Capítulo 1

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Capítulo 1: O Primeiro Sonho

Yuri Monteiro estava caindo. O vento cortava sua pele, assobiando nos ouvidos, enquanto o chão se aproximava com uma velocidade aterrorizante. Ele sabia que não sobreviveria ao impacto, mas ao invés de pânico, uma estranha calmaria o envolvia. O que estava acontecendo?

Ele olhou ao redor e percebeu que as cores ao seu redor eram mais vívidas, quase surreais. O céu, antes azul, agora era uma mistura de roxo e dourado, e as nuvens pareciam feitas de tinta, pintadas por algum artista distraído. Tudo parecia errado, mas ao mesmo tempo, incrivelmente nítido.

Foi então que ele se deu conta: ele estava sonhando.

"Isso é um sonho", sussurrou para si mesmo, tentando controlar sua respiração. Nunca antes ele tinha experimentado algo tão real em um sonho. Ele sentia o vento no rosto, a gravidade puxando-o para baixo, e mesmo a batida acelerada do seu coração. Tudo parecia palpável, tangível.

Antes que pudesse processar mais, o chão desapareceu. Ele não estava mais caindo. Agora estava de pé em uma vasta planície coberta de névoa, tão densa que mal podia ver os próprios pés. No horizonte, sombras distorcidas se moviam, mas ele não conseguia discernir o que eram.

"Yuri..." Uma voz feminina ecoou ao seu redor. Era suave, mas cheia de autoridade.

Ele girou sobre os calcanhares, buscando a origem da voz, mas não havia ninguém.

"Quem está aí?" gritou, sua voz reverberando no vazio. A sensação de calma começou a desaparecer, dando lugar a uma inquietação crescente.

"Você precisa se lembrar... está tudo nas suas mãos."

Antes que pudesse perguntar o que aquilo significava, a névoa começou a se agitar violentamente, como se fosse viva. As sombras no horizonte ficaram mais claras, revelando figuras altas e magras, com olhos brilhantes, observando-o de longe. Ele sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

"Lembre-se de quê?" Yuri perguntou, sua voz falhando enquanto as figuras se aproximavam, seus corpos distorcidos na névoa como se não fossem completamente sólidos.

A voz não respondeu. No lugar disso, o chão sob seus pés começou a tremer. As figuras avançavam mais rápido agora, e a escuridão as cercava como um manto. O medo tomou conta de Yuri, e pela primeira vez ele quis acordar, sair daquele sonho bizarro.

"Eu quero acordar..." ele murmurou, fechando os olhos com força. Mas nada aconteceu.

As figuras estavam quase em cima dele agora. Seus olhos brilhantes pareciam perfurar a alma de Yuri. Ele tentou correr, mas seus pés estavam presos no chão, como se fossem parte dele. O pânico subiu como um maremoto.

No último segundo, quando as sombras estavam prestes a tocá-lo, tudo desapareceu.

Yuri acordou de repente, arfando, o corpo coberto de suor. Seu quarto estava escuro e silencioso, mas seu coração ainda batia freneticamente. Ele olhou ao redor, confuso, tentando se reorientar. A sensação de estar em perigo era tão forte que ele demorou alguns minutos para perceber que estava seguro, em sua cama.

Mas o mais estranho de tudo era que, ao se levantar, ele notou algo em sua mão. Um pequeno fragmento de tecido cinza, idêntico à névoa que ele havia visto no sonho.

Memórias de um sonhadorOnde histórias criam vida. Descubra agora