Capítulo 4

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Escovei os dentes e passei minha mão molhada por meus fios negros deixando eles para trás, respirei fundo e balancei a cabeça voltando para o quarto. Noah está lendo aquela mesma revista novamente.

- Pensei que você ia sair. - murmurei pegando minha mochila e me sentando sobre o colchão da cama.

- E vou - virou uma página - tenho encontro marcado, sou pontual.

- Não vai se atrasar desse jeito? - retirei dois livros da bolsa e os deixei sobre o colchão abertos.

- Nanjun ainda está cedo, tenho tempo de sobra relaxa.

A forma em que ele me chamou de Nanjun fez minha pele se arrepiar.

Permaneci em silêncio por vários minutos mantendo meus focos naqueles livros novinhos em que meu pai comprou, Noah fez o mesmo mantendo sua atenção naquela revista engraçada em que ele lia. Depois de me dar por satisfeito eu guardei meus livros e me deitei sobre a cama encarando o teto branco.

- 'Tá com sono? - perguntou.

- Sim, estou. - confirmei.

- Então boa noite, vou desligar meu abajur- se inclinou para fazer aquilo mas parou quando ouviu minha voz.

- Noah!

- Hum?

- Me fala sobre você, eu falei sobre mim agora é sua vez.

- Não tem nada de bom em mim, Nanjun - respirou fundo encostando suas costas na parede - desculpa o modo mas minha vida é fudida mesmo.

- O que custa falar? - me sentei na cama ainda coberto com o cobertor - se for traumático não precisa obviamente...

- Tudo eu conto, vou resumir. - limpou a garganta - eu sempre vivi com meus pais e minha irmã, era tudo lindo mas minha irmã se envolveu em um acidente de carro e minha mãe entrou em depressão. Meu pai se manteu ao lado dela por um bom tempo mas depois ele acabou fugindo...

Ele parou de falar por um tempo e eu respirei fundo balançando a cabeça.

- Eu sinto muito - falei.

-...Eu com apenas 15 anos tive que cuidar da minha mãe e da casa também, mas em uma crise ela acabou cometendo suicídio e aquilo me deixou mal pra caramba, meu pai finalmente decidiu dar as caras e eu fui morar com ele mesmo o odiando - passou a mão por seus cabelos - ele mora na cidade mas eu decidi vir pro campus pois não aguento viver no mesmo teto que ele sabendo que ele abandonou minha mãe quando ela mais precisava, ele é casado com uma mulher e tem uma filha de cinco anos. Eu raramente vou lá...

- Me desculpa, eu não queria ter te lembrado disso - eu disse de coração partido.

- Não precisa pedir desculpas, não é sua culpa - ele se levantou vestindo uma camisa e pegou uma carteira de cigarros - já volto.

Urrea saiu pela porta batendo ela com força e de alguma maneira eu me senti mal com aquilo, não queria ter feito ele vivenciar tudo aquilo de novo de alguma maneira. Me deitei novamente e fiquei refletindo sobre tudo que Noah passou, eu sei como doeu quando eu perdi minha mãe e a dor dele deve ter sido bem pior.

Eu adormeci e acordei com um barulho na porta, ele entrou cambaleando e caiu com força na cama batendo sua cabeça contra a parede que fez um barulho enorme.

- Porra! - exclamou furioso

- Noah? tá tudo bem? - levantei assutado me aproximando dele.

- Nanjun... ai - passou a mão por trás de sua cabeça alisando ali - vem aqui. - estendeu os braços.

ROOMMATE - KRYSTOAH.Onde histórias criam vida. Descubra agora