3. Remember

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Saturday, Seoul, 17:45pm.

E lá estávamos eu e o garotinho, prontos para passear juntinhos, naquela tarde fria.
Coloquei o pequeno na cadeirinha e entrei no carro dando partida para o centro da cidade. Não era muito distante, em meia hora já estaríamos lá.
Durante o percurso, me peguei pensando o quanto eu tinha amadurecido de 3 anos pra cá. Trabalhar e manter nao só a mim, mas um filho, depois de viver boa parte da minha vida na aba dos meus pais, me fez ver como a vida é de verdade, e definitivamente foi a melhor coisa que fiz. Agora não dependo do dinheiro do meu pai, não preciso dar satisfação sobre as coisas que faço, e o melhor... Mantenho meu filho longe de qualquer influência deles.

Jeongsan me chamou e percebi que estávamos chegando no centro. O pequeno contemplava os grandes prédios, feliz da vida.
Ele já havia me pedido outras vezes para irmos assistir o show de luzes, mas eu sempre negava, pelo motivo mais obvio do mundo, que era não ter que correr o risco de me encontrar com pessoas indesejadas. Até porque, depois que tive que voltar para Seul, soube que a filial da empresa dele expandiu para o centro da cidade. Por isso, eu precisava ser o mais cautelosa possível. Tudo seria ainda mais crítico, por termos um filho juntos, e era justamente desse fato que ele não sabia.

-Chegamos! - digo estacionando o carro e retirando meu cinto. Ia tirar do Jeongsan, mas ele tão ansioso tratou de tirar sozinho e só me esperou para abrir a porta para ele. Fechamos o carro e fomos andando até a ponte.

- Segura a mão da mamãe, ta bom? Não pode soltar.- digo e o baixinho assente sorrindo feliz.- Coisa linda.

Fomos caminhando e as luzes iluminavam o parque enquanto atravessávamos a Ponte Banpo. Enquanto assistíamos o espetáculo, parei para refletir sobre a ideia de voltar para a América.
Seria bom visitar, ou até mesmo morar, depois de mais de 10 anos vivendo aqui. Mas precisava pensar no Jeongsan também.

Ele já está acostumado e seria um choque pra ele. Outra língua, outros coleguinhas, outra cultura, sem contar que somos só nós dois. Tenho a família da minha mãe, porém não sei se confio a ponto de deixar que façam parte da educação dele.

- Mamãe, olha um parquinho! - saí dos meus devaneios sentindo o pequeno soltar a minha mão e correr em direção ao parquinho, cheio de crianças.

- Jeongsan! O que eu disse sobre soltar a minha mão?- grito correndo atrás do pequeno, desviando das pessoas ao redor.

POV Jeon Jungkook

Era quase noite e eu passeava sozinho, próximo ao Rio Han. Estava muito frio, mas mesmo assim as pessoas saíam só para assistir o show de luzes.
O parque estava muito cheio, o que tornava o ambiente acolhedor. Finalmente estava sentindo paz de espírito, depois de todos os dias parecerem turbulentos. Estava tudo bem tranquilo até alguém esbarrar na minha perna e cair.

Olhei para baixo e vi um garotinho muito pequeno, caído em meus pés. Quando ele levantou a cabeça, vi seu rosto choroso, e confesso que o que mais me surpreendeu foi o quanto ele parecia familiar.
Que sensação estranha.

- Está bem? Se machucou?- indaguei-o olhando preocupado e o ajudando a ficar em pé . O pequeno negou assustado e juntou as mãos segurando a barra do seu casaquinho azul.

- Quero a minha mamãe...- disse o garoto ameaçando chorar.

- E quem é sua mãe? Podemos procurar.- digo passando as mãos em seus cabelos escuros, tentando acalmá-lo.- Fica tranquilo. Vamos encontrar, tudo bem?- o pequeno apenas fez um sim com a cabeça. - Então, vamos lá. Você veio correndo de onde? E quem é a sua mãe?

-Ali, minha mamãe se chama Ali -disse embolado.

