Epilogue

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Apesar de estar totalmente desnorteada, com a visão embaçada de tanto chorar enquanto corria pelas ruas agitadas de Nova York, com várias pessoas alegres me desejando feliz ano novo quando passava por elas, eu consegui chegar ao hotel em poucos minutos, mas agora parecia que a dor que estava sentindo durante o trajeto tinha se intensificado um milhão de vezes mais.

Corri para a área dos elevadores sem me importar em ser educada com ninguém na recepção, a dor se tornando tão sufocante que me deixava irracional, assim como minhas ações estavam sendo desde aquele fatídico momento numa rua que ao menos sei o nome, não que isso importasse agora. Se eu fechasse os olhos por míseros segundos, podia ver e escutar com clareza Shawn chorando sem obter nenhuma explicação da mulher que partiu seu coração quando ele só queria poder compartilhar sua vida ao meu lado.

Como você é estúpida, Olivia!

As portas de metal se abrem me tirando do transe, e para minha sorte o elevador estava vazio. Entro rapidamente, secando minhas lágrimas como se pudesse levar a dor e a vergonha junto, e aperto várias vezes o botão do 15° andar, esperando que assim ele chegasse em segundos. Assim que escuto o bip e vejo as portas se abrirem no 13° andar, senti como se tivesse levado um tapa do destino ao ver um jovem casal entrar no elevador e, sorridentes me desejarem feliz ano novo por educação, e lutando com todas as minhas forças, consigo esboçar um sorriso fraco e dizer num tom audível um "pra vocês também", finalizando o diálogo ali mesmo antes que eu desabasse no choro novamente.

Graças a Deus eu não estava usando maquiagem...

Minhas emoções estavam totalmente descontroladas, eu me sentia a pior pessoa do mundo — e com razão —, enquanto meu cérebro agia no automático e achava uma saída rápida meio ao caos dessa situação, tomando controle de tudo para que eu não ficasse jogada num canto qualquer chorando desesperadamente até ficar sem ar e repetir todo o processo vez após vez.

Segundos depois finalmente chego em meu andar, parecendo que a subida naquele elevador com o casal feliz durou uma eternidade, mas tenho certeza que só achei isso porque minha infelicidade irradiava por todos os meus poros, porém, mesmo com toda essa desgraça tendo acontecido tão rápido, eu conseguia em meio ao caos ter consciência de que não podia reclamar já que fui eu mesma quem sentenciou isso.

Ser infeliz por tempo interminável por quebrar o coração de um homem que só queria o meu bem, essa é minha sentença.

Com as mãos trêmulas pego o cartão que estava no bolso da minha calça e abro a porta do quarto, não me importando se ela ficou aberta, já que não demoraria muito para sair...

Começo a pegar minhas roupas e outras coisas que, para minha sorte não estavam todas espalhadas pelo quarto e, coloco tudo de qualquer jeito dentro da mala rapidamente, só verificando no final se ia conseguir fechar sem que explodisse o zíper, o que deu certo. Pego minha bolsa de mão e me certifico que todos meus documentos estejam ali dentro, assim como carregador e fones de ouvido, e que nada de outra pessoa por acidente vá junto comigo. Após ter certeza dessas coisas, fecho também o zíper e me sento na beirada da cama, sentindo a adrenalina diminuir aos poucos e o ar finalmente entrar em meus pulmões, me dando espaço e tempo para pensar sem ser no modo automático.

Olhei ao redor do quarto e um milhão de memórias me atingiram com força, fazendo as lágrimas voltarem a cair sem preocupação alguma, e dessa vez me permiti soluçar e liberar por meio disso pelo menos um pouco da dor que estava sentindo, porém, me lembrando ao mesmo tempo que ela nem se comparava com a dor que causei em Shawn ao deixá-lo sozinho, sem explicações e perdido com seus pensamentos mais escuros.

Eu não tinha a menor intenção de fazer o que fiz com ele, até porquê, como se pode machucar alguém que você ama mais que tudo?

