O Jogo Começa

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Logo após me lembrar de tudo o que acontecera na noite, entrei em desespero. A casa simplesmente estava bagunçada. Os vasos de minha mãe viraram pó, a casa fedia a urina, vômito e álcool. Fiquei parado por um tempo pensando em como arrumaria tudo. Para minha sorte, meus pais estavam viajando por um mês, ou seja, teria umas 3 semanas para comprar novos vasos, toalhas, cortinas, almofadas, mármore, comida, sofá... Enfim, uma casa nova! “Calma Carl, vai ficar tudo bem, você vai conseguir se livrar da morte”, pensei, mas duvidava muito dos meus pensamentos naquela hora. Só conseguia sentir o ódio desenvolver de todos aqueles idiotas que destruíram minha casa.

-Carl, você tá aí?! Sou eu, o Jim. – Jim era o meu “melhor amigo”, ou ao menos o que ele pensava, pois em meus conceitos o “melhor amigo” nunca transa com sua namorada no seu quarto em sua festa de aniversário. Porém, Jim era o único “amigo” que eu tinha (consequência de não fazer tantas amizades). Portanto continuei falando com ele, mas obviamente nunca esquecendo o que ele fez (eu sei, podem me chamar de idiota). – Nossa isso aqui tá uma merda! Aí Carl, que festa a de ontem hein, precisa dar outra festa dessas, só que pensa um pouco com o que acontece depois. Haha.

Jim era o típico menino que tinha olhos para si, só por ter um cabelo castanho franjado tampando a testa, olhos azuis, aparelho, um físico relativamente bom e meninas sem um mínimo de inteligência ao seu redor. Resumindo, ele era um qualquer que se misturava com outros quaisquer. Tornamo-nos amigos porque eu era novo no colégio e ele era o popular que repetiu duas vezes a mesma série no ensino médio, então ele me percebeu e me fez ter a primeira namorada (que terminou comigo depois de duas semanas). Por esse motivo ele achou que eu deveria ser amigo dele e infelizmente, acabei “sendo”.

-Éh, muito engraçado, haha, agora me ajuda com toda essa sujeira? Se é que isso merece ser chamado de sujeira. – disse com um tom de cansaço.

-Olha não se preocupa, eu tenho outros amigos que podem ajudar, eles meio que vão dar uma geral na casa. Eles estão devendo um dinheiro para mim...

-Andou vendendo drogas de novo?

-Que foi? Preciso fazer dinheiro. Mas continuando, eles vão comprar o que for preciso. Tem algumas fotos de como era a casa antes da destruição? – Por uns minutos, achei que não, mas logo me lembrei da mania doida de minha mãe. Ela tirava fotos como uma maníaca depois que fazia uma nova “arrumação” na casa. Nunca achei que iria ser salvo por aquela maluquice.

-Tenho, mas como esses seus amigos vão fazer tudo?

-Cara, eles compraram quilos de droga comigo, e a maioria trabalha na obra naquela rua perto da minha casa. – A casa dele ficava muito longe, e eu me pergunto até hoje, onde ele arranja tanta droga para vender. – E também não se preocupe. Você não deve nada pra mim. Aceite como um favor e perdão por aquela noite na sua...

-Tá ok. Acho que já entendi. Obrigado – Falei com tanto sarcasmo que fiquei com medo dele perceber, mas como ele era muito cheio de si, me aliviei por lembrar que era praticamente impossível ele perceber. – Então tá cara. E... Hein, você conhece alguma Lauren Philips?

-É gostosa? – Pensei um pouco antes de responder, e optei por mentir, afinal, eu não queria meu “amigo” transando com outra menina de quem eu estava afim.

-Não.

-Então acho que não. A não ser que seja uma menina nova no bairro, ouvi dizer que uma família nova se mudou para a casa dos Smith. Mas não cheguei a conhecer quem são.

-Beleza. Vou procurar por ela. Cuida da casa para mim. – Desejei ter refeito aquela frase, mas se Jim estava se referindo seriamente sobre “reformar” a casa, eu não tinha escolha. Antes de sair, tomei um banho, o mais demorado possível, com cuidado para não tirar as letras e os números, ainda me incomodava a possibilidade de aquilo ser importante. Depois de me vestir, corri em direção à porta e fui impetuosamente à casa dos Smith. Não ficava muito longe de minha casa, porém me cansei fácil, considerando que dormi no chão e em meio a uma sujeira incomparável. Chegando à casa dos Smith notei que muitas coisas ainda estavam encaixotadas na varanda. A casa era velha, entretanto os novos moradores já estavam começando a pintar, cuidar do jardim, renovar a madeira e as demais coisas que são feitas quando mudamos. Estava começando a entrar quando estranhei os números da casa. Tinha visto aqueles números em algum lugar e então me lembrei dos números em minha mão: 4311. Enfim, tive a certeza de onde Lauren morava. Apertei a campainha com o coração pulsando o mais rápido possível. Minhas mãos tremiam e eu transpirava incansavelmente.

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