Apenas um momento

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24/04/2018

Birnin Zanna, Wakanda

06:58

Sonhos movimentados e confusos ainda escorriam da cabeça da Feiticeira Escarlate quando acordou de seu sono, deitada de forma desajeitada sobre um dos bancos da aeronave e apoiada em James Barnes. Ela levantou o torso em um único tranco, seus íris vermelhas e o corpo exausto, ainda que desperto. Os sonhos tinham escapado dos limites de seu crânio, mas ela ainda conseguia sentir o gosto metálico de sangue, de terra.

Bucky sentiu a movimentação de Wanda e logo também acordou, acariciando seu ombro, beijando seus cabelos com discrição. A viagem tinha sido longa e a alternância de fuso horário não ajudava a relaxar o corpo, então todos aproveitaram esse meio tempo para descansar o quanto podiam. Até mesmo Banner, Wilson e Visão estavam do outro lado da nave, tomados pelo sono... O soldado então murmurou palavras doces no ouvido dela, em russo.

— Você está segura, boneca. — Disse, sua voz tão longe e simultaneamente tão perto de Wanda. Aos poucos, ela voltava a realidade e segurava a mão dele com firmeza, buscando ancorar seu espírito. — Acho que estamos chegando.

Ela concordou, continuando a segurar a mão dele. Bucky voltou a fechar os olhos, sonolento, e ela fez o máximo de silêncio para não perturbá-lo. A luz adentrava o vidro grosso e blindado da aeronave, naquele tom dourado que somente a atmosfera de Wakanda parecia oferecer. Reconheceu o verde sempre presente dos arredores, o imenso monumento de pantera esculpida em pedra... E, em contraste com tal cena acolhedora, estava a silhueta dissonante de Steve Rogers, ainda pilotando a aeronave.

Se antes Wanda precisava de palavras leves e do tom do céu para caracterizar a aura azul do Capitão América, agora ela observava uma cor escura, líquida. Era o horizonte de um oceano amargo, tenso. Os pensamentos dele se tornavam ondas, depois espumas e então ondas ainda maiores. Wanda escutava tal som com cautela, ciente do maremoto que se formava entre devaneios preocupados e frustrações. O nome de Tony era frequente, associado com fortes correntes de culpa, medo, sal. Onde ele estava? Quem havia o levado? E como deter Thanos?

A última questão também ressoava em Wanda, mas a sua cor era vermelha e seu coração incandescente por debaixo da pele pálida, a expressão neutra. O caos dentro de si ardia por simplesmente queimar o Titã, sem culpa ou hesitação; tocar os véus da realidade e retorce-los, repicá-los se necessário. No entanto, a Feiticeira já tinha crescido além de seus ímpetos de aniquilação e tinha plena consciência de que existiam custos ao se brincar com o universo. Permaneceu ali, abraçada pela aura amena e escura de James Barnes, como se a noite lhe envolvesse para lhe oferecer descanso. De repente, veio a voz elegante e estável de Natasha de outro assento veio, um tanto próxima de Steve. Primeiro ela se espreguiçou, depois virou-se em direção ao loiro. Wanda não reprimiu um sorriso ao enxergar as nuances rosáceas da aura dela, encolhida ainda na poltrona.

Rogers. — Disse séria, naquele tom que só usava durante missões ou quando queria aborrecê-lo, chamando-o apenas pelo sobrenome. — Você não me acordou para trocarmos de lugar.

— Eu nem percebi, senhorita Romanoff.

De repente, o mar dos pensamentos dele não jazia tão revolto assim. Sorriu de lado, olhando-a brevemente apenas de esguelha, para depois prosseguir com a direção da aeronave. O esquema que ele, Natasha, Rhodes e Sam tinham feito eram turnos para pilotar na longa viagem. Sam ficou com o primeiro, Rhodes com o segundo, Steve com o terceiro e Nat com o último. À despeito do acordo, o Capitão América agora parecia próximo de pousar.

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