🛠️Agnes Petrovic 🛠️
Inglaterra - Dias atuais
Mais um dia frio. Abro a loja e entro fechando a porta. Olho as notas em cima do balcão, tudo em dia. Me bate uma saudade quando olho para as prateleiras e, entre vários produtos antigos, vejo a foto minha e de meu avô sorrindo. Atrás está a nossa van de entregas.
Desde quando meu avô morreu passo mais tempo trabalhando na loja do que em casa, nosso apartamento está tão vazio sem ele e suas histórias. Olho para os móveis reformados e me lembro que ele dizia “que eu tenho um dom”. Meu bisavô foi o fundador dessa loja, ele conseguia consertar relógios e caixas de músicas como ninguém. Meu pai sempre fez reforma de móveis quando não estava trabalhando na fábrica, mas ele não era como meu avô, que mesmo com a idade avançada, tinha alegria e satisfação de sorrir com o cheiro da madeira lixada e de transformar o velho em novo.
Vou até os fundos e vejo a estante reformada que será levada hoje. Sessenta dias de trabalho pesado e está pronta. Essa será enviada pela transportadora. Receberei o restante do pagamento quando a mercadoria chegar ao seu destino e, com parte desse dinheiro, vou pagar os fornecedores do material para reforma.Tudo vai bem.
Suspiro e meu telefone toca. O pego no bolso do moletom, olho para a tela e vejo o número de minha amiga Giulia.
— Oi, Giulia.
— Amiga, estou indo para aí e preciso de um favor. — Ela fala e desliga.
Duas horas depois, já despachei a estante para a transportadora e a campainha toca. Deixo a atualização do livro de registros de lado e vou atender a porta. Quando abro, Giulia entra como um furacão.
— Amiga, preciso do seu carro emprestado.
Olho para ela. Rica, com seus cabelos escovados, roupas caras e maquiagem. Ela é acostumada a ter os melhores modelos de carro, porque diabos iria precisar do meu? ─ Penso.
— Onde está o seu? — questiono enquanto limpo a mão em um pano que peguei no bolso do macacão.
— Meu pai me colocou de castigo e eu preciso ir com minha prima ao shopping — ela fala sem graça e eu levanto uma sobrancelha.
— Pega um táxi. — Os olhos dela enchem de lágrimas.
— Estou sem dinheiro, por favor, me ajuda! — Pego a chave e dou a ela, que agradece, me abraça e sai.
Trabalho normalmente o dia todo, fazendo uma pequena pausa para almoço e voltando logo em seguida. Termino duas reformas e tiro a máscara de pintura quando meu celular toca. Retiro as luvas e atendo.
— Oi!
— Por favor, pegue seu carro no shopping. — Fico assustada.
— Giulia, o que houve?
— Desculpa, amiga. Fugi do meu casamento com Nicolas Marino.
— Você fez o quê? — quase grito. — Seu casamento é daqui a dois dias. Pelo amor de Deus. Você abandonou o pobre homem no altar.
— Sim. Obrigada pelo carro, a chave está na loja de minha prima. — Ela desliga na minha cara.
Meu Deus! O que vou fazer?
Olho para o relógio que marca nove e trinta da noite. Perdi a noção do tempo e o shopping fecha às dez. Droga! A loja está fechada desde às dezoito horas, mas sempre fico trabalhando nos fundos após esse horário.
A noite está fria, mas não tenho tempo nem para trocar meu macacão por uma roupa mais quente, se quiser pegar meu carro a tempo. Corro e pego o táxi.
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