O homem dos meus sonhos

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Colégio Carvalho, começo da tarde

A manhã tinha sido agitada, os pensamentos de Malu eram um turbilhão de perguntas e sentimentos estranhos que as vezes subiam com um gosto azedo na garganta. Diversas vezes aproveitava o intervalo entre a troca de aulas e ia ao banheiro lavar o rosto, acordar daquele sonho que parecia não ter acabado ainda. Não era possível mas mesmo assim, o garoto de seus sonhos no seu colégio estava frequentando as mesmas aulas, olhando-a doutro lado da sala com aqueles olhos escuros e profundos capazes de conhecê-la inteira apenas por um olhar. Era horripilante mas também irresistível. Se continuasse olhando para ele, tinha certeza que caminharia em sua direção sem perceber do o porquê ou como. Basicamente um imã. 

"O que esta acontecendo comigo?"  ressoava na cabeça da loura na última aula de história geral do dia, mesmo sendo a matéria preferida dela não havia mais espaço para nada além do sonho e o rapaz. Precisava resolver isso, pois tinha certeza que não poderia voltar a dormir sabendo que encontraria ele lá. Mais uma vez. Um arrepio veio e o sinal tocou, despertando tudo e todos os alunos. Logo a sala foi preenchida pelos sons de passos, conversas e materiais recolhidos. A garota demorou para se recompor e viu ele passando na frente da sala com a cabeça baixa. Com a mente decidida, apressou para arrumar as coisas e ir atrás dele. 

O corredor do colégio foi invadido pelos alunos libertos de suas aulas e preparados para reunir com os amigos pelo resto do dia. Malu tentava andar mais rápido mas era quase impossível se mexer no meio de tanta gente. Com o olhar fixo no garoto moreno alto com a jaqueta de couro, seguia sem se importar como passava, empurrando, dando um toque com o cotovelo para abrir espaço. Finalmente tinha se aproximado o suficiente para esticar a mão e tocá-lo no ombro mas Miguel apareceu ao seu lado e estranhamente o corredor tinha esvaziado, sem nenhum rastro do garoto de jaqueta. 

– O que você está fazendo? – a voz do melhor amigo soou abafada e um estalo fez o som voltar ao normal, Malu nota depois que ele havia estalado os dedos na frente de seu rosto – Seu rosto está branco mais do que o normal, está tudo bem?

O coração palpitava, batendo rapidamente contra o peito. Nunca tinha ficado assim, essa adrenalina, essa êxtase de seguir uma pessoa, não qualquer pessoa, seguir ele... Era algo novo e bom. Suspirou e olhou para o rapaz parado ao seu lado com o rosto enrugado e os olhos verdes brilhando de curiosidade.

– Eu preciso falar com ele – concluiu balançando a cabeça – Não posso desistir, preciso descobrir o que foi meu sonho.

Hesitante, Miguel trocou o peso dos pés e olhou para os lados. A sua amiga tinha ficado louca finalmente, se não fosse pelos pais que provocariam isso, ela daria o jeito de fazer isso consigo mesma. Apoiou a mão no ombro dela e apertou suavemente as pontas dos dedos. 

– Tem certeza? É apenas um sonho, Malu. Talvez não seja realmente alguém que exista e você criou essa ilusão...

Com um empurro, Maria Luisa tirou a  mão do amigo e recuou para o lado. Balançou a cabeça soltando alguns fios do rabo de cavalo feito algumas horas atrás. 

– Não, e-e-eu tenho certeza que era ele. Você tem que acreditar em mim.

Pediu fitando nos olhos o garoto que enfim deixou de lado a questão, sabendo que a amiga precisaria ouvir a verdade pelo tal homem do sonho. Antes de deixá-la sair em sua aventura sem pé e cabeça a segurou pelo pulso e abriu um sorriso sem graça:

– Tome cuidado, vai que ele te assombre pelo resto dos seus dias.

A brincadeira deixou a tensão que havia surgido ir embora, acabando com os dois sorrindo. Malu acena com a cabeça e sai pela escadaria do colégio para fora. 

(...)

O pátio do colégio ainda estava cheio, alguns alunos parados nos corrimões da escadaria, outros perto do estacionamento, a movimentação não ajudava a achá-lo mas ela já estava muito longe para desistir. Seguiu para um lugar mais disperso na direção dos carros e viu o garoto seguindo a um carro preto ao fundo do estacionamento. Apertou o passo em seus tênis e correu até diminuir o passo, estando perto dele.

– Espera!

Exclamou antes que ele entrasse no carro. Recuperava o ar pela boca pois tinha esquecido como o estacionamento era grande. Levou a mão ao peito que subia e descia freneticamente. 

– O que foi...?

Ao ouvir a voz dele uma sensação percorreu o corpo de Malu, ela reconhecia aquela voz como a própria. Era ele, não tinha engano. Com os passos hesitantes se aproximou dele, deixando um espaço confortável para ele mas mesmo assim aquela vontade de se jogar nos braços dele e sentir seu calo vinha cada vez mais forte o quanto mais se aproximava. Segurando-se para não fazer nada disso, continuou:

– Desculpa, é que eu te vi de manhã no corredor e eu- abaixou a cabeça, era impossível encarar ele. "O que esta acontecendo com você Maria Luisa??"  gritou para si mesma nos pensamentos – Eu tenho essa sensação que conheço você, de algum lugar.

As palavras saíram um pouco abafadas, fazendo o rapaz inclinar-se para ouvir melhor. Aquele calor e suor veio pior ainda, parecia que sentia o toque dele em sua nuca e na cintura como no sonho, os fios puxados para baixo... Malu ergueu o rosto deparando com ele a olhando, o cenho franzido e uma reação negativa no mesmo.

– Eu realmente nunca te vi... 

Desapontada, reprime os lábios compreendendo e balança a cabeça.

– T-tudo bem, desculpa.

Uma risada com um som nostálgico para Malu ressoou dele que abriu um sorriso largo. Era muito bonito sorrindo.

– Você pede muitas desculpas, isso sim.

Antes que percebesse, ela já estava se desculpando e arrancando mais um sorriso dele. Recuou para trás, despedindo-se dele.

– Vou indo, até...

Observando ela ir, na direção contrária dele algo doeu dentro do rapaz que respirou fundo sabendo que não ia durar muito essa imagem dela indo.

– Até seus sonhos, minha Pequena.


Dançando Com O DemônioOnde histórias criam vida. Descubra agora