The Forbidden Book

Cap II

França, 15 de Agosto de 1439, século XV.

Perol on:

Sinto uma parte de meu rosto levemente quente e iluminada, com certeza deve ser Marylle abrindo as cortinas do meu quarto. Instintivamente me reviro na cama e coloco o lençol para cobrir meu rosto novamente, impedindo a claridade atingir meus olhos.

- Nada disso, mocinha, já está na hora de levantar! - escuto a voz da minha mãe, fico confusa por ela ir me levantar e imediatamente surge em minha mente a conversa de ontem com meus pais a respeito da festa que aconteceria ao fim da tarde.

- Mãe, deixa eu ter meu sono de beleza, não vai querer sua filha com olhos inchados na frente das pessoas, certo? - dei meio sorriso ao pensar que dormiria pelos menos mais vinte minutos antes dela voltar aqui.

- Sinto lhe informar, minha querida, que seu sono já passou do meio dia. - escuto ela dar uma meia risada e suspirar logo em seguida. - Vamos, Perol, levanta, não quero ter que ir até você e utilizar a arma secreta. - um arrepio passa em meu corpo, não quero isso nem morta.

- Não! - me levanto na maior velocidade, jogando lençóis e até meu travesseiro ao chão. - Tudo menos aquilo! - vejo minha mãe abrir um sorriso maléfico e vir em minha direção com as mãos a vista como se fosse pegar algo.

- Te dou quatro segundos para entrar no banho, ou... - antes dela terminar sua frase, já havia escapado para o banheiro e fechado a porta, ouço sua risada no quarto e antes de sair, escuto um: “boa menina” seguido de risadas enquanto deixa o meu quarto.

A tarde havia passado bem turbulenta, digamos. As empregadas que estavam encarregadas de tomar conta de mim, sofriam com meu pensamento sobre maquiagens, vestidos com decotes ou lacinhos, e até saltos altos. Não sou uma pessoa tão exigente com essas coisas, na real nem me importo, mas também não queria virar uma boneca de porcelana ou um palhaço como certas damas que se encontravam com minha mãe de vez em quando. Ri me lembrando da Sra. Nicole que uma vez por causa de sua grande quantidade de maquiagem por onde passava deixava sua “marca”.

- Srta. Já terminamos o seu preparo, por favor se olhe no espelho se achar algo ruim. - falou uma das empregadas que estava como chefe ao tomar conta de mim.

Ao me olhar, me senti como se fosse outra pessoa, meu cabelo castanho escuro curto havia uma trança pequena com algumas presilhas de rosas prateadas a decorando. A minha maquiagem era simples, mas não tão simples, vendo que destacava bem os meus olhos pequenos e minhas bochechas estavam com um rosa clarinho, na minha boca um batom vermelho não tão vibrante. E meu vestido preto com vermelho escarlate, com mangas médias, um espartilho para realçar a minha cintura e algumas saias para dar volume ao vestido. Estava com um salto médio preto com detalhes dourados na correia que vinham até o calcanhar dos meus pés.

Antes de dizer algo e poder constatar tamanha felicidade e dizer que todas fizeram um trabalho bem feito, minha mãe já falava eufórica na porta.

- Ah, meu Deus, Perol, minha jóia mais preciosa está ainda mais bela! - falou e antes de vir correndo me abraçar, a empregada chefe se atreveu a ficar em frente a minha mãe, como se dissesse que ela estragaria todo o trabalho que fizeram com aquela animação dela. - Está bem, não vou tocar no belo trabalho que fizeram. - disse meio triste, mas logo depois abriu um sorriso em animação a algo que pensou por pequenos minutos.

- Mãe, o que houve? A festa já vai começar? - perguntei e ela me olhou saindo de seus pensamentos.

- Não, ela começa daqui a alguns minutos, mas estava pensando em lhe chamar para um passeio pela casa. - falou e pude entender do que se tratava.

- Ótimo, acho que é bom tomar um ar antes de ver os senhores que meu pai conhece. - falei e ela deu uma risadinha, a empregada chefe nos encarou desconfiada, mas deu de ombros.

Quando saímos do meu quarto, passamos pelo corredor da casa e viramos uma ou duas vezes a direita chegando a uma grande porta de madeira, onde atrás dela se localizava a cozinha. Senti um pouco de pena das empregadas e funcionários, pois toda vez que havia esses grandes eventos em casa, mamãe e eu fazíamos uma pequena bagunça com a comida.

- Olá, Filliphe. - minha mãe adentrou a cozinha sorrindo e eu apenas a seguindo.

- Senhora?! O que faz aqui? - disse o cozinheiro meio assustado, minha mãe deu uma risadinha que soou um tanto maléfica e quis rir também.

- Nada demais, o que tem para a comida de hoje? - perguntou um pouco despreocupada olhando ao seu redor.

- Não posso dizer, minha senhora. - falou ele, um pouco nervoso.

- Oras, Filliphe, seja uma pessoa legal com a curiosidade alheia. - disse minha mãe um pouco séria, era óbvio que gostaria de rir a qualquer momento.

- Senhora... - parou no mesmo instante, pensando em algo para saciar a curiosidade de minha mãe. - O senhorio não vai gostar muito se eu lhe dizer, inclusive acho que ele está bem atrás de você. - disse ele, eu e minha mãe nos assustamos e nos viramos para ver se meu pai estava realmente ali. Num ato rápido estávamos fora da cozinha, Filliphe havia nos pegado.

- Ah não, eu descobriria com certeza, aquele Filliphe. - minha mãe disse e eu apenas ri da situação.

Quando tentaríamos voltar a cozinha para brincar um pouco mais com Filliphe, um guarda veio nos avisar que a festa estava prestes a começar e meu pai estava esperando por nós.

- Bem, está na hora, devemos ir. - disse minha mãe, eu suspirei e logo após comecei a segui-la em direção ao salão de nossa casa.

Quando chegamos de encontro ao meu pai, ele nos cumprimentou com um abraço e um beijo na bochecha de minha mãe e na minha testa.

- Está linda, Perol. - disse e sorri em agradecimento. - Por favor, seja simpática com as pessoas, confio muito em você. - falou e concordei com a cabeça, ele sorriu orgulhoso.

Quando abriram a porta para o salão, observei uma grande quantidade de pessoas observando a gente entrar, alguns nos olhavam com curiosidade e outros apenas sorriam e acenavam com a cabeça para o meu. Estava muito nervosa.