Middle

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     Meus olhos se abrem calmamente, como se quisessem continuar fechados por mais tempo, minhas pálpebras pesadas finalmente me deixam retomar a visão, olhei ao meu redor, e estava novamente em minha prisão.

     Outra visão perturbadora.

     Não é a primeira vez que vi esta mesma cena, mas desta vez,  a dor em meu peito foi bem mais forte.

     Alguém estava gritando por mim, para que eu ficasse com ele, mas eu estava morrendo e não se para a morte, aprendi isso quando tentei evitar a morte dos meus pais, posso ter impedido o acidente, mas eles faleceram de todo jeito um tempo mais tarde. Mas essa visão que tive, mostra uma pessoa que parecia se importar comigo, aparentava me querer bem, o que era ainda mais confuso. Eu não conhecia mais ninguém. Fora, que estou rodeado de pessoas que me odeiam e me querem ver morto.

     Quem será esse homem dos meus sonhos?

     Corro até o canto do quarto e apanho minhas tintas e meu quadro. Posiciono a tela entre o chão frio e minha cama. Tento me lembrar dos traços da pessoa da minha visão, mas é difícil se lembrar de alguém sem rosto. Passo o pincel calmamente no canto esquerdo da tela, tentando fazer um circulo quase perfeito, para simbolizar a luz do lugar. Depois marco uma linha na horizontal, simbolizando a divisão entre a parede e o teto. Desenhei com cuidado as linhas do cabelo dele, que eram lisos, ralos e acho que caiam em seu rosto. Por fim, desenhei mais uma vez, o cordão dourado, com um pingente de trevo de quatro folhas.

- Pelo visto você está melhor… – Eu olhei para trás rapidamente.

     Ele estava parado me fitando, do lado de fora da cela. O guarda abriu novamente a porta, para que o doutor pesadelo entrasse.

- O que está fazendo aqui? – levantei apressado, fitando o rosto fino do médico.

- Eu vim ver se você estava melhor... – peguei a tela, é a escondi atrás das outras.

- Eu estou bem, isso sempre acontece – voltei-me para ele, protegendo meus quadros.– Agora já pode ir.

- Na verdade, enquanto eu andava por esses corredores escuros, tive a idéia de viver com você aqui por alguns dias – ele começou a olhar em volta com uma expressão desconcertada.

- Não! Aqui é o único lugar que me sinto em paz! Não pode vir ficar aqui!

- Sabe que eu posso...

- Todos os dias, que eu fui torturado friamente, meu consolo era voltar para meu cativeiro e dormir.

- Eu não vou te fazer mal, Prem... – Ele se aproximou, colocando sua mão direita em meu ombro – Eu prometo!

- Não me toque – retirei sua mão de meu ombro e retrocedi dois passos. – Por que eu iria confiar em você?

- Porque eu não sou um monstro, sou um psiquiatra

- Desculpa, mas todos os psiquiatras que conheci eram monstros! – eu estava corajoso, meus punhos cerrados, demonstrava minha força inexistente.

- Mas eu não sou, eu virei psiquiatra para ajudar as pessoas e não para torturá-las... – Ele tentou uma aproximação mais uma vez – Me dê uma chance?

     O que vou fazer? Ele está me pedindo.

     Ninguém nunca me pediu nada.

     Apenas me ordenavam.

- Não toque em mim – Falei me sentando na cama dura que já não era proporcional para meu tamanho e me encolhi.

- Obrigado! – Ele sorriu mais uma vez, sentando no chão a minha frente. – Esqueci de me apresentar, sou Boun.

you ɑre the reɑson × bounpremOnde histórias criam vida. Descubra agora