🛠️Agnes Petrovic🛠️
Duas semanas e continuo sem poder ir ao quintal, porém, fico na cozinha conversando com a senhora que me prepara as refeições. Seu nome é Glória e acredito que ela seja uma espécie de governanta. Ela é muito carinhosa e não me sinto sozinha.
Há muito tempo não tinha carinho e companhia. Ela está sendo como uma mãe para mim.Olho para o relógio na parede, duas da manhã. Viro de novo na cama e me lembro do meu avô. Ele que me criou quando meus pais morreram no incêndio da fábrica, eu tinha cinco anos. A vida ficou vazia. Não saia de casa ou ia à escola, não tinha forças. Um dia, estava deitada e ele entrou no quarto.
— Filha, para mim também está doendo, mas temos que reagir. — Olho para ele chorando.
— Como? Se dói tanto?
— Tirando força da dor, não a deixe te vencer. Sabe, a vida nem sempre é boa e muitas vezes fazemos o que não é certo para sobreviver.
— O senhor já fez isso alguma vez?
— Já. — Ele suspira e passa as mãos nos cabelos brancos. — Não me orgulho por muita coisa que tive que fazer na guerra, mas sobrevivi, conheci sua vó, tive sua mãe e agora tenho você. Sabe, Agnes, nem sempre na vida temos a opção de fazer o que é certo, às vezes é preciso se sujar na lama, ser um soldado, voltar da guerra em pedaços, mas pedaços vivos. Porque um dia encontramos alguém para amar e ele nos mostra que tudo que fizemos lá no começo, por pior que seja, valeu a pena.
Viro para o lado e durmo.
Acordo com a sensação de alguém me olhando. Engraçado que quando estamos em algum lugar e olhamos fixo para alguém, ele nos olha de volta.Abro os olhos, Nicolas está sentado na mesma poltrona, me olhando sério com seus olhos azuis acinzentados e frios. Olho para o relógio, são oito da manhã.
— Bom dia, Agnes. — Odeio quando ele fala meu nome, parece que está com raiva.
— Bom dia. — Ele levanta uma sobrancelha.
— Está bem?
— Sim.
— Vai dormir mais?
— Não. — Vejo sua irritação.
— Vai me responder com monossílabos.— Talvez. — Ele se levanta da poltrona e sai bravo. Olho para a porta.
— É como dar pérolas para porco. — Deito-me de barriga para cima e puxo parte da cortina. Dia nublado. Vou dormir. Fecho os olhos e durmo.
Acordo sozinha. Olho o relógio, nove e trinta. Levanto e tomo banho. Não lavo os cabelos por demorar a secar e por não gostar de secador, faço um coque. Coloco uma roupa que achei no armário e vou para a cozinha. Não vejo Glória.
— Onde está Glória?
— Foi trabalhar na minha casa, fiquei sabendo que vocês se tornaram amiguinhas e aqui não é um lugar de recreio.
— Então é o quê? — falo e coloco a mão na cintura.
— Você sabe falar? Interessante!
— Não falo de manhã, principalmente quando acordo com um louco na beira da cama. — Pego o pote de café e olho para a máquina. — Como se usa essa coisa?
— Use a imaginação. Você sabe mentir, Agnes, deve aprender a se virar. — Ele sai da cozinha. “Idiota”, penso e faço uma montagem com garfos em um copo e faço o café.
Volto para o quarto, ele está arrumando algo no guarda-roupa. Fico parada olhando.
— Roupa de dormir para você. Vi em uma boutique em Sidney, achei a sua cara. — Ele vira um pedaço de pano ridículo para mim.
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