A água parecia estar congelante. A altura também não era nada convidativa. Um corpo de cinquenta e dois quilos jogado da ponte até o rio, faria uma grande bagunça. Mas, mesmo assim, Catra se mantinha sentada sobre o parapeito da estrutura de concreto. Buscando em sua mente algum motivo para não se jogar dali. Mas nada encontrara.
Não tinha amigos. Não tinha família. Não tinha sequer um animal de estimação a esperando para alimentá-lo. Nada que a fizesse desistir, nem de longe.
Era inverno.
A neve caía fraca, e fazia a garota espirrar vez ou outra.
Ela não sabia há quanto tempo estava ali, buscando uma pequena dose de adrenalina para realizar o que desejava há anos.
A mestiça inclinou o corpo, aumentando o campo de visão para o riacho abaixo de seus pés.
Quantos metros teriam ali? Vinte? Trinta? Cinquenta?
Catra não fazia ideia. Mas parecia ser alto o bastante para acabar com sua solidão de uma vez por todas.
Ela respirou fundo e olhou para o céu uma última vez, mesmo que só fosse possível ver nuvens densas. Sentiu falta do azul vivo que coloria os dias de primavera.
- Espero que você seja tão bonito como dizem os livros.
Enfraqueceu a musculatura de seus braços, soltando seu corpo. Mas algo a vez segurar firmemente na barra de concreto novamente.
Um barulho de motor tirou sua concentração.
A garota olha para o lado e vê uma moto grande preta, parando próximo a ela. A pessoa que pilotava estava vestida toda de preto também.
"Deve ser a morte, só que automatizada " pensou a felina.
A pessoa retirou o capacete, revelando seu rosto.
Catra se deslumbrou com a visão.
Era uma moça.
A moça mais linda que já tinha visto em toda sua vida.
Sua pele pálida contrastava com o intenso azul de seus olhos e seu cabelo dourado.
A tal moça se aproximava com cautela, encarando os olhos bicolores da morena.
- Oi. - Diz a loira.
- Oi.
- Eu me chamo Adora. E você?
- Catra.
Adora se aproxima bem lentamente, sem tirar os olhos do olhar da latina.
- É um prazer, Catra. Posso sentar aqui com você?
- Não. É perigoso.
Adora, teimosa, senta-se ao lado de Catra, com as pernas ao vento.
- Verdade, é perigoso. Mas você está sentada aí. Então eu também vou me sentar.
Catra a olha de cima a baixo.
- Você parece ser uma pessoa importante. Não tem nada melhor para fazer, em vez de sentar aqui com alguém que você não conhece?
- Eu te conheço. - Adora sorri.
- Han?
- Você se chama Catra.
Catra dá risada.
A primeira risada em muito tempo. Tanto que nem lembrava mais do som que fazia. Era gostoso.
- Obrigada por me fazer rir uma última vez. - A latina se curva novamente.
- Se você cair, eu vou ter que pular atrás de você. E eu não estou nem um pouco afim de me molhar. Está frio.
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Anjo da Guarda
NouvellesCatra finalmente juntou coragem suficiente para acabar com seu sofrimento. Uma ponte sobre um riacho afastado da cidade parecia ser um bom lugar. Ela só não esperava que alguém fosse aparecer justamente naquele momento.