Capítulo 2

4 1 0
                                    


Ada Hayward, em seu íntimo, estava agradecida pelo funeral da própria mãe; tinha a desculpa perfeita para ficar em silêncio durante a ceia, ainda que vários amigos e conhecidos que não via a meses ou anos estivessem no castelo.

Pela mãe, não nutriu muito afeto, em especial durante os últimos cinco anos. Lady Hayward foi uma mulher quebrada pelo luto, que amava mais aos mortos que aos vivos. E Ada, por mais que tivesse pouco espaço no coração para rancor, não perdoava a mãe por tratar o filho mais novo como um aleijado imbecil.

Era para Brandon Hayward que o extremo abatimento de Ada parecia estranho. Entre eles não havia segredos, mesmo o ressentimento de ambos em relação à progenitora. Não havia segredos... Exceto um, que Ada jamais ousaria revelar ao irmão.

Sem ousar dizer algo à mesa, ele lhe lançava olhares questionadores. Ele não costumava falar muito durante quaisquer reuniões sociais, visto que todos o tratavam como a Lady Hayward fazia em vida.

— Por que me olha assim, Brandon? Estou perfeitamente bem. — esclareceu ela num murmúrio, antes que os convidados percebessem algo de estranho.

— Sim, da mesma forma que minhas pernas estão perfeitamente bem. — respondeu ele, o tom monocórdio mas as palavras carregadas de sarcasmo.

Ele a conhecia muito bem. Era um milagre Ada ter mantido qualquer segredo dele por tanto tempo.

— Talvez esteja ficando doente. Acredito que seja melhor me retirar.

— Eu achava que se esconder nos aposentos era o meu papel nas reuniões sociais.

Ada não pôde evitar um sorriso, pois era mesmo o que ele costumava fazer quando estava entediado.

— Podemos trocar os papeis por uma noite. Além do mais, agora temos o Lorde Lancaster para entreter os convidados.

— Vou avisá-lo que você não se sente bem e ele dará suas desculpas para os convidados.

— Agradeço.

Com um aperto no ombro do irmão, Ada foi embora do salão cometendo a grosseria de não se despedir de ninguém. Ser grosseira não era do seu feitio, mas debulhar-se em lágrimas também não o era, e passou a noite a um momento de distância de chorar até soluçar; preferiu fazê-lo na privacidade do quarto.

Ficara em pé ao portal de entrada até o cair da noite, e o convidado que mais aguardava não chegou. Não sabia nem ao menos porque o aguardava. Ele nem ao menos respondeu a carta! Ada sentou-se a penteadeira e puxou o fundo falso de uma das gavetas, retirando de lá um maço grosso de poemas, flores prensadas, promessas sussurradas no papel ao longo de quatro anos.

Onde estava o noivo apaixonado com quem Ada prometera se casar? Perdera ele o interesse nas juras de amor eterno que fizeram, deitados na grama orvalhada da manhã? Fazia quase um ano desde a última vez que se viram pessoalmente...

As cartas mais recentes do maço eram deprimentes se comparadas com as primeiras.

O pior de tudo não era perdê-lo. Era, com a clareza da distância e da maturidade, perceber que cometera um grande erro por causa de uma paixão juvenil. Caso se casasse com alguém tão abaixo do seu nível social, teria que ir embora de Alnwick para nunca mais retornar. O irmão possuía uma reputação a manter, e ela não aguentaria a reprovação da sociedade de Northumberland.

Como poderia trocar o irmão por uma paixão de verão?

Mesmo agora, sabendo que Brandon estaria bem assistido por Lorde Lancaster, não podia deixar de remoer a culpa de ter aceitado uma proposta que levaria a esse fim. Foi a culpa que a levou a persuadir Brandon de nomear o então Sr. Lancaster como Visconde, e convidá-los a morar no castelo, pois, quando a Lady Hayward estava no leito de morte, Ada percebeu que, caso fosse embora, Brandon ficaria só.

Um Bom CasamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora