O Titã

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Não houve questionamentos sobre decisão de irem todos para a aeronave dos Vingadores Secretos. Sam ajudou a levar Visão até lá, enquanto Bucky carregava Wanda em seus braços. Depois poderia se preocupar com seus pertences ainda no hotel, pois existiam questões mais urgentes ali, como o ferimento na coxa da Feiticeira. Colocou-a quase deitada nos assentos laterais do interior da nave, inspecionando a gravidade da ferida. O pedaço de tecido da blusa que havia amarrado nela para estancar o sangue já estava empapado, portanto ele trocou a bandagem e cortou um quadrado da calça jeans de Wanda para que pudesse manejar melhor a situação. Para diverti-la enquanto ela fazia uma careta de dor, Bucky refletiu em voz alta:

— Será que Natasha guarda alguma garrafa de vodka aqui? Seria algo para desinfetar esse machucado.

— E também para você tomar uns goles, huh?

Ele não negou.

Com a nave já no ar e rumando para fora da área onde a luta se desenrolou, Natasha aproximou-se com um bafejo irritado, jogando o kit de primeiros socorros no colo do soldado. O motivo de seu estresse, porém, não era o gracejo tolo de Barnes sobre álcool. Na realidade, Natasha fixou seus olhos em Wanda, enquanto ela usava de sua própria magia para atenuar o ferimento para um corte superficial.

— Achei que tínhamos um acordo. — Disse. — Ficar perto, reportar. Não se arriscar.

— Eu esqueci.

Wanda baixou os olhos, um tanto envergonhada. Custava-lhe admitir que havia esquecido do combinado devido as aventuras em países diferentes com o Soldado Invernal. Isso a fazia se sentir uma adolescente tola e apaixonada, mas ela já tinha passado dessa fase. Comemorara vinte e quatro anos no mês passado.

Ainda que acanhada, não sentia culpa. James Barnes podia distinguir tal coisa em seu meio sorriso.

No entanto, não foi a voz de Bucky que se interpôs ao favor da feiticeira. Foi uma voz mais cadenciada e polida, desprovida de toques humanos: Visão.

— Não a culpe, senhorita Romanoff. — Ele piscou, sentado do lado oposto onde estavam. Próximo de seu corpo sintético, estava o Falcão; que lançou um olhar um tanto cauteloso à James Barnes. — Wanda só ficou em risco por minha causa.

Afinal, algo que Bucky poderia concordar com aquele sintozóide de cores natalinas.

— É, exatamente.

Para quebrar o frio gélido que a afirmação do Soldado trouxera, Sam optou por continuar falando; oferecendo em seguida uma explicação para justificar a razão para os três estarem ali exatamente numa hora tão necessária:

— Viemos o mais rápido possível. Já estávamos estacionados acima de Glasgow. Depois que soubemos o que houve em Nova York, decidimos conferir como estavam... e fizemos bem.

— É. — Nat concordou. — A notificação de alerta veio logo em seguida.

Wanda soltou um suspiro, seus ombros enfim relaxados.

— Chegaram na hora certa.

Houve um momento de quietude, quebrado somente por Steve Rogers. Ele tinha ajeitado os comandos da aeronave até então, mais silencioso do que Bucky o conhecia. Algo o incomodava, isso era claro. E talvez seu amigo já soubesse o que era - ou quem era - antes mesmo de ouvi-lo falar:

— Visão. Alguma notícia do Tony?

— ...Não.

Ele inspirou fundo, passando as pontas dos dedos levemente na barba e depois apoiando as duas mãos na cintura. Engoliu seco, ensaiou um pensamento na boca e em seguida se calou. Ninguém disse nada e não era necessário. Todos sabiam o que Tony significava para Steve - ou para a equipe inteira! - e como ainda partia-o por dentro não ter uma conversa decente com seu amigo após o que houve na Sibéria, depois de descobrir o que houve com... Maria e Howard Stark. Céus, tinha sido terrível. Bucky se recordava de forma recorrente o rosto de Stark ao assistir o vídeo do assassinato de seus pais, o horror pungente em seus poros e o brilho da traição em seus olhos. Steve sabia o que tinha acontecido e não tinha lhe contado.

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