Last

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    “ – Prem! Prem, não me deixe... por favor meu amor não me deixe!”

     Acordei assustado, novamente a mesma visão. Novamente a mesma pessoa.

     Olhei para o lado me lembrando da noite passada, mas Boun não estava la. Será que aquilo tudo não passava de alucinações causadas pela falta de alimentação, ou pelo tempo confinado aqui? Não pode ser. Aquilo era real. A lembrança de seus braços em volta do meu corpo, a força de suas mãos me apertando, seus lábios colados nos meus.

     Eu me levantei rapidamente da cama e corri até a grade da cela.

- Alguém! – não sabia por quem chamar, só sabia que queria que alguém me ajudasse, que me dissesse que não estou louco.

     Não posso estar louco.

- O que você quer? Porque está gritando? – O guarda se aproximou com o cassetete em mãos, ele nunca precisou usá-lo comigo, sempre o obedeci, mas agora era diferente, precisava saber o que estava acontecendo.

- Onde ele está? Boun? Onde ele está? – O homem gargalhou, como se aquela pergunta fosse uma piada

- Está ficando louco? Não sei quem é esse de que você está falando – falou ainda sorrindo como um grande idiota que era.

- O psiquiatra Noppanut Guntachai, que substituiu o velho Chanleeinporn depois que eu previ sua morte.

- Você realmente está maluco... – falou me olhando confuso – Ainda não conseguiram te achar um psiquiatra, nenhum deles quer tomar conta de alguém como você.

- Mas eu já tenho um, Boun... – me agarrei na grade desesperado e acabei por ser atingido em minhas mãos.

- Olha aqui aberração, não sei quem é esse Boun... – falou apontando o cassetete novamente pra mim, eu não tinha medo da morte, não mais – Mas se você não ficar quieto, eu vou te bater até você ficar irreconhecível.

     O vigilante desapareceu pela escuridão, me deixando novamente a sós.

     Sentei na cama e encarei o chão gélido no qual ele dormia.

     Depois de tantos anos, tantos meses, tantos dias, tantas horas eu tinha finalmente enlouquecido.

     Meu rosto está moldado em uma forma neutra, meus braços e pernas, cobertos de gesso. Os papeis e lápis que ele me deu caíram no chão. O mundo perde o foco. Meus olhos se fecham, meus pensamentos se deixam levar pela corrente, minhas memórias aplicam-se pontapés no coração.

     Observo imóvel o lápis azul rolando para o canto do quarto. O lápis que ele me deu. Talvez o governo ficou zangado por ele não estar me torturando. Talvez o tenham tirado daqui e dado ordens para os guardas dizer que nunca houve um Dr. Pa. Talvez tenham o prendido em outro lugar, pior, talvez tenham o assassinado.

     Pensei em gritar, mas sabia que não iria adiantar de nada. Levantei rapidamente e me joguei no chão apanhando as únicas memórias matérias que eu tinha dele. Minha cabeça começou a girar, minha vista escureceu e eu apaguei mais uma vez.

“- Estou morrendo?

- Prem, me perdoe...

- Não tem que... pedir perdão.

- Tenho sim! Não me deixe, por favor...

- Ninguem pode enganar a morte.

– Prem! Prem, não me deixe... por favor meu amor não me deixe!”

     Novamente a mesma visão. Desta vez mais clara.

     Eu o conheço.

     É ele. Só pode ser ele.

you ɑre the reɑson × bounpremOnde histórias criam vida. Descubra agora