• Capítulo 8 •

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Aqui estava eu, em mais uma quarta feira.

Por motivos pessoais o professor Winston teve que adiantar sua aula de educação física para o terceiro período, ele avisou todos por email na segunda feira. Sendo assim, agora era a última aula antes do intervalo.

Ele não parecia se importar muito com o que os alunos estavam fazendo, apenas passou a mesma atividade da semana anterior, 10 voltas na quadra.

Eu estava na terceira volta quando uma sensação estranha me fez parar bruscamente. Eu olhei ao redor e me vi naquele dia, na mesma cena, tudo se repetindo. Era como um dejavu, nesse momento Nia e suas amigas passavam por mim lançando o mesmo olhar da última vez. O que vinha a seguir vocês já sabem...

Meu coração começou a acelerar e minha respiração, antes já ofegante pelo exercício, agora estava frenética e descompassada. Não, aquilo não era cansaço pela corrida, era o início de uma crise de pânico.

Eu costumava ter esses ataques aos meus 12 anos, normalmente quando me sentia pressionada com provas e trabalhos do colégio ou quando me sentia culpada e sufocada durante as incessantes brigas dos meus pais. Um ano de visitas frequentes ao psicólogo me ajudaram passar por essa fase e desde de então, eu estava bem. 

Mas por que? Por que isso agora?

Uma das coisas que costumavam funcionar era me concentrar na respiração. Eu tentei, mas de nada adiantou. Sentia meu corpo trêmulo e fraco, caminhei com dificuldade até o professor e juntei minhas forças para falar.

— Sr. Winston, não estou me sentindo muito bem.

Tudo bem, querida. Vá para o vestiário e descanse – ele disse sem dar a mínima atenção para o meu estado.

Mesmo indignada com o descaso, assim o fiz. Andei lentamente até o vestiário e me sentei no primeiro banco que apareceu. Nessa hora, lágrimas já rolavam involuntariamente pelo meu rosto, odeio como eu perco o controle das coisas durante essas crises. Eu me sentia a garotinha fraca e indefesa que eu era aos 12 anos.

E tudo isso por que? Porque uma garota achou que poderia fazer o que quisesse comigo? Achou que poderia roubar minhas coisas por pura implicância? Achou que poderia invadir minha privacidade indo até a minha casa entregar as roupas totalmente estragadas? 

Pois se ela acha que depois de tudo isso, vai sair impune, está muito enganada.

Após alguns minutos eu consegui retomar o ritimo da respiração e com isso, a sensação de frio do pânico foi dando lugar ao calor do ódio.

Passei o final de semana inteiro pensando em algo para me vingar, porém não achei nenhuma idéia à altura. Mas se tem uma coisa que eu sou muito boa, essa coisa é improvisar.

Primeiramente fui atrás das roupas da Nia, vou começar pagando na mesma moeda.

Ela não é tão burra quanto eu de deixar as roupas assim, dando sopa por aí. Mas também não é tão esperta pois elas estavam dentro de sua bolsa, na frente de seu armário.

Minha reação foi pegar a primeira peça - que deduzi ser uma camiseta - e nela descontar toda a minha raiva. O que Nia havia feito com uma tesoura, eu fiz com as minhas próprias mãos. O som do pano se rasgando era combustível para meu subconsciente sedento por vingança.

Não me contentei com uma única peça, peguei também sua calça jeans que, por ter rasgos propositais na altura do joelho, facilitaram o meu trabalho.

Mesmo com toda aquela destruição, eu ainda não estava satisfeita. 

Fui até a minha mochila, buscando outra possibilidade de dar o troco. Por sorte, ou azar, eu carregava uma tinta para a aula de artes de amanhã, e também uma cola especial para EVA que a professora havia solicitado. Não pude conter o sorriso malicioso que surgiu ao lembrar do shampoo que eu vi na bolsa da Nia.

If You Don't Know • 5SOS (pausada)Onde histórias criam vida. Descubra agora