Pingente Salutar

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— Não temos tempo à perder, Lehkaan! Você precisa tirar o Pingente Salutar daqui o quanto antes — falou o altivo conjurador, líder da ordem dos magos de gelo enquanto corriam pelos corredores de pedra cinzenta.

— Sim, senhor! Estou pronto para essa missão — disse Lehkaan forçando-se a acreditar nas próprias palavras enquanto corria atrás de seu senhor.

Lehkaan era um humano com os ombros curvados pelo peso dos anos. Tinha cabelos e barbas brancos como a neve do Reino Gelado, porém, apesar da idade, era o mago mais novo admitido na ordem. Sabia que uma missão tão importante como àquela, com toda certeza, seria designada a um mago muito mais experiente e poderoso que ele, entretanto, todos esses seus irmãos da ordem, protegiam a Torre Sempre-Dia do ataque que se aproximava.

— Preste atenção! — alertou. — Depois de cruzar as Colinas Brancas, chegará a Planície da Geada. De lá, basta atravessar o Mar Congelado e, na base da Montanha de Safira, encontrarás a caverna onde fica Ellera.

— Entendi, senhor Torline...

— Eu ainda não terminei, Lehkaan — continuou com o olhar preocupado retirando uma chave acobreada de dentro do manto e destrancando a pesada porta de madeira.

Dirigiram-se para um baú que ficava no fundo da sala redonda. Torline usou a mesma chave para abri-lo e retirou de lá um pingente preso numa correntinha de prata.

Lehkaan concentrou toda sua atenção ao objeto mágico quando o líder depositou-o em suas mãos. O pingente era circular e achatado e sua aparência de um brilhante olho azul em constante movimento.

— Você deve protegê-lo com a sua vida — disse Torline apressando-o. — Agora vá!

Antes de o admirar, um estrondo se fez ouvir e vários estilhaços de madeira voaram por todo o ambiente.

Vá! — disse Torline entregando um cajado de madeira nas mãos de Lehkaan e empurrando-o da janela da torre, não sem antes dele ver quem havia destruído a porta: uma silhueta esguia de lâminas nas mãos.

A queda do alto da Torre Sempre Dia foi rápida e Lehkaan não teve tempo para pensar. Sussurrou algumas palavras mágicas e, da ponta do cajado, inúmeras penas surgiram formando como que um colchão por debaixo dele, a poucos metros do chão, amortecendo sua queda.

Quando seus pés tocaram a terra firme, pode ouvir sons de luta no aposento onde esteve segundos antes. Preocupou-se com a vida de seu líder. Se ele morresse, seria a terceira pessoa mais importante que perderia na vida. Ainda hoje, quase dois anos depois, não conseguia se perdoar por ver sua filha perecer nas mãos de assaltantes, contudo, o mais importante neste momento, era proteger o Pingente Salutar.

Esgueirou-se rodeando a construção cilíndrica e dirigiu-se ao estábulo imediatamente atrás da torre. Quando aproximou-se, sentiu o cheiro de fumaça e viu as chamas que lambiam as paredes de madeira.

— Velho como estou, não posso seguir a pé nessa missão. Preciso de um cavalo — disse para si mesmo tentando criar coragem para entrar no estábulo em chamas.

As palavras surtiram efeito. Lehkaan respirou fundo enchendo o peito de ar e de coragem e adentrou ao recinto. Os poucos cavalos que ainda não haviam morrido por conta da fumaça ou do fogo, estavam desesperados e tentavam, a qualquer custo, saírem dali.

Libertou-os de suas baias incendiadas e todos dispararam em todas as direções pelo pasto congelado. Graças aos deuses, um deles estava selado. Era Bastion, o cavalo do líder. Em situações comuns, ninguém podia tocar em seu alazão, porém, aquilo definitivamente não era uma situação comum.

Lehkaan sabia que, se tentasse soltá-lo de maneira convencional, não teria forças para dominá-lo e este também fugiria. Suplicou o auxílio de Cadoth, semideus dos animais domesticáveis e, com sua benção, acalmou o corcel com um sopro de paz.

Crônicas de Daleroth: O Mago e o AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora