❤ Capítulo 6

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Gabriele

Arrumo a alça da mochila, para aliviar um pouco o peso, e sorrio do falatório da dona Paola. Geralmente, eu fico irritada quando ela me pega para Cristo e começa a fofocar sobre a vizinhança, mas está sendo uma semana tão atípica que nem me importo. Fito a senhora franzina de óculos, que mora no primeiro andar do meu prédio, como se realmente estivesse gostando da conversa.

Desde que fechei com o complexo de saúde, na segunda-feira, não consigo tirar o sorriso bobo do rosto. Ainda mal posso acreditar que a proposta é melhor do que eu esperava.

Os salgados que quase quebrei, na correria para entregar a carteira do idiota, fizeram sucesso com Marisa Fernandes - a proprietária do espaço. Ela amou a coxinha de batata baroa com jaca e a de inhame com berinjela.

Apesar de não ser formada em Nutrição, o máximo que eu fiz foram cursos técnicos de salgadeira, sou muito curiosa e vivo criando receitas novas para todos os gostos. Da fruta jaca mesmo, embora muitos não saibam, dá para extrair uma textura bem parecida com a carne. Misturando os ingredientes certos, fica delicioso!

A facilidade de inovar, aliada a qualidade dos produtos que ofereço há anos para o buffet que me indicou, foram cruciais para fechar a parceria. Fui muito bem recomendada, tanto que nem se importaram da minha produção ser caseira.

Graças a Deus, estava com medo disso!

A empresa tem três filiais em São Paulo e quer implantar a linha vegana e fit em todas elas, se o produto for bem recebido na unidade do centro histórico. No início eu vou colocar a mão na massa e realmente fazer os salgados, porém, a ideia da dona Marisa é contratar funcionários para uma produção interna quando expandir para os congelados. Eu ficarei apenas como a criadora das receitas, com a possibilidade de ministrar workshops para os clientes.

Ai, isso é muito chique!

Remexo o corpo involuntariamente, quase fazendo a dancinha da vitória. Na semana que vem tenho uma reunião com a nutricionista responsável para conhecer melhor o público deles e, no máximo, em dez dias iremos começar.

O rosto da moça bonita que eu vi na capa daquela revista há anos, e me instigou a cozinhar, volta à minha mente. Eu também vou conseguir alcançar meus sonhos em breve, tenho certeza disso.

— ... não é mesmo Gabriele?

— Hã? — Noto que a senhora está me encarando com atenção, aguardando uma resposta. — Desculpa, eu me distrai aqui.

— Esses jovens de hoje em dia... — ela reclama, revirando os olhos. — Não prestam atenção em nada. Eu disse que a Mariana do segundo andar precisa parar de trazer homem pra cá. Cada dia aparece com um. Isso é muito ruim!

— Que bom que ela tem opção, né — brinco, sabendo que vai ficar brava com meu comentário. — Ruim está pra nós, solteiras e encalhadas.

Nem lembro qual foi o último homem que eu sai, deve fazer uns cinco meses. Depois do divórcio, confesso que a possibilidade de entrar em um novo relacionamento não me anima muito. Além do mais, tenho trabalhado tanto, que nem dá tempo de pensar nessas coisas.

Henry cuida muito bem do meu fogo no rabo, quando é preciso. Só de pensar no ator gostoso que inspirou o nome do meu vibrador eu já estou quase gozando. É rápido e mais fácil que conviver com um homem de verdade.

— Deus me livre e guarde! — Dona Paola faz o sinal da cruz, horrorizada. Tenho vontade de gargalhar. — Eu sou uma mulher de respeito!

Teve uma época que eu contra argumentava alguns comentários dela, mas com o tempo descobri que não vale a pena gastar saliva com quem não vai mudar. O melhor a se fazer é ignorar.

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