu nome agora? - Ela me olhou duvidosamente, mas por fim, pegou uma caneta em uma mesinha próxima e anotou em minha mão.

Não entendi bem o que ela anotou, parecia um enigma com letras e números: L4UR3N PH1L1PS. Depois distingui bem que o seu nome era Lauren, mas o porquê dos números?

-Os números você vai ter que descobrir para que servem. Ah, quase ia me esquecendo, isso é por ter me beijado - Ela me deu um tapa tão forte que provavelmente a marca de sua mão iria ficar por dias.

-Aiii, por que fez isso?

-E isso e por ter feito a coisa certa. - Ela me agarrou pela camisa e foi me empurrando até a parede, e depois agarrou no meu cabelo como se eu fosse um animalzinho que quisesse fugir. Achei que tinha cometido um erro em beija-la e ela ia me matar por isso, mas para minha surpresa, seus lábios melados por causa da manteiga de cacau, se encontraram com os meus e de repente me via em mais um beijo estranho e persuasivo. - Acho que já está na hora de eu ir. - depois que ela falou isso, acho que sem pensar duas vezes faria de tudo para ela ficar.

- Mas você só ficou uns minutos aqui.

- Eu sei, mas já tenho que ir.

- Pensei que uma mulher como você não teria hora para voltar.

- E não tenho, só quero te deixar com o desejo de me ver novamente. Só vou te dar um último aviso. Está se metendo com uma pessoa errada e que possivelmente vai destruir sua vida e provavelmente você não irá ter mais chances de voltar atrás se quiser me conhecer. Então... Tome cuidado com suas escolhas.

- Acho que não me importo de te conhecer. Na verdade, eu me importo em te conhecer.

- Então, tudo bem, bem vindo à lista dos que deixaram a vida ser destruída por algo fútil chamado paixão. Agora, só lhe resta o principal: Decifra-me.

- Eu farei.

Em seguida, ela foi se distanciando de mim, indo até a porta e finalmente desapareceu de minha casa. O pior não foi ter ela ido, embora eu esperando que fosse. Até eu olhar trás. A casa estava simplesmente destruída. Para minha própria surpresa, não me exaltei, só peguei uma bebida forte, me sentei no sofá me lembrando do que acontecera na noite. Aquele beijo, aquelas roupas, aquele corpo, aquela menina. Olhei para minha mão, me perguntando o que eram aqueles números. Sem perceber, estava com um sorriso estampado no rosto, até eu olhar para minha outra mão. Estava escrito "DECIFRA-ME". Aquilo me assustou um pouco, afinal, ninguém a conhecia, ela simplesmente apareceu. De repente, senti algo bater com força em minha cabeça, a dor latejava e eu só conseguia arfar antes de cair no chão desmaiado.

Sonhei com tudo o que aconteceu na noite anterior, mas só uma coisa perturbava os meus sonhos: "DECIFRA-ME".

Decifra-meOnde histórias criam vida. Descubra agora