Prólogo

121 11 15
                                    

Manuel Gutierrez

Healdsburg, California.

O sol brilhava logo cedo, adentrando pelas brechas das persianas que eu havia esquecido de fechar na noite anterior, iluminando o meu rosto e me forçando a despertar.
Bocejei cansado e me sentei na cama, espreguiçando e bagunçando os cabelos ao me levantar e caminhar descalço até o banheiro. Alcancei a escova de dente e o creme dental e encarei meu reflexo no espelho, antes de colocar a escova na boca e retirar a calça do pijama, entrando na ducha logo em seguida.


Era a manhã de uma quinta-feira, e eu gostava das quintas feiras, a maioria das aulas do dia eram toleráveis. Tinha aula até às três da tarde, e após isso ainda tinha que estudar para as recuperação de álgebra e física. Bufei, frustrado. Sempre fui muito estudioso, costumava ser o aluno favorito da maioria dos meus professores, mas com tudo o que aconteceu no fim do ano anterior, acabei me tornando uma pessoa diferente. E gostava disso, gostava desse novo Manuel mesmo que as outras pessoas não gostem.

Desliguei a ducha, e alcancei a toalha, me sequei brevemente e abri o guarda roupa, em busca de alguma roupa para vestir. Por fim, vesti jeans escuro, camiseta e a velha jaqueta de couro. Chequei o horário no celular e caminhei até a cozinha, tinha tempo para comer alguma coisa antes de sair, e ainda chegaria a tempo no colégio. Não é como se realmente me preocupasse com isso, mas era importante para minha mãe, então, ainda tento ter o mínimo de responsabilidade.

— Mãe? — Chamei, esperando em silêncio para ouvir alguma resposta dela. Em cima da bancada havia um prato, com sanduíche coberto por plástico filme e um pequeno bilhete colado.

"Tive que sair mais cedo, desculpe não esperar você acordar. Beijos, mamãe."

Suspirei outra vez. Sempre foi apenas mamãe e eu, ela teve alguns namorados mas ninguém nunca permaneceu. E desde que me teve, tudo o que fez foi trabalhar, e estudar, para que tivéssemos uma boa vida.

— Acho que somos só nós dois, Meia-noite. — Disse, afagando o meu gato preto de estimação, que dormia tranquilamente na cadeira em frente a bancada.

Após tomar o café, e colocar as louças dentro da pia, alcancei a chave da moto e deixei o apartamento, antes checando se havia água e comida o suficiente para Meia-noite, e se minha mãe não havia se esquecido de regar as plantas.

Subi na moto e deu partida, pegando a avenida em direção ao colégio. Costumava amar o bairro em que cresci, na pequena Healdsburg, amava o fato de praticamente todo mundo se conhecer, serem tão cuidadosos e solidários. Mas agora acho que são apenas curiosos e fofoqueiros, todos eles. Não há uma única coisa que aconteça que eles não saibam. E eu não escapei das fofocas, e dos olhares de pena depois daquele dia. Não vejo a hora de me formar na Dolphin High school e sair dessa cidade. Ela será para sempre uma maldito lembrete do acontecimento de meses atrás.

Não quero a pena dos cidadãos de Healdsburg. Eu sou muito mais do que um adolescente idiota de coração partido, mas isso é tudo o que eles vêem.

Estacionei a moto no estacionamento do colégio e retirei o capacete, assumindo uma expressão severa ao adentrar no colégio, atravessando o corredor. Grande parte dos transeuntes pararam para me olhar, e cochichar, e eu fiz o que fui obrigado a aprender, os ignorei. No início, não havia sido fácil, eu abaixava a cabeça, e a vergonha tomava conta de mim, com o tempo eu percebi que se eu mascarasse a minha timidez, e não desse brecha para conversa, usando a minha melhor expressão fechada, eles não teriam coragem de falar comigo.

E isso era bom. Eu não tinha amigos, não gostava de nenhum daqueles estudantes. Não há nada mais insuportável do que colegiais que se acham superiores, por terem mais grana, ou um carro bacana, ou por fazer parte de algum clube idiota.

Don't say you love meOnde histórias criam vida. Descubra agora