Capítulo 4

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Isabela se adaptou bem à sua nova rotina de exercícios com a bicicleta e algum tempo depois decidiu se aventurar a praticar corrida. Algumas pessoas faziam isso no parque e ela resolveu tentar. Comprou roupas mais confortáveis e um tênis apropriado, encheu sua garrafinha de água e saiu de casa.

O caminho de casa até o parque dava, mais ou menos, quinze minutos, então antes da corrida Isabela andou de bicicleta pelo parque, ouvindo o som da floresta, como ela adorava fazer. Ela respirava fundo pra sentir o cheiro da natureza e sorria feliz por fazer parte de algo legal.

Voltou até a entrada e deixou a bike trancada na corrente, se alongou e começou a correr. Foi devagar, inspirando e expirando, quando percebeu já tinha dado a primeira volta.

"Acho que consigo mais uma" pensou e continuou sua corrida. A sede bateu e Isabela decidiu voltar até onde deixou a bicicleta, para buscar sua garrafa de água.

Parou de correr e se virou. Deu de encontro com um muro e caiu sentada no chão. Pelo menos era o que ela tinha pensado, até ouvir uma voz masculina em inglês brigando com ela. 

"Aiiii" ela gritou quando caiu. 

"Oh mer… Por que você virou de repente, sua louca?!!" gritou a voz em inglês. 

Isabela murmurou um pedido de desculpas e assoprou o cabelo que estava na frente de seu rosto. Quando percebeu quem era o dono da voz ela sentiu uma raiva que nem sabia que tinha dentro dela. 

"Seu estúpido, ridículo, acha que pode sair atropelando todo mundo?!" Isabela gritou tentando se levantar. 

…… 

Bruno Felipe era um Chef de cozinha muito famoso. Viajava o mundo levando a culinária brasileira. Tinha 26 anos e já havia conquistado fama mundial. Ele ainda não tinha o próprio restaurante, ele fazia somente aparições em restaurantes onde era convidado. 

Foi chamado para levar sua arte à um restaurante em Berlim, passaria duas semanas lá, a princípio. Chegou animado, adorava viajar. 

Perguntou na recepção do hotel onde ele poderia fazer uma corrida e indicaram uma floresta próximo dali. Então vestiu um moletom, colocou uma música pra tocar em seu celular que ele levava no braço musculoso e saiu. Na entrada do parque ele se alongou e começou a correr, estava adorando a energia do lugar e principalmente por não ter muitas pessoas. Já estava em sua terceira volta quando uma menina trombou com ele. 

Ela parecia super frágil, mas isso não bastou para amenizar sua irritação. Ele a tinha visto em sua frente, tinha até pensado em ultrapassá-la mas antes de fazê-lo a doida parou de correr do nada e se virou na sua direção. 

Ele xingou em inglês, não sabia falar alemão, mas depois se arrependeu quando a viu assoprando os cabelos da frente do rosto. Eles escondiam um par de olhos tão verdes, que ele ficou hipnotizado a olhando. 

Olhou para os lábios dela e percebeu que ela falava algo e que ele estava entendendo. "O que?! Ela está falando português?! E está me xingando??" ele pensou voltando a ficar irritado. 

"Você está errada! E ridícula é você!" ele disse a fazendo ficar quieta. "Vem, deixa eu te ajudar a levantar" suspirou esticando os braços pra ela se apoiar. 

"Não preciso de sua ajuda" Isabela disse se levantando, tentando limpar a calça que ficou cheia de folhas secas grudada. 

Bruno ia xingar novamente quando viu que sua mão sangrava. "Sua mão" ele disse tentando tocá-la, mas ela se esquivou.

"É.. Está ardendo, vou passar algum remédio" disse olhando o arranhão. Sentiu seus olhos ardendo e tentou não lacrimejar. "Não se atreva a chorar aqui na frente dele!!" ela pensava se segurando.

"Desculpa okay?" ele disse mais calmo, ficou com dó daquela menina emburrada. Isabela somente o olhou e virou as costas em direção à sua bicicleta, o deixando sozinho. 

Ele ficou um tempo a observando, ela correu até a bicicleta, pegou a garrafa de água e jogou um pouco nas mãos raladas fazendo uma careta. Enxugou uma lágrima que escorria, secou as mãos na calça e foi embora. 

Ele suspirou e resolveu voltar ao hotel, não tinha mais ânimo pra dar mais uma volta depois disso. 

"Será que ela me conhecia?" ele pensou confuso. Ficou com medo de ela postar algo na Internet sobre o quanto ele foi insensível com uma brasileira na Alemanha. Ficou irritado com a possibilidade. 

Ele amava cozinhar, era sua vida. Ele não planejou ser famoso, mas quando viu que isso lhe daria uma boa carreira ele tentou e se tornou o Chef Bruno Felipe. 

Mas na verdade ele não ligava pra isso, gostava de passar despercebido e na maioria das vezes se sentia incomodado com o assédio. Com 1.96 de altura, moreno com bigode e barba pra fazer, ele era exatamente o tipo físico que atraía as mulheres e alguns homens também o enviavam mensagens de vez em quando. O que fazia de seus planos, em não ser o centro das atenções, algo impossível. 

Ás vezes se sentia inseguro pensando se foi a aparência dele ou o talento que fez com que as portas se abrissem. Já tinha planos em abrir seu próprio restaurante em São Paulo, sua cidade natal. Mas tinha compromissos a cumprir ao redor do mundo durante um bom tempo e era o que ele faria. 

…… 

Isabela estava possessa. "Que coincidência é essa, meu Deus!" murmurou quando chegou em casa. Chorou de raiva por ter o encontrado, chorou pela mão ralada que doía, chorou por ter sido ignorada no restaurante de Curitiba. "Esse cara só aparece na minha vida pra me deixar chateada" pensou fungando.

Tomou um banho e passou um remédio na sua mão, colocando um curativo. "Isso tem que melhorar até amanhã" pensou. "Como posso cozinhar com a mão sangrando?". Irritada decidiu passar o resto da sua folga no quarto. 

"Não acredito que ele está aqui em Berlim!" suspirou após um tempo, não conseguia parar de pensar no que havia acontecido. Pegou o celular pra enviar uma mensagem para Cláudia, contando o ocorrido mas desistiu. "Ela vai o defender" pensou amargurada. 

Foi trabalhar no outro dia de mau humor. Olhava para os lados, como se estivesse sendo perseguida. Os dias foram passando e ela percebeu aliviada que não o encontrou mais pela cidade. Então se permitiu esquecer o que se passou e voltou à sua nova vida. 

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