O Monstro de Baixo da Cama

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O Monstro De Baixo da Cama

Era tarde da noite e chovia muito lá fora quando senti meu corpo sacudir na cama. Era meu pai.

- Te acordei, meu amor? – perguntou ele.

- Sim, papai. – Respondi sonolenta, depois de um longo bocejo. - Aconteceu alguma coisa?

- Não, não... – respondeu ele, pude ver um brilho diferente em seus olhos. – Papai só queria ver você. Durma bem, tá bom? Eu te amo. – disse ele por fim, dando um beijo em minha testa.

Só depois de uma semana sem que meu pai aparecesse em casa que minha mãe resolveu conversar comigo e com Lauren, minha irmã mais nova. Eles haviam se divorciado.

A vida ficou muito diferente depois que meu pai foi embora. Mamãe já não era mais tão atenciosa e divertida. Lauren só vivia para baixo e eu, bom, não conseguia deixar de culpar a mamãe pelo o que havia acontecido. Papai era meu herói, meu melhor amigo. E o fato dele não ligar, escrever ou nos visitar, muito provavelmente, era culpa da mamãe também.

Fiquei cerca de vinte minutos parada em frente a escola esperando alguém aparecer para me buscar. Só então me lembrei de que mamãe há muito havia dito que eu já era grandinha demais e já podia vir para casa sozinha. Papai sempre discordou e nunca deixou de me buscar, mesmo que eu já tivesse dez anos.

Quando cheguei em casa percebi que ninguém estava lá. Papai havia ido embora, mamãe estava trabalhando e Lauren, droga... Tinha que ter buscado ela na escola.

Larguei minha mochila no sofá e fui correndo até a escola da Lauren. Lauren estudava há duas quadras de casa então cheguei lá bem rápido. Caminhei até a inspetora do colégio e perguntei sobre ela.

- Ora, mas já vieram buscar Lauren. – respondeu, dona Lia.

- Quem? – perguntei, desesperada.

- Um carro preto parou aqui na frente, buzinou e ela saiu correndo para dentro dele.

Meu coração começou a bater acelerado, não conseguia mais respirar direito.

- M-Meu Deus, m-mamãe... mamãe vai me matar...

- Fique calma, Christy! – disse dona Lia, com uma das mãos pousadas em meu ombro. – Vamos ligar para ela, tá bem? De repente ela sabe o que aconteceu.

Dona Lia ligou para minha mãe e consegui notar o exato momento em que a expressão daquela pobre senhora mudou para uma expressão de puro pavor.

- S-senhora, fique calma! – dona Lia tentou acalmar minha mãe que berrava do outro lado da linha. – Iremos avisar as autoridades imediatamente.

E naquele momento ficou claro: nem dona Lia e nem a mamãe sabiam o que havia acontecido com Lauren.

Passei a noite com mamãe na delegacia. Ela gritava e chorava enquanto os policiais anotavam tudo no computador. Um deles sugeriu que talvez meu pai tivesse sequestrado Lauren, mas não era possível. Se fosse o caso, ele teria me sequestrado também. Então lembrei que algumas noites antes dela sumir, Lauren havia dito que um monstro a visitara pela noite e agora estava morando de baixo de sua cama. Achei bobo e disse a ela que monstros não existem, mas será que não? E se existiam, será que sabiam dirigir?

Acordei no meio da noite muito apertada para fazer xixi. Levantei da cama, vesti minhas pantufas e caminhei de fininho até o banheiro para se caso houvesse algum monstro na casa ele não pudesse me ouvir.

Depois que terminei de fazer xixi, apertei a descarga bem devagar para que não fizesse muito barulho e voltei para meu quarto. Quando abri a porta, notei uma luz muito forte na minha janela. Me abaixei e cautelosamente me aproximei da cortina. Respirei fundo, e a puxei bem devagarinho, somente o suficiente para ver o que estava lá fora. Era um carro preto.

Imediatamente, corri para o quarto da mamãe para avisa-la, mas não a encontrei. Será que o carro preto havia a sequestrado também?

Corri até o telefone da sala de estar e disquei o número do celular do papai. Para minha surpresa, ouvi seu telefone tocar não muito longe de mim. Papai estava em casa?

Deixei o telefone em cima da mesinha e segui o toque do celular do meu pai. O som vinha de dentro do quarto da Lauren.

- Papai? – deixei escapar, bem baixinho, enquanto abria a porta. Mas não havia ninguém lá.

Coloquei um pé dentro do quarto e depois o outro. O som ficava mais alto a cada passo que eu dava. Ao me aproximar da cama da minha irmã, notei uma pequena luz emanando de baixo dela. Engoli em seco.

- Por favor, não seja um monstro... – sussurrei para mim mesma enquanto me ajoelhava para ver o que tinha lá em baixo. - Por favor, não seja um monstro...

Não era um monstro. Era pior do que qualquer coisa que eu poderia imaginar. Papai estava de baixo da cama. Sua boca estava escancarada, havia sangue e saliva escorrendo de dentro dela. E a luz que piscava de seu celular revelavam uma cratera escura no lugar dos seus olhos. Segurei o grito e levantei-me para correr. Mas bati em algo sólido atrás de mim. Virei-me apavorada. Era a mamãe.

- Seu pai não devia ter me deixado! – gritou ela e então senti como se tivesse levado um soco na barriga. Logo depois veio uma dor intensa e aguda. E então o calor do sangue que escorria pelo meu pijama aumentou a fraqueza que tomava conta do meu corpo. 

- Ma-mãe? – As palavras escaparam da minha boca junto com uma cachoeira de sangue.

Mamãe puxou a faca e meu corpo despencou no chão. Senti suas mãos em meus calcanhares. Mamãe me arrastou até o meu quarto e me enfiou de baixo da minha cama. Foi então que eu percebi que, de fato, monstros não existiam e muito menos sabiam dirigir.

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