Não sei o que me levou a dizer aquilo e simplesmente fugir como se não devesse explicações a ele, mas a verdade é que não poderia ficar e tentar explicar o que não tem explicação no momento. Eu não sei o que senti quando Shawn se declarou da maneira mais sincera e pura que já vi em toda minha vida, parecia que era um sonho se tornando realidade, mas sei que algo estranho aconteceu e coisas que achei ter esquecido voltaram a tona e pareciam me assombrar ao mesmo tempo que tudo que eu queria era dizer sim e ficar com Shawn para o resto da minha vida.

Porém, nada é como a gente quer!

Eu não me orgulho nenhum pouco do que fiz com Shawn e nem do que vou fazer agora, não só com ele, mas com todos da minha vida, entretanto, se quero tentar entender porque levei as coisas por esse caminho, preciso tomar essa decisão e pensar no meu estado emocional que está tão abalado e ferrado quando o psicológico. Só espero que num futuro próximo tudo se resolva e todos me entendam...

Me estico até a mesa de cabeceira aonde tem um bloco de notas e uma caneta, pegando os mesmos e, tento colocar em palavras alguns dos meus pensamentos mais confusos enquanto me seguro para não chorar novamente durante o processo da escrita.

Não é irônico o fato de, novamente, eu deixar um quarto de hotel com apenas um bilhete como explicação? Ou melhor, não é muito irônico sentir a mesma coisa por deixar algo importante para trás, pela segunda vez na vida?!

Acredito que não vou ter essa sorte outra vez, mas tudo bem, provei que não sou digna dela mesmo...

Levanto da cama e destaco a folha que escrevi do bloco, colocando a mesma dobrada dentro da mala aberta de Shawn, esperando que ele visse logo esse papel e que de alguma maneira isso desse conforto ao coração partido dele, mesmo que fosse mínimo. Eu não queria que ele sofresse por conta de um erro meu, aliás, se pudesse, pegava toda dor dele e transferia para mim, a única que merece sentir tudo isso!

Pego meu celular e bolsa em cima da cômoda, em seguida levantando a alça da mala com a mão esquerda e saio do quarto fechando a porta, repetindo para mim mesma que por mais que seja difícil, essa é a melhor decisão que eu poderia tomar no momento, não deixando espaço para arrependimentos agora.

Dessa vez o caminho até a recepção foi mais rápido e felizmente não tinha ninguém para dividir o elevador e me ver chorar. Assim que cheguei em frente as enormes portas que davam para rua, parei por um minuto para fazer uma ligação que até hoje de manhã, tinha certeza que não iria fazer, mas novamente, a vida é imprevisível! Alguns toques depois a ligação acaba caindo na caixa de mensagens, e como estou sem tempo para esperar ele me atender, resolvo deixar o recado que vai fazer um sorriso enorme estampar seu rosto pela manhã.

— Oi Payno, desculpa te ligar essa hora e ser apressada, mas queria te falar que aceito sua proposta. Só preciso de uma semana para me organizar, tudo bem? Nós vamos conversando por e-mail... ah, e feliz ano novo. — finalizo a ligação e sinto um leve tremor, mas dou de ombros e desligo o celular, guardando o mesmo dentro da bolsa, saindo do hotel em seguida.

Logo que pisei na calçada avistei um táxi se aproximar e dei sinal para ele parar. O taxista estacionou em frente ao hotel e rapidamente saiu do veículo para me ajudar com a enorme mala que eu carregava, a colocando no porta malas com uma facilidade incrível enquanto eu dava a volta e entrava no carro, segundos depois o senhor também estava sentado e afivelando o sinto, me olhando pelo retrovisor durante o processo.

— Feliz ano novo senhorita! Para aonde vamos?

— Aeroporto JFK, por favor. — respondo com um meio sorriso e o senhor assente em silêncio, dando partida no carro em seguida.

Viro meu rosto em direção a janela e em silêncio, deixo as lágrimas rolarem mais uma vez nessa noite, já que a partir de agora elas serão minha única companhia.

❪ ❁ ❫

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