1 | Era uma vez, o fim do mundo

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Meu nome é Anne. Bom, pelo menos era assim que as pessoas me chamavam, quando existiam pessoas no mundo. Acontece que todos morreram. Não sei como, nem por quê, mas um dia eu dormi, e quando acordei, tudo havia virado cinzas.

Eu sou a última pessoa viva. Quero dizer, eu sou a única pessoa que não morreu e voltou, para ser mais exata, já que o conceito de "vida" é bastante relativo nos dias de hoje. Sim, todos morreram, mas nem todos permaneceram mortos, e é esse o problema.

Zumbis? Não, é claro que não! Não existem zumbis, é humanamente impossível. Algo aconteceu com o mundo. Algo mudou. A morte não é mais o fim, é apenas uma mudança. Quando as pessoas morrem, algumas continuam mortas, mas a maioria volta como algo pior, algo diferente. Seus corpos se tornam mais resistentes, suas mentes se tornam sua prisão, eles enlouquecem completamente: é como se só uma parte de quem são morresse, a parte humana, e a outra dominasse o seu corpo.

Quando morreram, as pessoas voltaram como tudo aquilo que verdadeiramente são: monstros sem alma e cheios de ódio contra tudo por razão alguma. Acredite, eu vi acontecer de perto.

A maioria, se torna aberrações irracionais. Suas mentes se tornam uma verdadeira bagunça, e tudo que essas pessoas sabem fazer é gritar palavras sem sentido e estripar qualquer coisa que se mexa, só pelo prazer de machucar alguém. Não sei se é possivel matá-los, já que eu nunca tentei. A única maneira de se salvar, é se manter o mais longe o possível deles, e se um deles te ver, corra até suas pernas não aguentarem mais. Talvez, com alguma sorte você consiga escapar.

Como eu nunca fui muito atlética, prefiro me manter o mais longe o possível de qualquer coisa viva - ou morta. Eles são sensíveis à luz, de modo que ficam escondidos dentro das ruínas dos prédios durante o dia, e só saem para se alimentar ou matar uns aos outros durante a noite.

E seja lá o que tenha feito isso com as pessoas, afetou os animais também. Mas os animais são mais evoluídos que os humanos, então esses sim são o verdadeiro perigo. São mais rápidos e mais inteligentes que as pessoas.

A vida no fim do mundo não é tão ruim, na verdade. Afinal, já fazem anos. Eu não sou mais a garota assustada que eu era quando acordei e encontrei o mundo completamente destruído e sem um sinal de vida racional e não-recitada.

Claro, tirando o risco de vida que eu corro todos os dias, eu posso ir onde quiser e fazer o que quiser, desde que fique bem longe de lugares fechados, onde provavelmente haveriam alguns Zangados, como eu gostava de chamá-los. Eu sei me virar. Sou ágil e silenciosa. Sou muito boa em sobreviver.

Ficar sozinha também nunca me incomodou, já que eu nunca me dei muito bem com as pessoas. Nunca tive muitos amigos, minha mãe morreu quando eu era pequena, meu irmão mais velho havia ido embora de casa, e meu pai.. bem, não importa mais. Estão todos mortos, certo?..

Certo?
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The EndOnde histórias criam vida. Descubra agora