Capítulo 2 - Deborah

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Prendi meu cabelo ruivo recém acordado em um rabo de cavalo alto e saí do meu quarto com um vestido folgado de ficar em casa. Escutei vozes vindo da sala e fiz uma careta, porque eu tinha perdido as vantagens de se morar em um sobrado com vários cômodos.

Passei pela sala e forcei o sorriso, um casal com roupas elegantes estava acompanhando meu pai.

— Olá, minha filha. Estava lendo? — Ele veio até a minha direção e deu um beijo na minha testa. Com seus cabelos grisalhos e rugas de expressão, era possível saber da sua idade avançada, até para me ter. — Deborah não costuma acordar tarde se não está doente.

— Estou me acostumando com a casa nova. — Tentei não incomodar com o jeito que ele me tratava na feste desses estranhos. — Muito prazer, sou Deborah. — Estendi a mão me aproximando deles.

— Como é exótica. — A mulher falou conferindo minhas sardas no rosto e o cabelo. — Sou Ana Maria, esse é meu esposo Rômulo. — Tocou minha bochecha com intimidade, evitei qualquer reação de desagrado.

Eu sabia lidar com pessoas e ter sangue de barata nas veias, era um dom exercitado desde quando me submetia as exigências do senhor Ivan.

Cumprimentei o homem e voltei a ficar ao lado do meu pai. Estava faminta, não tinha jantado no outro dia e estava quase no horário do almoço. Precisava forrar meu estômago, ou eu não conseguiria fazer nada além de sorrir e concordar.

— Eles são proprietários do CoperBank. Vão me ajudar com a campanha para concorrer à prefeitura da cidade. Nosso foco será em desfazer com a AMontreal, presidida por Antonio. Os agricultores precisam de autonomia e não a escravidão que esse cara propõe com a feira.

— Aquele grosseirão. Ele não tem uma veia empreendedora. Está desmerecendo o trabalho dos nossos agricultores. — Ana Maria falou com exagero, eles pareciam estar na frente de um público em busca de votos.

— Deixe os adultos conversar. Já tomou café da manhã, minha filha?

— Estou indo para a cozinha. — Sorri amarelo e toquei sua mão que estava no meu ombro. — E não se esqueça, sou formada em direito um ano antes que todo mundo. Posso ajudar.

— Formada? Mas ela não parece ter mais do que dezesseis anos! — A mulher se chorou e pedi licença para ir até o meu segundo refúgio da casa.

Era difícil lidar com minha aparência que, além de ser diferente pelos traços fortes alemães dos meus pais, eu era nerd. Entrei na faculdade antes de completar o ensino médio e concluí minha graduação antes dos vinte e um anos. Queria estagiar e trabalhar, mas meu pai tinha planos para mim quando vencesse as eleições. Ele só se esqueceu de me contar os detalhes do que eu enfrentaria, uma vez que me excluía de tudo, como fez agora.

Cumprimentei a senhora que cuidava da cozinha, escolhi torradas, geleia de goiaba e café para forrar o estômago. Sentei-me à mesa pegando o celular para conferir minhas redes sociais, uma cesta com pães de queijo fresco foi posta na minha frente para me estragar para o almoço.

Um copo cheio de suco de laranja com hortelã foi posto junto, estava ficando viciada nesse sabor. O pão de queijo comi com goiabada, era meu doce favorito e meu pai dizia que era o da minha mãe também. Sentia-me próxima dela, apesar de me distanciar do meu progenitor. Quanto mais eu fazia coisas semelhantes aquela que deu sua vida para que eu vivesse, mas eu deixava de ser uma filha e era apenas culpa.

Continuei minha refeição e fui comer com uma mão enquanto a outra abria o aplicativo de mensagens. Rosi me encheu de mensagens, ela deveria estar surtando com os meus comentários sobre o último livro que lemos juntas.

A Filha Virgem do Meu Inimigo (Amores Proibidos) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora