capitulo único;

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Nota: Eu escrevi essa história no meio de um momento não muito bom meu, mas mesmo assim decidi compartilhar porque no fim ela ficou muito boa e eu gostei do resultado. Espero que goste, comentários e votos são muito bem vindos. <3

Aviso: Disforia, auto-ódio, tentativa de suicídio, transfobia. Se você tem algum gatilho ou se sente incomodado com alguma dessas características inclusas na obra, por favor, não a leia.

Tem um final bom, eu juro. <3

Xx-xX

Jin Ling apertou os braços em volta das pernas, lágrimas grossas caindo dos seus olhos castanhos.

Ele soluçava e chorava, pois nesse momento essa parecia ser a única solução para o seu problema. O aperto no peito que sentia só iria embora assim, mesmo que apenas por um tempo.

O ar lhe faltava, a garganta apertava e os olhos ardiam. Ele de longe gostava dessa sensação; era horrivelmente assustador pensar que estava desse jeito fazia mais que alguns minutos.

Ele olhou pra baixo, encarando os braços e pernas marcados e arranhados pelas suas próprias unhas no desespero de sua crise. Os joelhos amassavam o peito cheio, apertando a carne e os nervos indesejados.

Aquilo pesava, e Jin Ling não queria eles. Ele não queria que eles existissem, pois pra ele não tinha importância. Ele gostaria de arrancá-los, se pudesse.

Porque pra ele, os seus seios não eram nada importantes. Nem eles, nem o útero que apertava e o causava dores incontáveis. E Jin Ling não queria isso. Jin Ling não gostava deles, ele não gostava de nada em si.

Jin Ling não gostava das curvas, das pernas ou do "traseiro cheio" (coisa que ele ouvia pelas suas costas dos outros garotos da escola que tinha). Ele não gostava dos seios e nem mesmo dos lábios finos e do rosto delicado que tinha sido dado a ele.

Ele queria ser reto. Ele queria ser reto e ter uma voz grossa, ou não ser rebaixado por ter uma vagina ao invés de um pênis entre as pernas. Ele queria ser ele, não ela.

E Jin Ling não entendia porque achou que seu tio aceitaria isso numa boa.

Jiang Cheng, o cara que julgava seu próprio irmão por ser casado com um homem. O que Jin Ling esperava? Que ele fosse aceitar sua escolha assim rápido??

Que ele entenderia que sua doce sobrinha não era assim tão doce, e nem mesmo uma sobrinha?

Ele se arrependia amargamente de ter contado. Ele preferia continuar sendo chamado de a Jin Li do que passar por isso. Do que notar todos os defeitos que tinha. Do que chorar horrores por uma coisa que não era nem sua culpa.

Ele soltou as pernas, as mãos trêmulas sumindo até a base do pescoço. Se tudo isso acabasse de uma vez, não existiria mais sofrimento ou frustração. Não existiria mais desgosto vindo do seu tio, não existiria mais nada.

Só... nada.

Ele obviamente cogitou um pouco a ideia antes de tudo. Mas o que ele tinha a perder? Ninguém sentiria sua falta, ele era insignificante.

E então ele apertou as mãos em volta do pescoço com toda a sua força. Ele apertou e segurou, até que a garganta estivesse totalmente fechada e nada pudesse passar por ela. Nem seus sôfregos soluços de arrependimento, nem sua voz fina e irritante que atormentava sua cabeça.

Ele apertou os polegares logo abaixo do queixo, onde normalmente teria um pomo de Adão no corpo que gostaria de ter. Jin Ling pressionou aquele ponto, sentindo primeiramente uma coceira no fundo da garganta que o forçou a tossir levemente. Depois, seu corpo começou a tremer intensamente, a garganta gorfando nada em específico. O nariz entupiu, e dos olhos saíram ainda mais lágrimas.

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