Depois do constrangimento, Lauren se desculpou e foi embora, enquanto eu fiquei para ouvir um sermão tradicional dos meus pais. Meus pais eram um tanto tradicionais com relação a sexo. Sempre me aconselharam a fazer após o casamento e blá, blá, blá... Porém não foram tão exemplares em suas adolescências. Meu pai sempre foi mulherengo e chegou a namorar cinco garotas ao mesmo tempo. Adorava ménages, orgias e tudo o que envolvesse as palavras prazer e carne. Minha mãe já não era tão inclinada ao prazer do sexo, embora tenha ficado grávida de mim aos 15. A Sra. O Neil gostava de bebidas que a deixasse tonta em 5 segundos e uma erva que a fizesse viajar, e não eram metros ou quilômetros. Embora tivessem feito tais coisas na juventude, queriam que eu fosse diferente e exemplar e, eu não os decepcionava... Pelo menos não quando eu sabia guardar bem meus segredos.
Eu olhava para o alto focando no rosto do meu pai. Meu pai tinha pelo menos um metro e noventa. Seu cabelo era escuro e seu rosto de 40 anos tinha um formato quadrado, seus olhos cinzentos transmitiam uma intimidação fora do comum e sua face se convergia a uma expressão de desaprovação. Minha mãe, ainda impressionada, tampava a boca com as mãos. Ela aparentava ter uns 36, embora estivesse com apenas 32 anos. Usava o cabelo loiro a altura dos ombros para aparentar ser mais jovem. Seus olhos eram azuis e era dez centímetros mais baixa que o meu pai. Eles formavam um casal feliz, típico da falsa família americana.
- Onde você estava com a cabeça, Carl O Neil? – perguntou meu pai com total desprezo ao dizer meu nome – O que já te dissemos a respeito a sexo?
- Sempre usar camisinha? – respondi tentando aliviar a tensão, o que não funcionou muito...
- Que tal eu usar o cinto como correção a sua atitude irresponsável?
- Perdão... – eu abaixei o rosto, transmitindo arrependimento.
Meus pais já sabiam de algumas de minhas loucuras como o sexo, drogas e outras coisas. Algumas vezes para evitar um confronto e desestabilizar a relação pai e filho fingiam esquecer ou não saber do ocorrido, e eu até que gostava, porém na maioria das vezes isso me fazia sentir a falta de um contato entre meus pais. Eles sempre tentaram de alguma forma se achegar a mim para algum tipo de conversa séria, porém isso só estranhava mais ainda os fatos que por si somente eram delicados. Eu não confiava neles nem eles em mim.
- Você deve ser o exemplo para as pessoas lá fora! Como espera que sejamos considerados a melhor família do bairro?! Isso é uma discórdia para nossa família! Algum vizinho viu esta menina entrar ou sair? Há quanto tempo ela está aqui?!
- Nenhum vizinho a viu, eles estavam na viagem com vocês. Ela veio pela manhã, é uma amiga.
- Uma grande amiga pelo que acabamos de ver! Você nem ao menos se privou de ir ao quarto!
- Jhon, deixe o Carl, já passou. Se nenhum vizinho a viu já é o suficiente. Isso não vai se repetir novamente, não é mesmo Carl? – disse minha mãe
- Sim senhora. E mais uma vez peço perdão, Jhon... – Jhon é o nome do meu pai. Mary o da minha mãe. Nunca os chamei por pai e mãe. Deixei de chamá-los assim aos 8 anos, quando comecei a ter minhas decepções intrafamiliares.
Meus pais nunca foram de muitos sentimentos. Sempre bem sistemáticos e perfeccionistas quanto à educação, formalidade, negócios, família, etc. Quando os mostrava algum desenho da escola eles olhavam e diziam que podia melhorar, fazendo correções e comentários a respeito e eu apenas aceitava indo direto ao meu quarto. Eles me privavam de chorar, diziam que isso não traria nada para mim. Pôde ter sido rude na época, entretanto só me trouxe mais força para enfrentar problemas. Não posso negar que são bons negociadores. Trabalham juntos como casal para uma empresa fazendo alianças, parcerias e negociações com outras empresas. Bem sucedidos na carreira e uma família conturbada e fria. Esses são os O Neil de Millenville.
- Acho bom que isso não aconteça novamente e que esteja arrependido. Agora já para o quarto. Eu e sua mãe temos muitas coisas a resolver.
- Tanto faz... Já estava a caminho de ir pra lá mesmo.
Subi as escadas lentamente com o celular em mãos olhando as novas notificações.
Jim vai dar uma festa na próxima sexta-feira
Audrey curtiu 18 fotos sua
Melissa minha ex mandou uma mensagem: oi
Desconhecidos mandaram várias mensagens dizendo: a festa foi incrível
E uma nova solicitação de amizade: Lauren Phillips
Lauren. Eu não me despedi dela. O que havia acontecido fora totalmente constrangedor. Não poderia ser pior, começar uma quando seus pais voltam de viagem mais cedo do esperado. Aceitei o convite de Lauren sem pensar duas vezes. Precisava falar com ela, praticamente nunca tivemos uma boa conversa não pelo menos como amigos. Fora que eu precisava perguntar certas coisas como quem ela estava beijando, o que significa tudo isso, o jogo, decifra-me... Eu estava confuso, ela me confundia e tomava boa parte dos meus pensamentos. Audrey estava certa, ela só vai me trazer discórdia, mas isso também é necessário algumas vezes. Audrey! Eu tinha me esquecido completamente dela também.
Audrey estava completamente diferente comigo e eu não conseguia evitar a preocupação. Precisava ajuda-la de alguma forma e se o problema era comigo, certamente eu devia arrumar. Mandei uma mensagem para Audrey, Lauren e para Melissa, respectivamente: Oi, td bem? Estou preocupado, me liga., Eai, td bem? Desculpa por hoje, aquilo foi vergonhoso kk., Some da minha vida, piranha.
O dia passou rápido. Meus pais mal ficaram em casa, disseram que precisavam ir para o trabalho resolver um problema e que aquela fora a causa de voltarem. Tinham recebido uma ligação em meio a viagem da secretária de seu chefe dizendo que uns arquivos a respeito deles havia sido comprometido, ou algo parecido com isso. Os outros vizinhos continuaram em seu lazer, enquanto o meu acabava mais cedo, junto ao dos meus pais. Mas que porra de secretária!, pensei. Por fim antes de saírem pediram para que eu tomasse conta da casa, me puseram de castigo por uma semana e foram embora. Perfeito! Cuidar da casa sozinho e de castigo sem sair para qualquer espécie de lugar a não ser a escola que, aliás, as aulas começariam na semana seguinte. O domingo não poderia ser pior. Tranquei-me no quarto e ouvi música para afastar os pensamentos e problemas da minha vida. A música era meu escudo contra o mundo e até de mim mesmo. Fechei os olhos e deixei o ritmo me levar para longe da cama, do quarto, de casa e de mim mesmo. Onde quer que eu estivesse, me livrou de todas as preocupações e problemas, aliviou meus ombros e trouxe um alívio estarrecedor, incluindo um sono de surpresa. Enfim acordei pela noite com celular vibrando na minha mão. Audrey estava me ligando. Atendi de imediato e do outro lado da linha ouvi uma garota meio chorosa.
- Me encontra em frente à pracinha.
- Audrey eu não posso, estou de castigo e meus pais já ligaram o alarme.
- Bom, então parece que vou ficar a madrugada inteira sozinha por aqui.
- Não Audrey, você vai para casa e vai descansar. Mais tarde nós conversamos. Manda uma mensagem quando chegar em casa.
- Carl, você não entendeu? Eu preciso de você... Preciso agora!
- Audrey, o que está acontecendo? Você está diferente. Você bebeu?
- Não, eu não bebi, odeio bebida... – um silêncio se instalou seguido do barulho de uma golada – Tá... Eu tô bebendo.
- Eu tô indo aí...
- NÃO! Não precisa mais, eu vou sozinha. – a partir do momento em que ela me disse a palavra sozinha entendi o recado. Quando Audrey mudava de ideia, era definitivo, não havia quem a fazia voltar atrás.
- Audrey, amanhã nós precisamos conversar.
- Se eu quiser!
- Você vai querer.
- Veremos!
- Toma cuidado para voltar
- Eu não tô bêbada. Consigo ver tudo direito.
- Tudo bem. Até amanhã.
-Te mando uma mensagem mais tarde.
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Decifra-me
RomanceCarl é um garoto de 17 anos, parcialmente tímido que só quer se enturmar, mesmo não sendo do perfil dele fazer as loucuras que as pessoas ao redor dele fazem. Porém ele conhece uma garota diferente, independente e misteriosa que mudará qualquer aspe...