ONE

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Têm dias que o sol não sai e as nuvens pesadas me forçam a respirar mais fundo à procura de algum frescor.

Tudo é mais intenso quando as condições puxam minha atenção, já que em um dia normal eu não me importo como os cheiros ao redor variam com o clima. Quente, seco ou úmido eu só sigo a vida agitada sem um segundo pensamento.

Isso não acontece nos tempos fechados, nestes o mundo me pressiona pra fora, para sentir o momento parado e o ambiente mudar sem pressa.

É meio sufocante, as pessoas podem achar desagradável, mas não eu. Pra mim nunca é ruim pois ele surgiu assim e a nostalgia é suficiente para matar qualquer resquício de negatividade.

Park Jimin é o nome dele, eu tinha 8 anos quando o tempo estava mau humorado e eu vi o carro gasto parar na frente da casa vizinha.

Eu precisei de um segundo olhar, já que estava chateado pelo clima ruim e por não mais poder pular a pequena cerca vizinha e gastar meu tempo com minhas aventuras.

Elas estavam relacionadas à cavar buracos na grama e achar enormes minhocas fofas que faziam cosquinhas na minha mão, colecionar pequenos insetos e roubar flores para encher a cozinha da mamãe.

Então, enquanto eu encarava feio o carro, tudo mudou. O tempo abafado pareceu expandir quando o doce garoto pulou do banco de trás para o asfalto, o sorriso forçando suas rechonchudas bochechas a fechar seus olhos em delicados risquinhos. Senti uma alegria energizar minha pele.

Meu sorriso cresceu com o dele, olhei as nuvens nebulosas, cinzas e entediantes percebendo como parecia que tudo estava parado só pra que ele pudesse brilhar sozinho.

Lembro de olhar pra ele e os dois homens que o acompanhavam uma última vez antes de correr atrás da mamãe, que estava acomodada em seu apertado escritório. Não contive a animação e puxei a barra de seu vestido em busca de atenção, enquanto dizia ter visto um anjo.

Persuadir ela a fazer uma visita aos novos vizinhos foi fácil, ela sempre me aconselhou a fazer amigos.

Assou biscoitos enquanto eu espiava da janela a casa fechada. Minhas mãos suavam quando ela apertou a campainha e quando o senhor sorridente, logo seguido de uma pequena cópia sua, abriu a porta, eu estava pulando de animação.

Naquele dia comemos biscoitos juntos, ele tagarelou sobre como estava animado para brincar comigo e tudo que estava planejando para nós. Tudo que eu fiz foi encarar bobo aquele garoto brilhante.

O destino fez um bom trabalho conosco, entrelaçando nossas vidas com força e naturalidade. Não importava o clima, estávamos sempre juntos, eu e ele, nos aventurando e criando memórias felizes. Cada descoberta que fizemos juntos, ruins ou boas. Dos momentos mais doces da vida até o sabor mais amargo da realidade.

Seja pedalando de bicicleta e correndo pelas ruas com nossos amigos ou chorando juntos e escondidos por medo de como o mundo poderia ser cruel conosco.

Eu fui aprendendo a forma como a minha euforia foi sendo formada das pequenas doses de alegria que eu vivi com ele.

A vida ficou cada dia mais gostosa de ser vivida.

Todos os dias eu me encantava mais pela forma como ele era forte e corajoso, amando com toda a força e dando tanto de si em tudo que fazia. Eu caí de cabeça nos seus olhos doces que me olhavam com nada mais que cumplicidade, meu esforço quando estava do seu lado era sempre para arrancar as melhores gargalhadas daquela boca bonita.

Ano após ano eu me apaixonei por Park Jimin, de todas as maneiras que um humano pode fazê-lo.

Hoje era um dia daqueles, estiquei meus músculos enquanto fui abrir as cortinas para o meu diário bom dia ao céu. Não foi surpresa encontrar ele com nuvens espessas, mas sem ameaça de chuva. Sorri agradecendo pelo tempo a quem quer que fosse o responsável.

Senti fortes braços rodeando minha cintura e um beijo molhado no ombro. Respirei fundo o cheiro familiar de lençóis limpos e casa antes de encarar o meu sol.

Seu cabelo preto curto estava espetado e fofo, um lado do seu rosto estava avermelhado e marcado pelos lençóis. Seus lábios estavam inchados e tentadores, mas foram os seus olhos que me chamaram. Tão mais maduros que duas décadas atrás e mesmo assim com uma pureza que só poderia vir de sua alma terna. E como se tivesse acabado de conhecê-lo eu não pude desviar o olhar, fascinado e perdido demais nele. Tentando achar naquele rosto todo e nenhuma resposta.

Ele já era um livro aberto pra mim, mas todo dia eu lia uma linha nova e inesperada.

- Bom dia, Koo, o céu está do seu gosto hoje eu vejo.

O anjo disse dando uma risada rouca que arrepiou levemente minha nuca.

Toquei seu rosto sedoso, pensando em como sou sortudo por ter meu próprio sol.

Ele nunca me julgou por sempre sorrir pro céu fechado, quando todos me olhavam estranho. E eu nunca julguei sua paixão desenfreada por céus estrelados. Nossas paixões e gostos estavam seguros um com o outro e eu me senti ainda mais feliz.

- Sim, amor, sinto que o céu me abençoou com um bom dia hoje.

Eu ainda guardo esse pequeno segredo do porquê o tempo "ruim" ser meu preferido, apreciando sozinho a minha sorte.
                                  
                                    ☁️

Eu dedico 100% dessa coisa preciosa as minhas duas bebês, Maria e Glória.
Maria, obrigada pela linda capa, a revisão e além claro ter me dar a ideia.kkk
E Glória obrigada por TODO o apoio, você entende o que quero dizer.

Espero realmente que tenham gostado 💜

Núbilo | one-shot | JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora