Depois de cuidar do homem sem olho e das minhas próprias feridas - que ser resumiam ao corte na perna, o arranhão no rosto feito pelo Zangado que quase me matou e alguns corte e hematomas superficiais -, eu ofereci algo para que meus visitantes completamente inesperados pudessem comer e beber. Berry e Jane haviam se lavado no meu pequeno banheiro, e estavam sentados à mesa comendo com muito gosto a sopa enlatada de verduras que eu aqueci sobre a chama de uma vela, um punhado de biscoitos e um chá de ervas que eu fiz as pressas. Quanto ao Digg, nem água o pobre homem quis beber.
Àquela altura, eu não só estava faminta, como podia sentir o meu estômago digerindo o meu fígado. Tomei um pouco daquela sopa horrível, enquanto fingia ler um livro qualquer, sentada na minha cama com a perna ferida esticada sobre um travesseiro.
A chuva caia violentamente lá fora, o que era algo muito bom, já que quando a tempestade parasse, os meus barris, baldes e bacias que eu deixava no telhado do prédio para captar água estariam cheios, e eu não teria que me preocupar com a recente escassas de garrafas d'água na região por um tempo.
Os meus visitantes estavam bastantes silenciosos, mas eu podia ouvir algumas palavras saírem se suas bocas de vez em quando. Deviam ser umas cinco da tarde, e a chuva lá fora deixava o ambiente ainda mais escuro, de modo que Jane fez questão de ascender algumas das minhas velas, já que logo ficaríamos no completo escuro. Além do barulho da chuva, era possível ouvir os lamentos e os gritos dos Zangados, que já haviam percebido a escassez da luz do Sol, e saíram de seus esconderijos para brincar na chuva. Agradeci aos céus por Digg ter parado de gritar.
Não vou mentir. Apesar de tentar parecer calma e entretida no meu livro e na minha sopa, eu estava absolutamente apavorada. Eu não sabia quem eram aquelas pessoas, nem porque ou como elas estavam vivas depois de tanto tempo, e eu já me arrependia profundamente de tê-los trazido até o lugar que eu chamei de lar por tanto tempo. Ambos haviam deixado suas armas num canto, talvez prevendo a minha insegurança com a sua presença, mas não me sentia mais segura de maneira alguma.
Quando terminei a minha sopa com gosto de grama, me levantei, manquei até a minha cozinha improvisada, e coloquei o meu prato de plástico azul bem gasto dentro da bacia que eu usava como pia, já que não havia mais água encanada na pia de verdade há minuto tempo. Juro que tentei ao máximo me manter alerta enquanto lavava a louça louça ali acumulada, mas milhares de dúvidas e perguntas rodopiavam pela minha cabeça, atraindo toda a minha atenção. Fixei meus olhos na chama dançante de uma vela próxima, enquanto milhares de pensamentos aleatórios me misturavam na minha cabeça.
Afinal de contas, aquilo tudo não fazia o menor sentido! Até ontem, eu era a única pessoa viva a habitar aquela maldita cidade infestada de mortos, e agora, eu não estava mais só. Pela primeira vez em cinco longos anos, eu realmente não estava mais só. E para ser sincera, ainda não sei se isso era bom ou ruim. Antes de virmos para casa, Berry tinha mencionado algo sobre o meu grupo. O que ele queria dizer com isso era um completo mistério para mim, mas pareceu algo totalmente natural para ele. Somando isso ao fato de ele e Jane não estarem nada surpresos como eu ao encontrar mais alguém vivo, deixava óbvio que eles estavam acostumados a conviver com outras pessoas, o que provavelmente significava que eram eles que tinham um grupo. Ou seja, haviam mais pessoas vivas por aí. Mas por que eu nunca vi ninguém antes?
Supondo que eles realmente fizessem parte de um grupo - o que ainda me parecia completamente impossível apesar de saber que era o mais provável - seus amigos certamente dariam pela falta de três dos seus. E se eles viessem procurá-los? Obviamente me encontrariam, já que os três e eu dividíamos o mesmo cômodo e a mesma sopa naquele exato momento. Essa possibilidade me deixou apavorada. E se esse tal grupo não fosse tão amigável quando Berry e Jane se mostraram? E se Berry e Jane não fossem tão amigáveis assim, e estivessem apenas o momento certo para se revelarem e me matarem pelas costas?
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The End
Science Fiction"Tudo tem um começo e um fim, certo? Está na hora da humanidade encontrar o seu." Num dia, Anne era uma garota normal com um pai alcoólatra e problemas comuns de uma adolescente. Não havia nada de mais sobre ela. Não era feia nem bonita, não era pop...
