First

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     Cerca de 3285 dias estou aprisionado.

     Não sei onde estou. Sei apenas que por causa de uma visão antecipada de um acidente de carro que mataria meus pais fui jogado aqui. Sei que por causa da minha ingenuidade de achar que talvez policiais me ajudassem a entender o que aconteceu comigo, fui preso, trancafiado, torturado, ameaçado e menosprezado. Sei que  amanhã faço 24 anos, 288 meses, 8760 dias e 210240 horas de vida.

     Sei que o céu cai todos os dias.

     O sol cai dentro do oceano e respinga marrons e vermelhos e amarelos e laranjas no mundo exterior a minha janela.  As arvores cujas folhas amareladas, estão caindo por causa do outono, dançam com o vento. Não há tantas árvores como antes, lembro de que quando estava nessa estação do ano, meus pais me levavam para o parque e me jogavam em pilhas de folhas caídas no chão. Achávamos divertido.

     Apanho meus pinceis que estavam no chão, e pego um dos poucos quadros limpos restantes. Melo a ponta do pincel em um pote de tinta preta e me preparo para começar a pintar. Mas antes que eu começasse, um dos vigilantes parou em frente a minha cela, com um cassetete em uma mão e na outra a chave que abriria minha jaula.

— Parece que você acertou de novo aberração! – Ele abriu a grade e deu um sorriso que me deixou levemente enojado. – Deve ter sido bom prever a morte do medico que te torturou todos esses anos.

— Acha mesmo, que se fosse algo bom, eu estaria preso aqui? – Perguntei tampando o pote da tinta e a guardando no canto. — Mas devo confessar que foi uma das visões mais prazerosas que ja tive.

     Levanto do chão frio e caminho para fora da jaula, passando pelo homem fardado. Sigo pelo corredor escuro escuro, por onde passo à nove anos. Não há cor, não há luz, não há promessa de qualquer coisa senão horror do outro lado. Sinto meus pés cada vez mais gélidos, minha respiração cada vez mais ofegante. Eu estou cansado. Já não aguento mais.

     Paro em frente a uma porta iluminada por uma lâmpada, que vive piscando de tão velha. O guarda passou em minha frente, me empurrando, e bateu três vezes na porta. Esperamos alguns minutos até ouvir o som de que estava destrancada.

     A Luz forte que tinha no cômodo me fez ficar um pouco desnorteado, pisquei varias vezes até conseguir enxergar tudo normalmente, para enfim poder olhar o rosto do meu mais novo pesadelo.

     Ele é lindo!

     Seu cabelo era louro, já seus olhos, castanhos escuros. Sua linha da mandíbula definida. Seu físico era magro, alto. Isso me dava ainda mais medo, aqueles que me prenderam, não colocariam um medico tão novo, para cuidar de mim se ele não fosse suficientemente bom.

- Irá precisar da minha presença aqui, doutor? – O meu mais novo pesadelo negou com a cabeça, o vigilante saiu da sala de imediato, fechando a porta e me deixando sozinho com o meu mais novo torturador.

- Enfim a sós... - ele esboçou um sorriso largo, que me deixava com ainda mais medo, porque ele parecia ser uma boa pessoa.

- Não precisa ser gentil comigo, sei que vai me torturar! – sentei na cadeira em frente a sua mesa, fitando os olhos castanhos.

- Torturar? Quem te disse que eu vou te torturar? – perguntou desentendido.

     O que ele acha que eu sou? Burro? Todos me torturaram ao nao conseguir me controlar, ele não será diferente.

- Foi o que o medico antes de você fazia, e o que o anterior a ele também fazia... – passeio com meu dedo o novo móvel de madeira daquela sala – Não importa, já estou acostumado.

- Por que faziam isso com você? – Ele realmente está jogando comigo, mas nesse jogo, eu não sou um novato.

- Pelo visto, o Dr. Pesadelo não é alguém que se interessa em ler a ficha do paciente antes de recebê-lo.

     Ele sorriu mais uma vez. Seu sorriso era tão lindo.

     Nada disso! Se recomponha Prem, ele é o seu torturador!

- Você é inteligente, assim como tem na sua ficha... – Ainda me olhando nos olhos, enfiou a mão em uma pequena pasta com alguns papeis, retirando aproximadamente um ficha com vinte folhas e jogou sobre a mesa. – Eu sou contra torturas físicas, então fique tranquilo!

-Está me pedindo para ficar tranquilo? O Dr. Pesadelo sabe a quantos anos estou aqui?

- Nove anos... – Ele deu três tapinhas no documento – O que eu não entendo Prem, é o porquê de terem de prendido.

- Talvez pelo fato de que eles não compreendem que sou um ser humano com uma anomalia e não uma arma de guerra, são burros o suficiente para me considerar uma ameaça.

- Você é uma ameaça? – sua expressão era compreensiva, o que me deixava confortável para prosseguir e creio que talvez seja meu maior erro.

- Depende.

- Como assim?

- Sou uma ameaça para aqueles que não conseguem conviver com o fato de que a vida um dia terá fim.

      Ele sorriu mais uma vez, se ajeitando na cadeira.

- Você é realmente muito inteligente – O doutor caminhou até uma bancada onde tinha umas folhas e uns lápis, pegou alguns e me entregou – E bonito.

      Qual a desse maluco? Deviam prender ele, isso sim, se encontra mais insano do que pensam que estou.

- Pra quê isso? – peguei as folhas e os lápis coloridos.

- Na sua ficha diz que você gosta de arte

- E por que está me dando isso?

- Porque acho que deve ser sufocante, ficar em uma cela preso, sem poder fazer nada.

     Antes que eu pudesse responde-lo. Meu peito doeu, minha visão escureceu, meu corpo ficou mole e minhas pernas não conseguiram me sustentar, me fazendo cair no chão desmaiado.

“ – Prem! Prem, não me deixe... por favor meu amor não me deixe."  

you ɑre the reɑson × bounpremOnde histórias criam vida. Descubra agora