Capítulo 65

2.9K 282 575
                                    











        Minhas botas quase se prendiam na lama escondida pelo gramado  do pasto alto. Precisávamos  percorrer um pequeno caminho até chegar as macieiras, e pela forma em que meu pai andava mais a frente, me fazia notar que não estávamos assim com tanta pressa. Carrega em minhas mãos um balde de lata no qual provavelmente colocaríamos as maças, se é que havia restado alguma depois da ventania e ontem. E mesmos demonstrando a mais alta confiança, todo meu ser tremia sem parar. 

     O silencio as vezes é a coisa mais assustadora do mundo, pois os nossos pensamentos vão longe  e assim, as possibilidades do que podem ou não vir a acontecer, te deixam completamente ansioso.

  Quando a minutos atrás sai do quarto com minhas mãos entrelaçadas a de Harry, encontramos meus pais a sala tirando a sujeira do corpo. Os dois nos olharam um poucos surpresos, mas sua reação não foi exatamente o que eu esperava. Ao invés de gritar como esperava, os dois se entre olharam e respirando fundo minha mãe lançou um olhar cheio de piedade em minha direção. Aquele olha me preocupou, mas ao invés de falar comigo, a mulher  puxou Gemma pelo braço em direção ao quarto e deixando eu e Harry sozinho com meu pai. Ela então não iria intervir, seja lá o que meu pai fosse fazer.

  Ele chamou Harry para conversar primeiro, e eu não queria deixar, porem Harry apenas decidiu que era necessário. Não sei qual foi o assunto, mas meu pai sequer me deixou questionar ao ser de olhos verde, apenas me entregou o balde e mandou que eu o seguisse. Aqui estava eu, quase moendo meus dedos em nervoso, mas completamente ciente de qual era o meu objetivo nesse momento, e ceder não era uma opção.

    Após subir o pequeno morro, já podia ver as macieiras e não demorou muito para chegarmos em baixo de uma delas. Olhei para meu pai que observava as outras arvores, enquanto agarrava as poucas maças que estavam no baixo.

— O que você acha dos pés de maça? - meu pai corta o silencio.

 Não sabia exatamente o que dizer para que ele, sua pergunta não tinha o menor sentido em minha cabeça.

— Se lembra do dia em que as plantamos?

— Sim.

  Realmente me lembrava. Era nova, mas após os acontecimentos com Demetrio e a forma na qual meu pai passou a me tratar, me agarrei a todas a memorias boas e felizes que tinha ao lado do velho. Era dessa forma, recordando de momentos bons, que encontrava forças para superar a cada uma de nossas discussões.

— Se lembra quando com medo das pragas, você queria que jogássemos  agrotóxicos? Chorou e se jogou no chão dizendo que as lagartas iriam comer suas maças.

  Sorri fraco, apenas confirmando.

— O que eu te disse?

—Que você sabia o que estava fazendo. Que as frutas não sairiam tão naturais, tornando elas iguais dos super mercados! - respondi.

— Eu estava errado?

   Entendi naquele momento onde ele estava querendo chegar.

— Não, não estava!

— Sabia que aqueles produtos podiam te fazer mal, e que as maças seriam mais bonitas sem eles. Te contei os motivos pelos quais não joguei, e você compreendeu. - ele se vira para mim soltando o ar dos pulmões. - O que difere de agora? Por que não pode confiar no que estou te falando?

  Baixei meus olhos encarando meus dedos. ele não estava brigando. Sua voz estava calma, pela primeira vez tendo uma conversa aparentemente calma. Não gritou impondo sua vontade, na verdade me fez uma simples pergunta que a meu ver tinha tantas respostas e nesse momento elas pareceram fugir.

Uma noite sem resposta ||H.S||🦋Onde histórias criam vida. Descubra agora