Capítulo XV

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Algumas semanas depois

Maria acordava mais uma vez num dos becos da cidade, ao seu lado sua fiel companheira, uma garrafa de cachaça pura que havia ganhado de um rapaz que voltava pra casa depois da noitada, o mundo rodava e sua cabeça ainda doía, devia ter caído naquele beco e nem percebido, isso ultimamente não era nenhuma novidade.

" Levanta mulambo, vá dormir em outro lugar, sua cachaceira"

Maria se levantou com um pouco de dificuldade e saiu andando, na rua as pessoas olhavam e apontavam para a antiga rainha que hoje era apenas mais uma mendiga num reino desconhecido, antes a bela rainha era chamada de dona Maria mas hoje só a conheciam pelo nome de mulambo, uma andarilha e pedinte, que vivia bebendo e fumando pelas vielas da cidade, suas roupas viviam em farrapos e seus cabelos num amarrado mal feito, Maria não queria ser bela, não queria ser rainha mas também não podia morrer, tinha que aguentar a sina de viver na miséria, os únicos que a procuravam era homens querendo seu corpo e suas carícias mas eram rejeitados pela jovem mulher afinal Maria ainda guardava sua dignidade consigo, na noite passada o homem tentou e não tinha dado muito certo para o mesmo, Maria estava bêbada de novo, em um canto caída na viela da rua, ela não havia percebido mas um dos mendigos se aproximou da bela mulher, Maria estava muita extasiada pra perceber as investidas do rapaz, sem a menor discrição, ele começou a alisar as partes íntimas da bêbada Maria, a jovem rainha reclamava e tentava cobrir de novo porém o homem não se importou e continuo investindo, cada vez mais descobrindo o corpo firme e moreno da bela jovem.

" De novo não Leopoldo, por favor me deixe ir"

" Tá delirando gatinha, eu vou ser delicado eu juro, agora deixa eu entrar em você vai"

Mas Maria não estava disposta a ceder, em sua mente as memórias dos abusos de seu antigo marido voltaram a tona, a dor e a pressão do corpo dele encima do seu, as investidas e os maus tratos, Maria não passaria por isso de novo e sem pensar duas vezes o cara que abusava de seu corpo estava no chão caído, o pobre homem gemia e em sua cabeça o sangue escorria porém Maria não ficou para ver se ele se levantaria ou não, Maria correu até quando não conseguia mais respirar, enfim caiu no chão cansada e começou a chorar.

" Porque choras minha criança, uma mulher linda como você deveria estar sempre sorrindo"

Maria levantou seus olhos e imediatamente se encontraram com os olhos da mulher que estava a sua frente, sua boca era vermelha e carnuda, seus olhos castanhos e bem marcados, sua pele clara e lisa, aparentava ser nova porém sua presença deixava claro que tinha muito experiência em vida.

" Quem é você?"

A estranha mulher deu um sorriso satisfeito e se apresentou.

" Todos me conhecem como a dona 7 e os mais próximos me chama de 7 Saias, eu sou a dona dessa cidade e você é muito bela criança, venha tomar uma bebida comigo, acho que teremos muito para conversar"

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" Mestre Corvus tomei minha decisão, aquela velha decrépita não pode viver, ela nunca permitirá o meu casamento com o rei"

" É porque diz isso Maria Padilha?"

" Ela me disse isso, na minha cara e ainda ameaçou me enforcar"

" Realmente, você chegou a uma nova encruzilhada em sua jornada, a morte da rainha é necessária para que você suba ao trono mas você já tem sangue nas mãos, consegue aguentar mais?"

" Sangue nas mãos? O que quer dizer mestre?"

" Já se esqueceu da bela Carmem? "

" Ela estava resolvendo sua situação com a senhora Quitéria mas... "

" Ela está morta, Quitéria é uma exímia feiticeira mas nem ela pode contornar uma predição de uma cigana poderosa, quando você sabotou a iniciação dela na bruxaria tirou dela o único poder que poderia salva - lá, a bela Carmem foi morta pelo homem que a amava como as cartas havia dito "

Maria Padilha ficou um tempo pensando na bela Carmem, sua energia, áurea e poder de sedução era tão incrível como ela podia ter morrido e o pior por sua única culpa, ao pensar no dia que foi marcada por Lúcifer, seu peito ardeu em brasa, era uma grande pena Carmem ter falecido porém Maria Padilha não tinha tempo para se lamentar.

" Eu sinto muito mas cheguei muito longe para abrir mão de tudo e esperar o tempo acabar com aquela velha, do jeito que é ruim pode nunca morrer, o senhor tem um bom feitiço para matar ela da maneira mais sutil possível?"

"Nem sempre você precisa de feitiços Padilha, magia vai muito além disso"

Dito isso, o velho Corvus começou a masserar alguns pós e ervas e chamou sua irmã.

" Rosa vá pegar esses ingredientes que tenho aqui e leve a Lady Padilha com você, apresente suas rosas a ela"

Rosa saiu andando e a bela mulher foi seguindo a jovem garota, rosa era uma garota magra, de pele bem branca e cabelos lisos e negros que sempre cobria metade do seu rosto.

" Segura para mim senhora Padilha"

Padilha segurou o cesto enquanto a jovem Rosa colhia várias ervas da lista do mestre Corvus.

" Que lindo esse cruzeiro, é de vocês?"

" Sim sim, eu nasci nele por isso minha mãe me batizou de Rosa das Almas, eu cuido do cruzeiro desde que minha mãe morreu"

" Então você conhece bastante as flores e ervas desse jardim?"

" Simmm, eu passo horas estudando suas propriedades e ajudando meu irmão mais velho"

A jovem Padilha ainda não entendia o porque seu mestre havia mandando acompanhar a pequena rosa mas se admirava com a beleza do jardim e de suas flores, até ver uma rosa vermelha exuberante com pontos negros em suas pétalas mas sem nenhum espinho.

" Que flor mais magnífica é essa e porque ela não tem espinhos?"

" Cuidado senhora Maria, não toque essa flor, ela não tem espinhos porque é altamente venenosa, é uma flor rara e que eu só vi em nosso jardim, eu a chamo de sono da morte"

" Porque ela tem esse nome Rosa?"

" O veneno dessa rosa só age quando estamos dormindo, quando o corpo relaxa o veneno se espalha e mata enquanto dormimos, basta um toque em suas pétalas para nos contaminar, o veneno é muito sutil, quando começa a agir o cérebro para e a pessoa morre sem sentir dor e nem nada "

" Só ao tocar ela faz tudo isso? "

" Não minha senhora, para agir dessa maneira é preciso que seja ingerido pelo menos uma pétala da Rosa "

" Rosa, colha uma rosa dessa para mim por favor "

A menina então colheu a incrível flor e entregou para a bela mulher que saiu pelos fundos do jardim e foi em direção ao castelo, já estava entardecendo e logo seria a hora do chá da rainha.

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" O seu chá já está servido senhora, coloquei um ingrediente novo para deixar mais doce e suave, veja se gosta"

A velha monarca por mais que decepcionada com Maria Padilha ainda gostava da menina por isso a deixou cumprir seus deveres, já que acreditava que a moça já teria desistido de Don Pedro.

" Está delicioso Maria Padilha, realmente mais doce e suave, me dê mais um pouco"

Maria Padilha sorriu e serviu mais uma xícara de chá para a nobre rainha, ela não sentia remorso ou culpa, sabia que era necessário essa atitude para que seu sonho se tornasse realidade e a pobre rainha nada perceberá mas em sua xícara de cristal estava repousando no fundo uma bela pétala vermelha com pontos pretos.

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