"Em quatrocentos anos o amor renascerá, rompendo a dor do inferno vermelho e colocando o azul em seu lugar."
Em muitos lugares do mundo histórias sobre demônios são tratadas como algo bíblico, onde tudo se passa nos precipícios do caos, levado por mortes e flagícios diante ao ardor do inferno. No entanto, até que ponto isso é decerto verdade?
Em todos.
Há cerca de setecentos anos, uma luz branca acendeu-se no abominável inferno, fazendo cada demônio estrondear em dor, rasgando as próprias carnes em surto enquanto alimentavam-se, descontroladamente, de uns aos outros. Chicoteadas eram ouvidas, de modo claro e notoriamente, sendo impelidas contra os corpos de humanos pecadores.
O inferno estava em festa. Era a celebração de um nascimento.
Neste mesmo dia a criança de olhos vermelhos como o fogo foi batizada com a marca de Saron, trazida por sua mãe; a mais famosa das bruxas e, agora, morta. Saron é o ritual mais poderoso do vale dos bruxos, a cerimônia de um corpo tornando-se ligado sublimemente ao outro com marcas de almas gêmeas, sendo destinadas a viverem e morrerem juntas. No entanto, a prática deve ser seguida em linha, nunca fugindo da natureza de um bruxo.
Mas na quebra da primeira regra entre o festejo nas quenturas do submundo, algo inesperável aconteceu.
No instante em que a marca se formou no rosto do bebê, todo o inferno se apagou, os brados se cessaram e, como nunca antes, a Rosa Azul de Saron marcou um meio demônio. Nomeado como Mantus, futuro rei da cidade dos ossos, e Jungkook na terra dos profanos.
Ele estava fadado a passar toda a sua vida à procura do seu amor, todavia, se o dono da segunda marca morresse, o demônio ficaria sozinho e esperaria até que seu destinado renasça em duzentos anos. Caso não aconteça, não terá ninguém até o fim dos tempos. Talhado a sentir a dor da perda e lutar sem pudor e modéstia contra qualquer coisa que surgisse em sua frente.
Entretanto, o demônio soube que, depois da felicidade, sofreria sozinho por muito tempo e ele não poderia fazer nada. Pensando nisso, naquele momento a atmosfera se desabou em um cenário quimérico criado pela a dor da angústia. E quando tudo já estava desvanecido, Mantus respirou calmamente, dada a circunstância dos seus pensamentos de outrora, ajoelhou-se engolindo o último nó formado em sua garganta e, pela primeira vez, rezou para que o destino não o torturasse tanto.
Ele preferia estar queimando no inferno ou ter queimado como seus familiares de Salém.
Com o decorrer dos séculos, os acontecimentos de sua vida deixava-o mais furioso, sentindo que estava ficando cada vez mais inútil. Passou a matar qualquer demônio ou tornar pecador qualquer humano que aparecesse em sua frente, tentando ocultar a grande buraco que se formou em seu coração.
A Rosa de Saron foi guardada no castelo do inferno, junto a lúcifer e Abigor, demônio da guerra, também conhecido pelos anjos como Taehyung.
Mais cem anos se foram, Mantus desistiu.
Como meio bruxo, rezou para todas as bruxas mortas de Salém que deixassem-o em sono profundo, como a própria morte — já que morrer ficava cada vez mais impossível. Ele foi escondido no palácio abandonado de Miguel, no recinto sigiloso da cidade de Vancouver, onde a alma da Rosa Azul habitava, sendo a chave ligada ao inferno.
Agora, o demônio encontrava-se em um lugar escuro, sem paredes, sem teto e sem chão por séculos. Sendo torturado pelo vazio, pelo nada, por sua própria mente em um pesadelo utópico criado por si mesmo.
Até a marca de dragão em seu rosto tomar a cor de fogo e todo o seu corpo arder como o inferno. Em desespero, ele puxou e soltou o ar descontroladamente, debatendo-se no chão duro e quebradiço, sem entender o que estava acontecendo. No instante seguinte, seu coração parou e os olhos de fogo se abriram, totalmente vermelhos.
— Bem vindo de volta, Mantus.
Levantou-se sem pressa. Suas asas se abriam brutalmente, criando sons ao ar, um som que faria os tímpanos de qualquer humano sangrarem. Mantus observou todo o cenário em volta, até pousar na figura horrenda em sua frente, vestindo roupas pretas, estranhamente elegantes, e os cabelos acinzentados.
— Pelo inferno! Você continua feio, Mantus.
— Por que me trouxe de volta, Taehyung? — questionou, sem mudar o tom de voz calma, mesmo que por dentro estivesse fervendo em raiva. Acordar não estava em seus planos.
— A Rosa Azul de Saron pediu para que eu te acordasse — disse simples, começando mover-se para perto de Mantus. — Devo dizer que mais duas tatuagens nasceram em seu corpo nesse último século, eu gostei. Pensou na morte enquanto dormia, senhor? — Olhou-o perdido por seu diálogo estranho. — Ah, tatuagem é como os mundanos de hoje chamam os desenhos gravados no corpo.
Ignorou totalmente a explicação de Taehyung por estar nada interessado nela.
— Por que Saron mandou me acordar? Eu já sei que sou um demônio e mereço sofrer, mas que pelo menos deixe que eu faça isso do meu jeito. — Inevitavelmente rangeu os dentes em ira.
— Cale a boca e levante-se. Sua voz está me irritando, passei o dia inteiro ouvindo o inferno gritar por sua causa! Era para eu estar comprando novos ternos e retocando meus cabelos. — Cuspiu as palavras, sem medo de estar na frente de um demônio de classe superior a ele. Sim, o inferno é e sempre será uma enorme hierarquia. — Vamos, você precisa se matricular na escola. Compraremos roupas e faça o favor de esconder essas asas.
— Como é? — Mantus nunca esteve em uma escola e tampouco sabe o que é uma.
— A Rosa Azul mandou eu te acordar com um único propósito, Mantus. — Suspirou exausto. — Há 17 anos atrás, a marca de Saron acendeu aqui.
O corpo de Mantus travou por completo no instante em que aquelas palavras foram proferidas, ficando tão duro quanto uma rocha. Ele estava fraco diante ao seu inferior.
— Impossível. Se não é em duzentos anos, não é nunca mais. — Hesitou ao dizer. — Em que século estamos?
— Estamos no século vinte e um. Me parece que mentiram para você. — Desdenhou como se não fosse nada. Os lábios de Mantus esticaram-se na mais autêntica forma de felicidade, mesmo desacreditado, importava-se com a possibilidade de ser real. — Só temos um problema.
Nenhuma notícia teria a capacidade de destruir a felícia do momento que, pela primeira vez em séculos, deixou-o criar uma esperança. Mesmo que seja mínima.
— A marca de 17 anos está sendo protegida por arcanjos. Está no corpo de um humano, senhor.
#AzulHeron 🥀
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Azul Saron • jjk + pjm
FanfictionDuas almas destinadas a ficarem juntas desde que um meio demônio nasceu no ardor do inferno e a marca da Rosa Azul de Saron foi selada em seu rosto. Séculos se passaram e o demônio ainda procura pelo seu destino, no entanto, não pensava que, após an...