I

37 2 0
                                    


Era uma manhã quente, a qual fez Helena se atrasar pois não resistiu em enfrentar uma pequena fila no Starbucks para comprar chá gelado. Assim que pisou seus all-stars surrados na delegacia, se deparou com Betina encostada em sua mesa, de braços cruzados encarava a jovem com as sobrancelhas juntas. – Qual a desculpa dessa vez, doutora? – perguntou em um tom seco sem tirar os olhos dela. Helena apenas sorriu, mostrando suas covinhas e levantou o copo para mostrar o chá, como uma criança orgulhosa de seu feito – Estava calor, e eu com fome. – respondeu em um tom travesso, consideravelmente provocativo, levando em conta o jeito dominador de Betina. Enquanto bebericava o chá passou pela colega de trabalho e se sentou em sua mesa, preguiçosamente, aproveitando que no ambiente só havia as duas, colocou os pés na mesa e continuou a se deliciar com o líquido.

Betina observava os movimentos de Helena e assim que ela se sentou, pegou uma pasta amarela e jogou em cima de suas pernas, as quais dependuravam na mesa – Ela atacou novamente – disse enquanto virava as costas e se dirigia à sua sala. Em um salto Helena arregalou os olhos, quase se engasgando com seu tão adorado chá, apanhando a pasta e deixando o copo em cima da mesa, seguiu Betina aos passos atrapalhados. – Como assim? – perguntou incrédula – É a terceira vez, só essa semana... – enquanto abria a pasta, se deparava com a nova denúncia sobre a mulher desconhecida que estava envolvida com furtos de joias e contas bancárias de senhores. – Ela parece estar brincando conosco, não estou gostando disso, e é você quem precisa dar um jeito – Betina estava imponente sentada em sua cadeira preta de couro, batucava os dedos na mesa impaciente, seus cabelos negros lhe caiam pelos ombros, e seu maxilar pálido estava rígido, era notório que estava brava com toda a situação, inclusive a do atraso da colega de trabalho, geralmente nos turnos da manhã ficavam apenas as duas sozinhas, o que intimamente mexia com a criatividade de Helena, pois já aconteceram situações de flerte nessas ocasiões. Entretida com a papelada, gaguejou um nome rabiscado em um papel com um telefone abaixo – Pa..Pablo?- leu em tom de pergunta .- Sim, essa foi a última vítima – respondeu a delegada, enquanto puxava levemente seu notebook para próximo – O telefone está ai, e o endereço também, ele veio aqui ontem à noite notificar o sumiço de alguns pertences, o Neto escreveu tudo aí, como pode ver nas outras folhas, e bem.. agora é com você – Após Betina terminar de falar, deu uma leve piscadela e deu um sorriso de canto, apesar de achar Helena "apenas uma garota comum", confiava em seu lado profissional.

Helena assentiu com a cabeça depois de receber e pequena enxurrada de informações, com um suspiro, voltou a encarar a pasta e saiu de cabeça baixa, voltou para sua sala pegando sua mochila, a qual estava jogada ao lado de sua mesa e olhou para o chá, motivo de sua bronca primária e também de seu atraso, coçou a cabeça um pouco indecisa, mas o pegou e saiu da sala, arrumando a mochila no ombro, e colocando seus óculos escuros, ainda olhou para trás e deu um sorriso, afinal, seria um dia bom de trabalho. 

PONDO A RAZÃO DE LADOOnde histórias criam vida. Descubra agora