No maior inferno de todos nasceu ela. Era a menina mais linda que ele já vira, possuía seus olhos e o rosto de sua amada, a melhor combinação genética que já pôde presenciar, porém no inferno nada é sempre tão feliz, sua esposa dera o último suspiro ao dar à luz para aquela pequenina centelha de esperança.
Com o rifle em sua mão ele e seus colegas juraram proteger a vida daquela criança, dariam a ela uma infância normal naquele mundo perdido, mesmo que isso custasse as suas almas.
Betty cresceu como uma princesa num palácio de poeira, Wolfgang criou uma reputação monstruosa somente para protegê-la. Era conhecido como o lobo de sangue e sua gangue era sua alcateia selvagem, ninguém ousava se aproximar deles e muito menos da pequenina garota que era sua protegida.
Uma criança alienada do mundo hostil que a rodeava, um mundo que levava crianças como Betty ao encontro da morte a cada segundo. Betty nunca via muito seu pai, Wolfgang sempre viaja muito a procura de dinheiro ou suprimentos, mas sempre voltava com alguma lembrança para sua amada filha, desde uma boneca de trapos que ele mesmo fizera com alguns matérias roubados até comidas exóticas que ganhava de mercenários em troca de assassinar animais mutantes de grau elevado, enquanto isso a garota ficava naquele casarão abandonado na velha cidadezinha de Krym junto de Richard o braço direito de seu amado pai. Tudo parecia perfeito para a garotinha e seu mundo colorido.
Porém o tempo passava e a gangue dos lobos ficava velha, assim como Betty.
- Devemos ensina-la a se defender – disse Richard para seu colega numa noite fria – Estamos ficando velhos, não podemos protegê-la pra sempre.
- Eu preciso – disse Wolfgang encarando o chão – Vendi minha alma para o demônio para que ela não tenha que ver esse mundo horrível, não consigo mostrar a ela o que eu realmente sou. – Wolfgang pausou e deixou uma lagrima escorrer no escuro – Não quero que ela saiba que seu pai trazia bonecas junto de cabeças para casa. – o homem se levantou – Ensine ela, eu vou para Zartan completar um serviço.
E Wolfgang partiu na manhã seguinte e nunca mais voltou.
A realidade era tão fétida e repugnante que não se conteve ao ser ignorada pela garota por doze anos seguidos. Depois de três meses que Wolfgang partira para Zartan, a cidade de Krym recebeu a visita de Cain e os Punks os bandidos mais insanos da costa oeste. Ao ouvir que existia uma lenda na cidade o jovem mercenário não se conteve e foi banhar seus punhos com o sangue do lendário Wolfgang, porém ele somente encontrou parte da gangue que permanecia no local, mas isso não era importante para Cain, ele só queria ver sangue.
Uma garota de doze anos deixou de ver um mundo colorido e passou a ver um mundo composto de vários tons de vermelhos. Fora um massacre sem igual, a gangue era lendária, porém Cain era jovem e não tinha algo que todos os adversários de Wolfgang tinham, medo. Ao matar todos, o homem proclamou Betty como seu troféu, tomou a casa de Wolfgang e passou a viver lá como o mais temido da cidade, abusando de sua reputação para explorar os outros como bem entendesse. E o inferno que batia na porta da vida de Betty tinha entrado de vez em sua realidade, era usada como um brinquedo dos bandidos somente pelo prazer e pela insanidade deles e nem mesmo eu seria capaz de poder narrar o horror que uma garota como ela teria passado.
Com quatorze anos, farta do inferno que vivia Betty tentou fugir de seu cativeiro e arriscar o deserto, a morte no deserto era muito mais convidativa para ela.
Mas a vida é injusta e toda ação há uma reação, e as pernas de uma garotinha que nunca tinham corrido na vida não foram páreas para as pernas de soldados treinados para matar. Cain não gostou daquilo e decidiu puni-la de forma adequada.
Próximo a leste Krym há o trem eterno, onde havia uma estrada de ferro abandonada no qual a cada três dias passava o mesmo trem em uma velocidade incrível. Cain amarrou a perna direita de Betty ao trilho e deixou-a lá por dois dias, acompanhou o terror da garota que se debateu por dois dias em vão até no terceiro dia sentir o enorme colosso de ferro esmagar sua perna direita em questão de segundos. Depois disso o homem estancou a ferida da garota e levou-a de volta para casa.
- Por que você não me mata de uma vez? – dizia ela com o olhar vago
- Você é meu prêmio belezura – Cain sorria insanamente – Não posso me desfazer de você. Você só precisa ser adequadamente adestrada – sorriu.
Betty pensou em sumir com sua existência, seria fácil e indolor. Mas quando estava prestes a se matar com uma faca que ela mesma fizera a imagem de seu pai veio a sua mente.
- Você deve viver, não importa como.
Então os olhos que um dia eram iguais a seu pai tornaram-se opacos, assim como os de um assassino sem mente. Naquela noite Betty levou todos os bandidos juntos dela, dormiu com eles e assim que todos entraram em sono profundo, cortou a garganta de todos, um por um.
De todos que cresceram nesse mundo perdido Betty foi a única que não perdeu sua realidade, porém o choque fora grande demais para seu cérebro e a única saída para sobreviver foi criar uma segunda Betty, uma fria e sem coração que é capaz de matar somente para sua própria sobrevivência. Dizem que a garota atravessou o deserto sozinha, apenas com uma faca e uma shotgun, a garota moldou com a própria areia do deserto e um lança-chamas que arrancara dos braços de um corpo, uma perna de vidro que colocou como prótese no lugar de sua antiga perna direita.
A barman vendedora de armas do Distrito 20, Betty é a mercenária chamada de princesa da perna de vidro, poucos sabem o que ela passou para chegar até ali, e se os mortos falassem muitos saberiam do que ela é realmente capaz, mas é uma pena, pois mortos não falam.
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No One's Land
FantasyBem vindo a terra de ninguém... Seu mundo distópico favorito, cheio de areia, mutantes e balas... Muitas balas! Aqui é morrer ou ser morto e não há muito mais o que dizer sobre isso. Se procura finais felizes você veio ao lugar errado. Aqui a morte...