Prólogo

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PARK JIMIN

Ouvir a voz das pessoas já estava começando a me incomodar. Estava sentado sob uma árvore aproveitando o dia quente no pátio da universidade. O pessoal reclamava do quanto a claridade do Sol lhes era incômoda, além de eles já estarem irritados com o quão queimada a pele de cada um ficaria. Pessoas fúteis, apenas. Em dias assim, a única solução é encontrar uma sombra, ficar com uma garrafa de água ao lado e estar trajando uma roupa fresquinha.

Pelo menos era assim que eu estava.

A claridade já não me incomoda há anos, tampouco o calor. Geralmente o calor incomoda mais aos ômegas, mas nunca entendi o motivo, tendo em vista que eles sempre procuram o calor dos alfas para aquecê-los. O motivo de a claridade não me afetar não é bom, mas minha vida mudou drasticamente há mais de dez anos.

Eu estava perto dos meus onze anos de idade quando sofri um acidente de carro com meu pai, um alfa lúpus de quem sempre tive um extremo orgulho. Tal acidente causou a quebra dos vidros laterais e também do frontal do veículo em que estávamos, os cacos atingiram meus olhos e, mesmo após quatro cirurgias para a retirada dos estilhaços, ainda assim fiquei com sequelas.

Ou melhor... uma única sequela: eu perdi por completo a minha visão.

Durante bons anos eu precisei fazer exames a todo instante, além das consultas com uma psicóloga que tentava me fazer compreender que eu tinha sorte. Eu havia perdido somente a visão, não a minha vida. Ela não entendia o meu lado, mas ninguém seria capaz de entender caso não passasse pelo mesmo.

Eu era um alfa cego. Um inútil para a sociedade, que não serviria para proteger minha família, para sustentar meus filhos e a pessoa com quem eu casasse. Muitos me disseram, até mesmo, que eu agora era um peso morto.

E não é como se tudo isso não machucasse, afinal a dor era imensurável, mas eu precisava aprender a conviver com a situação que me fora imposta. Eu precisava lidar com o fato de que não poderia nunca mais enxergar, teria que estudar sem poder ver, tentar ter um bom futuro sozinho. Mas... fazer tudo sem depender de alguém sempre será um empecilho, porque por mais que eu consiga sim me virar sozinho, tem coisas que eu acabo fazendo errado.

Mexer no celular eu consigo, aprendi a digitar sem precisar olhar – decorei as letras e onde exatamente precisava tocar – e fazer as coisas mais básicas, como ligar música, fazer pesquisa com voz e ligar para meus pais ou meu melhor amigo. O difícil foi aprender a mexer em um computador, e até agora eu não consigo fazer com excelência, sempre preciso de um auxílio.

Depois do acidente sempre foi difícil conviver comigo. Meus pais diziam que eu era um balão em meio a tantos espinhos e eu apenas concordava, porque pensava assim também. Não tinha cometido um sequer erro, e ainda assim era julgado, como se tivesse sido o responsável por ter ficado cego.

Meu melhor amigo, Seokjin, se tornou ainda mais próximo de mim depois que tudo aconteceu, nós crescemos juntos, muitas vezes minha mãe até pensou que teríamos algo apenas pelo fato de Jin ser ômega e eu alfa, mas logo no começo da adolescência nós percebemos que não. Atualmente Jin é casado com Namjoon, um alfa que acabou por se tornar meu amigo também.

Meus dias se resumem em ouvir as aulas da faculdade de música e ficar em casa com minha mãe, conversando e refletindo. Desde que eu era criança ela me dá aulas de piano, mesmo com a perda de minha visão eu continuo conseguindo tocar. Eu erro algumas vezes, mas ela me ajuda e tudo fica certo.

— Oh, o alfinha lá está sempre no mundo da lua! — Acabei despertando dos meus devaneios assim que ouvi um dos insuportáveis de minha turma falar.

Alpha | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora