❤ Capítulo 9

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André

Meu coração ainda está acelerado. Esfrego a mão no peito e passo pela porta da delegacia sentindo um aperto horrível por dentro. As batidas não conseguem se acalmar mesmo depois de mais de uma hora após o acidente.

"Não foi culpa sua".

Tento usar a voz baixa da Gabriele fazer meu cérebro aceitar que realmente não tive culpa no atropelamento, mas é difícil demais quando lembro do corpo do garotinho estirado no chão, o seu sangue no vidro quebrado do meu carro, as mãos trêmulas da mulher tentando tocá-lo...

Ela estava desesperada, não entendi muito bem, mas parece que eram conhecidos. Jamais imaginei que fosse reencontrá-la em uma situação dessas. Sorte que não ficou brava como estava com Oliver aquele dia, ainda bem que entendeu porque a culpa estaria em um nível sufocante se tivesse agido diferente.

Foi tão rápido, eu nem tive tempo de raciocinar. O sinal abriu em um instante, e no outro um vulto apareceu correndo e se chocou com o veículo. Por mais que eu não estivesse em alta velocidade, ele estava e bateu com muita força no chão.

Se... se...

Inspiro e expiro fundo, proibindo-me de pensar no pior.

— Irmão, você está bem? — Ramon desencosta do seu carro estacionado na calçada e corre na minha direção assim que me vê. — Como foi isso de acidente? O que aconteceu?

Aceito o abraço do meu amigo, precisando de um pouco de alívio para essa pressão esmagadora no peito. Conto rapidamente o que houve quando estava voltando de um almoço com um dos franqueados da Edutec na capital.

Assim que o socorro chegou e os paramédicos aceitaram que Gabriele fosse junto ao hospital, eu esperei a polícia e vim prestar depoimento. Como meu carro foi rebocado para conserto, liguei para Ramon me buscar aproveitando que sexta é seu dia de folga no trabalho.

Preciso urgente saber notícias do Joel. Deixei um cartão meu com Gabriele para contato e pedi para ele ser enviado a um hospital particular que tem perto do local do acidente. Vou arcar com todos os custos que forem necessários para a sua recuperação.

— Deu tudo certo aí com os zome? — pergunta preocupado, apontando com a cabeça para a delegacia.

Estatisticamente falando, nunca é bom para um negro se meter com a polícia. Somos ensinados desde muito cedo a evitar qualquer confronto.

— Uns olharam atravessado, mas tinha muita testemunha no local e imagens da câmera de segurança que fica na via. — Afasto-me de Ramon e começo a caminhar na direção do carro. — Eles têm acesso aqui para monitoramento. O processo vai correr, porém, os indícios apontam a minha inocência.

— Que bom, cara! Nas imagens mostra por que o garotinho estava correndo?

Meu amigo destrava a porta e eu entro apressado, ajeitando-me no banco. Estou muito angustiado, enquanto não souber notícias não vou ficar em paz.

— Não mostram porque aquela câmera é só da via, não estava funcionando a que fica na direção da rua. As testemunhas mencionaram que tinha um homem correndo atrás dele e falaram da possibilidade do menino ter roubado e estar fugindo — explico quando ele entra também, coloca o cinto de segurança e dá partida no carro.

Infelizmente, quando vemos uma cena assim é a primeira coisa que pensamos.

Não gosto dessas opiniões sem de fato saber o que houve. Ainda mais porque o tal homem não foi interrogado, sumiu da cena do acidente. É mais fácil julgar que estava roubando só pelos trajes simples do que estar fugindo por medo de alguém.

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