-E como ela é? - indaguei olhando nos olhos do garotinho que simplesmente sorriu pra mim e disse:

-Ela é linda, me dá muito carinho e me protege. Mas eu sinto medo quando ela fica brava.- disse limpando as lágrimas

Não estava entendendo nada, mas mesmo assim abaixei pegando-o no colo.
- Vamos encontrar sua mãe, okay?
Naquele momento, escutei atrás de mim, uma voz feminina que eu reconheceria mesmo depois de muito tempo, perguntando se elas haviam visto um garotinho chamado Jeon Jeongsan, vestido com um casaco Azul.
Rapidamente olhei para o garotinho no meu colo e perguntei:

-Você é Jeon Jeongsan?- o garotinho apenas assentiu tímido.

Por que aquele garotinho tinha Jeon no nome? No mesmo momento, me virei, dei de cara com a mulher que procurei todo esse tempo.
Lá estava Arianna, completamente diferente da ultima vez que a vi. Estava com os cachos mais longos, jogados de forma despojada para o lado, vestida de preto e usava um batom vinho, que destacava a cor da sua pele bem cuidada. A mulher estava congelada na minha frente, com os olhos arregalados. Apenas desci o menino do meu colo e segurei sua mão, e disse:

-Acho que encontramos sua mãe.- digo sorrindo ladino.

POV Cheryl.

Impossível! Aquilo era impossível de estar acontecendo... Depois de tanto tempo fugindo do diabo, ele me parece segurando a mão do Jeongsan, com o sorriso irônico nos lábios, esperando alguma explicação da minha parte. Já o desalmado, que se perdeu após desobedecer a única ordem que dei de não soltar a minha mão, estava com cara de medo.
Ah, ele sabia que estava encrencado.

- Olha só! Quem é vivo sempre aparece, não é? - diz Jeon me tirando do choque. - Achou que iria se esconder até quando, Ari?- indagou convencido, tombando a cabeça para o lado.

-Jeon, por favor, sem alarde.- pedi com a voz tremula. Não queria chorar. Não ali, não agora.

-Por que? Está com medo de que saibam o que você fez?- riu inconformado - Devia se envergonhar de esconder que tem um filho meu.

Aquilo me atingiu como um tiro.

-Mas não é seu! De onde tirou isso?- digo tentando disfarçar. As pessoas passavam nos olhando e eu não queria essa exposição pro Jeongsan.

- Caralho, você ainda consegue ser mentirosa!
O moleque é a minha cara, tem a porra do meu nome e você ainda insiste em dizer que não é? Não haja como se eu fosse idiota.- diz Jeon, segurando a mão do Jeongsan, que nos olhava com uma feição confusa.

- Por favor, para de expor o Jeongsan. Ele não tem nada a ver com os meus problemas.- digo aproximando-me - Se quiser, podemos conversar, mas longe daqui.
Jeon não era um homem burro. Ele sabe que o garotinho é filho dele. Não tem como negar, são como xerox.

- Expor ele? Você é patética mesmo. Por que eu gostaria de expor esse garoto? Eu deveria te expor. Você some do mapa durante 3 anos e ainda tem um filho meu, que manteve escondido? Não dá pra acreditar. Me diz Cheryl, me dá um único motivo pra não foder com essa sua vidinha. - diz me olhando nos olhos.

- Estou te pedindo encarecidamente para irmos embora. Se quiser que eu diga algo, vai ser bem longe daqui. - digo puxando a outra mãozinha do Jeongsan, trazendo-o para mim e olhando as pessoas ao redor. - Já disse que aqui não é lugar para discutir.

- No meu apartamento, hoje. Você sabe bem onde fica... - me olhou com o semblante frio, enquanto eu voltava minha atenção para ele indignada. - Foda-se o horário, dê um jeito de deixar o menino com alguém. Não quero ele metido nessa confusão. - diz Jeon respirando fundo. - E nem pense em dar pra trás. - Se aproximou, afastando os cabelos da minha orelha, e disse bem baixinho:

-Se fugir de novo, ou não for, vou tratar de te infernizar e acabar com essa sua reputação, se é que tem uma. É isso que você quer? - Sorri ladino. - Então, não tente me fazer de palhaço, odeio que me subestimem. - diz esbarrando em mim, indo em direção á saída do parque.

Fim.

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