Prólogo

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Vinte e três anos atrás

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Vinte e três anos atrás


Fogo choveria do céu naquela noite.

Com o capuz protegendo o rosto, ela andava sem pressa pelas ruas abandonadas da cidade-satélite. Nem mesmo naves ou drones podiam ser vistos. Apesar do avançar dos séculos e da tecnologia, os homens ainda temiam o que não conseguiam tocar e entender.

Talvez fosse por isso que a magia tivesse se extinguido, quatro séculos atrás. Os presságios. Os quatro da ciclos da guerra. As perseguições. As fogueiras. As prisões. Os desaparecimentos.

Há quatro séculos, tudo tinha acabado.

Os deuses tinham desaparecido. A magia tornou-se proibida. E ela perdera o irmão para uma maldição que ainda continuava inexplicável.

Não sabia como, mas ela não desaparecera junto com os outros deuses. Permanecera imortal, mas sem os poderes. Não envelhecia, não morria, não adoecia. Apenas contemplava a passagem do tempo, imobilizada nas sombras, os olhos procurando pela luz.

Mona pressentiu o Igneus Imber instantes antes do fenômeno mais antigo do mundo cair.

Raios despencaram sobre as construções de pedra, sobre o neon, sobre as naves, atravessados por riscos dourados que pareciam tecidos por ouro, fogo e cristal.

Era o resquício da lembrança da magia e dos deuses, a única fração que ainda reluzia no umbral da era tecnológica; um tempo em que o ar não era tóxico, em que o verde cobria a terra, em que os pássaros rasgavam a liberdade do horizonte.

Mona fitou a imensidão obscura, encontrado Salissy em meio aos riscos luminosos. O Igneus Imber era uma memória das outras estrelas que um dia haviam iluminado o cobalto do céu.

Ela continuou andando, a capa esvoaçando ao redor do seu corpo. O vento era uma dança furiosa que a chicoteava; a noite era uma tormenta seca e ardente.

Por quatro séculos, ela procurara por seu irmão Mikael, tentara entender as teias da maldição. Nada encontrara.

"Deuses não morrem".

No passo seguinte, um agitar a tomou por inteiro.

Uma risada tiritante estalou acima do concreto.

"Alimenta este fogo com fogo, até que se extinga e que se renove, no fim de um novo começo, no começo de um novo fim, no eterno retorno do fogo que consome tudo, que abre e fecha todas as coisas".

Mona ofegou, levando uma mão ao peito quando viu a imagem da serpente engolindo o próprio rabo aparecer e desaparecer na efemeridade de um suspiro ofuscado.

— Ouroboros?

O ar estava perturbado. O céu gritava.

O arco das estrelas.

— Não — sussurrou. — Não é possível.

Precisava confirmar, precisava que seus olhos espelhassem a sensação que se agarrava a cada poro da pele e da alma.

Ela correu, o capuz caindo para trás, libertando a cascata dourada dos cabelos. Subiu pela encosta; já não enxergava mais o neon e o concreto. O vento sibilava no rochedo, enquanto o mar era atingido pelo fogo cadente e ancestral que despencava do céu raiado de preto.

Mona deixou que a luz pulsante avançasse violentamente por suas veias, como o ar para a vida, despertando a energia dormente.

Ergueu o rosto; e no desespero dos séculos, no tom profundo da magia restaurada, nos sussurros de uma maldição antiga, ela compreendeu o ciclo da continuidade carregado no arco das estrelas.

— Uma antiga história voltará à tona. E, desta vez, para encontrar o seu desfecho.

Mais tarde, ela soube.

Naquela noite, sob a luz intensa do Igneus Imber e do brilho de Salissy, em uma ilha decrépita na Colheita dos Escravos e em um salão majestoso no Distrito Héscol, dois bebês nasceram e choraram ao mesmo tempo.

            Naquela noite, sob a luz intensa do Igneus Imber e do brilho de Salissy, em uma ilha decrépita na Colheita dos Escravos e em um salão majestoso no Distrito Héscol, dois bebês nasceram e choraram ao mesmo tempo

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 Finalmente vamos começar com as postagens do livro 3, o último volume da nossa trilogia!

Eu estava com muitas saudades dessa história ♥

Prólogo liberado para vocês hoje ♥

Nações de pedras e deuses | 3 (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora