Capítulo UM

O MISTERIOSO CAMPONÊS - Parte 1

CAPÍTULO UM

O MISTERIOSO CAMPONÊS

No presente...

— SOCORRO! ALGUÉM... — o rapaz olhava para todos os lados, procurando alguém a quem pudesse recorrer, mas só a floresta parecia ouvir os seus gritos desesperados.

    Nunca tinha sentido tanto medo como naquele momento. A vida de seu melhor amigo estava sendo perdida bem ali, na sua frente. O sangue enchia toda sua camisa de algodão ao escorrer da sua testa e de seu peito. Sua testa estava quase toda estropiada e a sua pálpebra esquerda começava a inchar. O jovem príncipe perdia rapidamente muito sangue e, se continuasse assim, morreria em mais alguns minutos. E claro, se morresse, Jimy não poderia mais voltar ao reino de Midnight. Afinal, o rei-mor das terras de Greenwood mandaria executá-lo na forca, ou pior, na guilhotina afiadíssima, num piscar de olhos.

    Ele começou a pensar na sua mãe e no seu avô, de como ficariam se ele não voltasse mais para a casa. A sua mãe surtaria em apenas algumas horas, o seu avô não se importaria tanto, afinal, a sua idade elevada já o amortecera a grandes perdas.

    De vez em quando, Jake tinha espasmos, aumentando ainda mais a tensão de Jimy.

    Este lado das terras pertencentes ao reino de Midnight era praticamente desabitado pelos camponeses. E os últimos que viram já deviam estar alguns quilômetros de distância dos dois. Não havia como levá-lo às pressas para a vila real, seus cavalos fugiram em disparada assim que tudo aconteceu.

    Jimy achava aquele gramado esmeralda totalmente irritante e enjoativo; todo aquele silêncio esgotava sua paciência. Era lamentável como uma manhã de passeio podia mudar em fração de segundos. Por mais preparado que estivesse para viver situações desgastantes, nunca estaria preparado para ver Jake morrer.

    — Pelo amor de Deus! Eu preciso de ajuda... — tornou a implorar. O príncipe permanecia desacordado, a sua pulsação começou a cair tragicamente. Definitivamente a morte aguardava o herdeiro do trono-mor de Greenwood.

    Para a surpresa de Jimy, um vulto escuro saiu de trás de algumas árvores próximas a eles. Parecia ser um homem. Ele continuou caminhando na direção dos rapazes, contudo, Jimy não conseguiu ver o rosto do estranho até que ele se aproximasse mais.

    O camponês tinha estatura média e olhos azuis. Por causa da sua pele enrugada e cabelos curtos totalmente grisalhos, Jimy presumiu que aquele senhor deveria ter a mesma idade de seu avô. Mas o que importava era que a vida de Jake fosse salva e não quem a salvaria.

    Aquele dia era tão aguardado por todos daquele reino; não era um dia qualquer, mas o dia que mudaria a vida do príncipe Jake. Na noite de hoje, ele realizará seu grande sonho: formalizar seu noivado com a linda Enna.

    Por esta razão, o reino de Midnight receberia centenas de convidados de todos os dez reinos e de muitos vilarejos das terras de Greenwood. A maioria deles nem ao menos conhecia os noivos, mas queria fazer média para o rei-mor de Greenwood, o velho Gaulbar. Essas pessoas foram apelidadas gentilmente por Jake de sanguessugas.

    Como era de se esperar, Jake abriu os olhos, e levou um baita susto ao ver seu melhor amigo estacionado de pé próximo da cabeceira de sua cama. Ele tocava uma bela melodia em seu velho violão de madeira. O rapaz não parou de tocar mesmo quando percebeu o olhar infesto de Jake vindo em sua direção.

    — Bom dia, bela adormecida — brincou o rapaz, dando algumas dedilhadas mais agudas no violão.

    — ARCH. O que faz tão aqui, Jimy? — disse Jake, com certa rispidez. — Dormiu com os galos noite passada?

    — O quê? Não acredito que você se esqueceu do que tínhamos combinado para a manhã de seu noivado — caçoou Jimy, rindo sem parar. O príncipe corou no mesmo instante. — Você já fritou os miolos? Eu sei... Eu sei... Alguém que pretende se casar ainda com dezenove anos não deve bater muito bem da cabeça mesmo, mas...

   — Tá! Tá! Já chega! Eu esqueci totalmente do que tínhamos combinado pra hoje. São tantas coisas que preciso fazer nesse dia que nem sei por onde começar. Importa-se de ir direto ao assunto?

    — OK, ok. Combinamos de cavalgar até as montanhas de Ohlive para você relaxar um pouquinho. Acredito que não deva ser nada fácil estar na sua pele.

   — Meu Deus, como pude me esquecer disso? — Jake balançou a cabeça, totalmente constrangido. — Você pode se adiantar e deixar tudo pronto pra nossa saída. