IV. PIRATA

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Me ajustei pela milésima vez no sofá verde água, o atrito de minhas calças jeans no tecido impermeável fazia um barulho estridente terrível. A situação além de triste era extremamente constrangedora.

Apesar de ter perdido meu pai cedo, foi devido a um acidente. Não me sentia familiarizada com a sensação devastadora de impotência por saber que um ente querido estava doente.

Mark tinha emagrecido rapidamente nos últimos meses, porém ninguém deu muita importância a isso. Somente hoje, quando seus ouvidos sangraram durante o treino de lacrosse, seus pais decretaram que ele viria ao hospital.

Passei os olhos pela sala, observando cada uma das pessoas presentes. Jia estava sentada ao meu lado, seus cabelos loiro escuros presos em um elegante e elaborado coque. Apesar de estar abatida e usar roupas pálidas, ainda estava muito bonita.

Sangchul, seu marido, marchava incessantemente pelo quarto tamanha sua impaciência. Seu rosto em uma eterna carranca acentuava as rugas de expressão em sua testa. Os cabelos embora tivessem sido pintados de preto recentemente já exibiam fios brancos. Por mais que fosse sábado e ele só estivesse visitando o filho no hospital, não abandonava os trajes formais com os quais já estava tão habituado. Honestamente, acho que nunca cheguei a vê-lo sem um terno.

O Treinador Wright parecia tão deslocado nesse ambiente quanto eu, usando suas calças jeans gastas e uma camiseta impecavelmente branca, os cabelos ainda úmidos do banho. Ele e Mark engajavam uma conversa inesperadamente animada para o momento, tão imersos que não notaram a entrada de um médico.

- Com licença, pessoal. Sinto muito atrapalhar, mas trago notícias. Os resultados dos exames saíram.

- Claro, Doutor. Por favor entre. - Sangchul quase voou para cima do médico em um rompante. Todos no quarto fixaram o olhar  no homem, no entanto continuei encarando Mark.

Quando nossos olhares se encontraram, quase pude ouvir tudo que ele tinha a dizer. "Está tudo bem. Não tenho medo porque você está aqui. Sei que nunca ficarei sozinho". É estranho pensar em todo caminho que percorremos, de meros estranhos até aqui.

Enquanto observava seu rosto, os olhos cor de bronze impecavelmente brilhantes, a mandíbula marcada e lábios comprimidos devido a ansiedade tive certeza absoluta de que era perdidamente apaixonada por esse homem. Parecia algo impossível de acontecer comigo, mas seria capaz de matar e morrer por ele.

- Eu sinto muito. - três palavras. Aquelas malditas três palavras partiram meu coração.

Tudo em volta pareceu estar em câmera lenta. O choro descontrolado da Sra Tuan preenchia minha mente enquanto mantinha meu olhar em Mark, que permaneceu imóvel. Gostaria de ter me levantado e estado ao seu lado nesse momento, assim com o Treinador fez, mas não tive forças para me mover.

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- Você pode enrolar o quanto quiser Yug, mas tenha certeza de que vai ser melhor ter essa conversa comigo do que com a mamãe.

Apesar de morarmos lado a lado eu respeitava as regras de convivência que Yugyeom normalmente ignorava, então essa era a primeira que via o interior de seu apartamento desde que ele se mudou. Poucas coisas mudaram na realidade, a única diferença que notei eram pilhas de roupa amontoadas no chão e várias jóias espalhadas em locais aleatórios. Haviam cordões grossos de ouro maciço, anéis extravagantes com muitas pedras preciosas, brincos de brilhantes e pulseiras de prata que mais pareciam correntes.

- Deixa eu adivinhar, você ganhou tudo isso em corridas?

- É. - respondeu em um fio de voz. Suspirei ao sentar no minúsculo sofá, jogando embalagens vazias de comida no chão. Cristo! Não sou exatamente uma irmã modelo, então não me sinto muito confortável em ter esse tipo de conversa com Yugyeom, mas conheço nossa mãe muito mais do que ele e sei exatamente qual será sua reação então preciso prepará-lo.

The Man of My DreamsOnde histórias criam vida. Descubra agora