Incompleta

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Estava tudo finalmente acabado. A Primeira Ordem fora derrotada e a Galáxia se via livre da violência e do caos que a aterrorizaram por infinitos anos.

Estava tudo acabado, mas Rey sentia-se incompleta.

Ele se fora.

Junto com a Primeira Ordem, Ben Solo afundara.

Ela ainda se lembrava do seu sorriso, aquele que ele lhe dera antes de Chewbacca atirar incessantemente contra ele. O último sobrevivente caía de joelhos diante de si, seu sabre de luz jazia perdido em algum canto do planeta desabitado.

Rey correu até ele e o embalou em seus braços para que o mesmo não se chocasse contra o chão.

– Ben – ela o chamou, a expressão aflita.

Seus olhos castanhos encontraram os dela, sua alma estava indo, não tinham muito tempo. De sua boca saía sangue, manchando suas roupas. Ele precisava dizer, mas não conseguia formular palavras diante daquele rosto tomado por lágrimas. Ela chorava por ele.

Ben se sentiu a pessoa mais amada do Universo naquele momento. E com essa sensação acolhedora, ele partiu, nos braços da sucateira que jurou odiar –, agora amando-a como nunca amara ninguém.

Aos poucos sua conexão com ele desaparecera e não havia nada que pudesse impedir.

Há quanto tempo estava trancafiada na escura Millenium, no intuito de aquietar a dor em seu peito? Horas? Dias? Não sabia. Mas chegou num ponto em que o brilho do painel a irritava.

Levantou-se, o corpo inteiro dolorido. De todas as pessoas que a deixaram, Ben foi a sua maior perda. A mais dolorosa. Não conseguia se imaginar seguindo em frente sem aquele homem de longos cabelos negros, com sua voz inesquecível sussurrando para ela que tudo ficaria bem.

Ele prometeu que ficariam juntos, então por que se sacrificou!?

Rey soluça, já perdera as contas de quantas vezes se lamentou. A ficha caíra dois dias depois de sua morte. Durante o seu funeral. Sim, ela o fizera, pois ele merecia um último ato de carinho dela.

Finn ficou descontente com sua decisão, mas percebeu o sofrimento da amiga quando o corpo de Kylo Ren fora solto no Espaço, em meio as estrelas, para ser cremado por elas. Era a primeira vez que via a amiga tão abatida. Nem a morte de Leia afetara tanto e o ex-stormtroopper não entendia sua afeição pelo homem que matara o próprio pai e causara tanta dor.

A garota se aproxima do painel, o brilho em seu olhar determinado sumira.

"Como seguir em frente?", ela se perguntava.

Rey percebeu que havia uma mensagem enviada para a nave há quatro dias atrás. Talvez algum planeta pedindo por suprimentos ou algo semelhante. De qualquer forma avisaria Poe e Rose para tomarem providências.

Ela abriu a mensagem e estava prestes a se sentar quando escutou aquela voz que a fez tremer da cabeça aos pés.

"Rey"

Ela se virou imediatamente e se aproximou. O rosto dele estava ali, de máscara, a voz modificada.

"Se estiver escutando isso, é porque há muito já me juntei a Han e Leia, e provavelmente estou pedindo perdão por todo o sofrimento que lhes causei".

Ele hesitou, a culpa evidente mesmo com a face escondida.

"Principalmente à minha mãe".

O coração dela pesou no peito.

"No entanto, eu não me arrependo do que fiz. Pois, talvez, eu não teria a sorte de conhecer pessoa tão esplêndida como você. A única luz em meio a toda escuridão que me cercava e me feria. Rey, eu nunca terei palavras suficientes para agradecer todo o esforço que teve para tentar me salvar antes, e tudo poderia ter sido diferente se eu não estivesse cego por minhas ambições. Apesar da minha possível morte, sinto-me salvo. Salvo por você! Agora eu entendo os conflitos que tomavam conta do meu ser. Nunca cobicei o lugar do Supremo Líder, nem o poder de toda a galáxia".

Neste momento, ele retira a máscara e revela os olhos castanhos, vermelhos e marejados. A voz que ela tanto amava soou pela nave vazia, exceto por ela.

"Em toda a minha existência foi como se faltasse uma parte de mim. Você era a parte que faltava. Sinto-me egoísta por almejar um lugar ao seu lado, você não merece esta desonra. Sei que os seus teriam muita dificuldade com a minha presença e que você estaria dividida. Eu não me encaixaria em nenhum lugar e você sabe".

Sim, ela sabia. Porém, tentaria com todas as suas forças que desse certo.

"Mas, a Galáxia terá o privilégio de conhecer-te e se orgulharão de sua força e sensatez. Jamais deixe que alguém lhe diga o contrário! Rey... espero que tenha todo o amor e felicidade que não tive em vida".

As lágrimas molham seu rosto e sua blusa. Seu corpo todo treme com seus soluços incessantes.

"Do seu, e somente seu,

Kylo Ren... Ben Solo".

A mensagem se encerra e Rey cai de joelhos, desacreditada. Um grito doloroso irrompe de sua garganta. Contudo, se antes ela tinha dúvidas se ele sentia algo por ela, estas foram todas bem esclarecidas.

Ben Solo amara Rey de corpo e alma até o seu último suspiro.

Inesperadamente, a mensagem servira de consolo para Rey superar. Com o passar dos dias suas feições e seu humor melhoraram, e lá estava ela novamente. A garota que todos conheciam e admiravam. A garota que sobreviveu ao deserto e a Primeira Ordem.

A garota que conquistara o coração de Kylo Ren e trouxera Ben Solo de volta, cumprindo sua promessa com a inesquecível Princesa Leia.

Rey mal acordara e já se vestia habilmente. Precisava se apressar para seu treinamento. A Força exigia muito de seu autocontrole e agora sem um Mestre necessitava de muita dedicação e persistência de sua parte. Colocou as luvas negras – as luvas dele – com um sorriso ameno, calçou suas botas de cano alto e alcançou seu novo e peculiar sabre de luz. Tinha o formato de um bastão, parecido com o que usava para se defender no deserto.

A diferença é a de que um lado emitia um sabre azul e o outro vermelho.

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