"Nós nunca conversamos sobre vocês dois, sobre mim..."

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Em uma certa noite, Sarada jantou e foi para o quarto após se despedir dos pais. Entrou no banheiro e escovou os dentes, logo vestindo o pijama e se deitando à cama. Retirou os óculos e os repousou à mesa de canto, fechando os olhos. Os abriu minutos depois ao sentir que o sono não vinha. Foi um fato inédito, ocorrendo pela primeira vez em semanas.

Tentou outra posição, de lado, mas não adiantou. Resolveu então ir até o quarto dos pais, pois já deviam estar deitados. Se sentou e pegou os óculos, os encaixando atrás das orelhas, enfiando os pés nas pantufas de coelhinho que sempre estavam próximas à cama, e saiu do quarto.

A casa estava silenciosa. Andou calmamente até o quarto e ao abrir a porta com cuidado, notou que um dos pais não estava. Suspirou aliviada, pois tinha medo de ter que acordar um dos dois, mas como havia um deles desperto, poderia pedir a ajuda que precisava. Fechou a porta suando frio, não queria que soubessem que estava ali. Caminhou pelo corredor e desceu as escadas, vendo a luz e ouvindo o barulho da televisão da sala, percebendo um corpo bem maior do que o dela sentado no sofá.

Suspirou novamente, mas dessa vez era diferente. Apesar de carinhosa e madura com tão pouca idade, Sarada não gostava de pedir por carinho ou o que fosse. Gostava das coisas de forma espontânea, não lhe agradava a ideia de receber um cafuné por exemplo se fosse pedido.

Ao se aproximar, notou o pai olhá-la quase assustado, pois certamente não a esperava ali.

— Sarada?

— Oi, pai...

— O que houve? Por que não está dormindo? — Indagou Sasuke curioso.

— Não sei, não estou conseguindo... — Respondeu entristecida, logo sentando-se ao lado dele, que a fitou mais intensamente nos olhos.

— Já é muito tarde... Quer tomar alguma coisa? Um leite quente? — Sugeriu, já pronto para levantar-se e ir à cozinha preparar a bebida.

— Não, eu... Eu queria que você me colocasse para dormir... — Confessou com as bochechas rubras, arrancando um sorriso pequeno e sincero de Sasuke.

— Sabe quem é melhor do que eu nisso?

— O papai?

— Sim. Ele sabe contar histórias, descrever os detalhes, cantarolar... Eu... Eu sou horrível nisso.

Sasuke sabia que havia mudado e muito desde que se tornou adulto, mas era sincero consigo mesmo sobre todas as coisas que o rodeavam, além de seus sentimentos e habilidades. Possuía a plena ciência de que não era bom em fazer alguém adormecer, mesmo que fosse a filha que amava tanto.

— Mas, pai... Eu... Eu amo o papai Naruto, mas sou tão mais parecida com você... — Revelou, deixando Sasuke interessado naquela conversa, pois ela nunca havia mencionado tal coisa. — Você não acha estranho? Quero dizer... Eu sou mesmo filha de vocês dois?

— Sarada, me desculpe, mas assim você nos ofende... Me ofende, para falar a verdade. — Disse curto e grosso, tentando não demonstrar o quanto se sentiu mal com aquelas palavras.

— Oh, me desculpa, pai, eu não tive a intenção... Nós nunca conversamos sobre vocês dois, sobre mim... — E então, Sasuke entendeu o que se passava na cabeça dela.

Era normal querer saber mais sobre a própria história, ele mesmo já tivera aquela curiosidade, mesmo sabendo detalhes que transformaram a sua vida em uma tragédia. Antes de todo o horror acontecer, ele e Itachi eram muito amigos, mesmo que o mais velho sempre estivesse ocupado consigo mesmo. Várias e várias vezes perguntou a ele sobre si, a história de seus pais, como tudo havia acontecido.

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