5. Lamúria

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 Olhar vazio e fundo, terno amarrotado, rosto pálido e magro...

Era tudo o que ele via em frente ao espelho do elevador enquanto esperava seu andar chegar.

Dois anos e três meses foi o que veio em sua mente.

Sentira um leve frio na barriga e seu corpo inteiro estremeceu com as primeiras lembranças da filha. Ainda conseguia se lembrar do dia em que ela veio ao mundo e do sorriso mais bobo que surgiu quando a viu pela primeira vez.

Tudo dentro dele apertava. Dois anos e três meses atrás ela ainda conseguia sorrir. Ele ainda podia recordar do quanto se gabava para seus amigos de que ela era uma criança tranquila, de que nunca dera trabalho mesmo antes da mãe tê-los deixado e sobre ser tudo o que tinha.

Sua visão começou aos poucos a ficar embaçada depois de surgirem as primeiras lágrimas. Havia poucas memórias de vê-la chorando, mas lembrava de desdenhar de todas elas e de ter gritado que ela nunca sofreria como ele, de que nunca passaria pelo que passou.

Um grito contido e a respiração passou a ficar acelerada. Todo seu corpo pesou ao pensar em todas as vezes que ele a obrigou tomar decisões que ela nunca quis tomar, mas que nunca teve coragem de contradizer.

Todos os momentos em que disse que tudo era para o bem dela começaram a ecoar incessantemente em sua cabeça e ele chorou ainda mais. Não teria a forçado a fazer tudo aquilo se soubesse dos eventos que se sucederiam.

Dois anos e três meses se passaram e ainda conseguia sentir todas aquelas sensações.

Dois anos e três meses desde o fatídico dia em que ele encontrou o corpo de sua filha sem vida no chão frio do banheiro.

― O que eu fiz?

Foi tudo o que ele conseguiu dizer antes das portas do elevador se abrirem. Respirando fundo e tentando cessar o choro, olhou-se pelo espelho pela última vez e dali saiu a passos lentos.

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