Antigamente, quando os povos mais antigos ainda acreditavam em diversos deuses, muitos se dizia sobre as memórias em terra: o que aconteciam com elas? Gregos diziam que muitos que pisavam ao submundo, ou melhor, nos campos de Afósdelos, onde almas vagavam após seu julgamento, perdendo-as com o tempo, esquecendo de quem fora em suas vidas. Todas as crenças havia sua própria visão, sendo uma delas, a japonesa, nomeada de Kyaria Omoideno, a portadora de tais memórias dos vivos, sendo a responsável para dar o veredito se o falecido iria para os campos de trigo que eram tão belos e vividos, ou para os campos de punição, se não houvesse como conseguir algum perdão.
Diziam aos poucos que ousaram a descrever, que Kyaria havia dois tipos de aparência. Para as pessoas que foram más em sua estadia, se assemelhava a um demônio, com uma feição horrível, dentes enormes e afiados, e garras, que ao tocarem o rosto de alguém, rasgava-o junto com suas memórias, não deixando que aquela alma pudesse descansar em paz. Para as pessoas boas, tal mulher trazia consigo uma aparência angelical, de pele pálida, delicada, com um toque tão suave quanto a de uma flor, carregando também consigo olhos tão amáveis que trazia a paz para quem olhasse, dando-as, uma morte tranquila. Mas como teria a certeza? Apenas quem morria poderia a ver, então sua aparência era apenas uma explicação, uma tentativa falha de dar um rosto para uma mulher que era tão comentada, que sempre andava da morte. Sua origem era tão desconhecida quanto sua aparência, onde ela viera? Como se tornara uma portadora? Ela também teria memória? Uma pergunta tão frequente para quem desejava um dia a ver. Suspeita-se que sua primeira aparição começara no período Nara, e deste então, sua imagem era usada para instigar crianças a não serem más por sua vida, para que quando o momento chegasse, pudessem caminhar pelos campos mais belos, para assim, terem seu descanso merecido.
Naquela manhã, um senhor de idade estava dando seus últimos suspiros, seu tempo ali estava em seus milésimos, o coração em seu peito já estava parando de bater, mas pela última vez, ousara olhar para a parede branca de seu quarto de hospital, fazendo sua última prece aos deuses, como se implorasse para que os mesmos confortassem a sua família, que tanta desgraça já havia passado. Um toque suave em seu braço chamara sua atenção, erguendo seus olhos a uma jovem que estava ali, encontrando uma jovem de cabelos longos escuros, enquanto seus olhos, azulados como o céu no dia mais límpido o olhava, sentindo um estranho conforto em encara-los, entendendo que assim, partiria sem dor.
- Diga-me, você é Kyaria? - O velho juntou suas últimas palavras, que saíam como um sussurro.
- Descanse, meu senhor. Suas memórias sempre continuaram vividas no coração de sua família, desfrute daquilo que as de merecido. - Respondera a mulher, que tocara suavemente no rosto do velho com sua mão, antes de tampar aqueles olhos, ouvindo assim, o contador de batimentos começar o seu longo som, indicando sua morte.
Enquanto os médicos, tão desesperados para trazerem aquele homem a vida, Kyaria apenas pôde observar, mergulhando nas memórias que ao mesmo pertencera, vendo o que ele tanto fizera em vida, deste a infância, até o momento em que se casou, uma memória tão bela.
- Seus sorrisos alegram minhas manhãs mais chuvosas, seu canto me leva o mais perfeito paraíso, a qual sempre desejo morar. - O Homem sussurrou a sua mulher, que apenas sorriu enquanto dançava.
- Para sempre seremos um, mesmo após a morte. - Ela respondera após alguns minutos, trocando um olhar com aquele que era oficialmente seu marido.
Kya por um momento os invejou, um sentimento tão impuro que tomara em seu peito, será que um dia provaria daquele amor tão belo? Humanos carregavam a sorte de poderem amar, enquanto ela, apenas havia permissão de assistir. Mas a próxima memória fora a mais tempestuosa, a imagem de um acidente de carro, podendo enxergar um fio avermelhado ao chão, que se encontrava rompido, sendo que sua outra ponta estava presa ao mindinho de uma figura coberta por um suave lençol branco, enquanto aquele senhor, chorava e gritava, desesperado com uma criança nos braços, que chorava e chorava, mesmo que não entendesse o que estivesse acontecendo naquele momento, parecia ter a noção que para os braços da mãe, não voltaria.
Suas memórias seguintes eram carregadas por uma tristeza agonizante, que sempre sumia quando ele via seu filho sorrir, voltando a iluminar suas manhãs. A morte não havia os interrompido, pois, aquele pequena criança, era fruto do mais puro amor entre os dois, então ela sempre estaria vívida no coração dos dois. A dor, nunca rompia o amor, mesmo daqueles que tiveram seu coração partido, isso que pudera assistir ao decorrer das demais lembranças, lembranças as quais um dia desejou ter, pois até nos momentos finais, ele fora devoto de sua mulher.
- Kyaria! - Alguém tocou em seu ombro, fazendo com que ela saísse das lembranças daquele senhor, que naquele momento, já estava sendo retirado do quarto.
- Hum? Senhor shinigami, desculpe. - O susto fora visível em seus olhos, com ela rapidamente ficando na frente do mesmo, curvando-se em sinal de respeito. - Eu me perdi nas memórias daquele homem... perdão.
- Está tudo bem, Kya. Sei que já fez seu veredito, e estou orgulhoso dele. Seu coração tão puro sempre guia bem tais almas, mas me diga, invejara quem ele amara?
A mulher nada respondeu.
- Kyaria, não tente a se agarrar em memórias que não são suas, e nem a sentimentos que não são seus. Agora vamos, temos mais pessoas a quem visitar. - Ele estendera suas mãos esqueléticas em direção da mesma.
De forma silenciosa, Kyaria aceitara aquela mão, deixando que a morte guiasse para aqueles que mereciam a sua paz.
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Kyaria Omoideno - a portadora de memórias
Fantasia>>>>NÃO É DOMÍNIO PUBLICO, SÓ TA BUGADO<<<<< *Temporária* "Nossas memórias justificam nosso meio, nosso fim. Sendo Kyaria, a responsável por entende-las para após dar o veredito a onde devemos descansar, mas, se ela via a de todos, teria ela as pr...