Um Escolhido

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        No grande e imenso deserto, um corpo se encontrava deitado com suas pernas semienterradas na areia e seu peito virado para o céu, se nesse mundo ainda existissem urubus eles estariam rodeando o pobre coitado, somente esperando a hora em que a morte viria forçar o ultimo suspiro para fora de seu corpo e assim eles teriam um belo banquete.

            - Ei garoto – disse um homem com barba rala e um chapéu bege de vaqueiro se aproximando do corpo – Se conseguir se levantar eu te arranjo um serviço – sorriu o homem puxando uma velha sniper da cinta de suas costas e apontando-a para a cabeça do corpo imóvel – Agora, se você não quiser se mexer nos próximos dez segundos, eu aproveito e te deixo sem se mexer pro resto da eternidade.

            O corpo abriu os olhos lentamente e viu o homem a sua frente, e com as poucas forças que tinha se levantou.

            - Ótimo! Você tem força de vontade e eu respeito isso, ou talvez a velha Biter te deu uma opinião mais concreta – riu.

            E em apenas segundos o corpo se desfaleceu a sua frente.

            - Bem, seria pedir demais que você saísse andando por ai.

            O homem acordou envolto de um pano velho com seu corpo próximo de uma fogueira rasa na escuridão do deserto.

            - Então você não morreu. – uma voz veio da escuridão.

            Depois de um tempo os olhos do rapaz acostumou-se com a escuridão e viu o homem a sua frente, tirando o chapéu e a barba rala que fora o máximo que conseguira reparar antes de desmaiar, o homem usava uma jaqueta de couro da cor da areia do deserto e uma calça bege bem esfarrapada, por baixo de seu casaco uma camisa preta que se misturava com a escuridão com um óculos escuros pendurado em sua gola no qual suas lentes refletiam uma centelha que saia da fogueira.

            - Quem é você? – disse o garoto com a voz rouca.

            - Eu lhe pergunto o mesmo, mas eu acho que o cara que tem a arma recebe a preferência. Não acha? – sorriu.

            O homem lançou um cantil de metal na direção do garoto.

            - Beba, se não você não vai conseguir me contar de onde você vem.

            O garoto pegou o cantil e bebeu todo o seu conteúdo em frenesi. Depois que saciou sua sede que lhe parecia eterna, o garoto voltou-se para o homem.

            - Bem... Você não iria acreditar.

            - Ora garoto, eu já vi um cara que comeu o próprio olho enquanto a sua frente ele tinha suprimento para sobreviver por um mês. Nada me surpreende neste mundo.

            - Eu era de uma sociedade organizada...

            - Você é um garoto de bunker? Não acredito... Deixe-me ver seu pulso.

            O garoto estendeu o pulso na direção do homem. Uma pulseira de borracha estava lacrada em sua carne, a pulseira era de um branco artificial com um número cravado em um azul cintilante.

            - Número 22-3C. Então você era do bunker 3C.

            - Quer dizer que isso...

            - Isso não é nada demais. Você realmente achou que sua “sociedade organizada” era um segredo? Mas isso explica suas roupas chiques.

            O rapaz utilizava vestes brancas do mesmo tom de sua pulseira, elas pareciam ser feitas de um material próximo ao plástico, elas possuíam nenhum detalhe e pareciam tão entediantes quanto seu dono, porém o que destacava em seu ser era seu cabelo loiro cortado em formato de tigela e seus olhos azuis, um típico fenótipo fora do comum aqui no inferno.

            - Mas continue. Me desculpe interromper sua formidável história. – riu o homem.

            O garoto encarou o homem que o debochava com um olhar sério.

            - Eu era de uma sociedade organizada. Mas alguns dias atrás fomos atacados por bárbaros.

            - Bárbaros? Eu sei que um bunker é algo bem isolado daqui de fora, mas aqui não existem bárbaros, só existem os vivos e os mortos. E me impressiona que você ainda está com os vivos. Como você sobreviveu?

            - Eu... – o garoto ficou em um silencio mórbido por um momento – Eu me escondi no meio dos corpos. Eu deitei no meio dos meus amigos mortos e fingi que era um deles. – algumas lágrimas saltaram do rosto do garoto.

            O homem bateu palmas.

            - Bravo! Você usou a cabeça, uma coisa bem rara por aqui.

            - Eles mataram todos, roubaram todos nossos suprimentos e sumiram. – disse o garoto cabisbaixo – Eu fugi, não consegui fazer nada, eu corri pelo deserto até não conseguir aguentar mais.

            - Fugiu – disse o homem triunfante – Mas continua vivo. Isso é uma característica bem única ultimamente.

            - É isso. Minha história não era tão formidável quanto eu imaginava que seria, e a sua?

            - Eu não preciso ter uma pra te fazer sentir melhor com sua injustiça – riu o homem – Mas você pode ter meu nome. Sou Jon Jones Junior.

            - Eu sou 22 – disse o garoto retribuindo a gentileza.

            - Hmmmm... Esse nome é um saco, na verdade nem é um nome de verdade é só um número qualquer. Já que você saiu da sua “sociedade” e está aqui no inferno, você precisa de um nome apropriado para viver aqui. Que tal Steve?

            - Steve? – disse o garoto confuso

            - É o melhor que pude pensar... Tem um melhor? – disse encarando-o

            - Bem, eu acho que Steve é melhor que um número – sorriu.

            Um enorme silêncio percorreu depois dessa sentença, o garoto olhou para seu salvador através da fraca luz da fogueira e tentou esclarecer algo em sua mente em meio aquele momento constrangedor.

- Eu tenho outra pergunta. – disse meio envergonhado – Porque você me ajudou?

            - Ora Steve! – o homem ajeitou o chapéu - Eu vejo potencial em você, e agora que descobri que você é de um bunker, isso aumenta suas chances de ser muito mais do que eu imaginava, ou você pode acabar morrendo no primeiro mutante que encontrarmos. O que quero dizer é que... Eu busco um parceiro mercenário. E talvez você seja o escolhido.

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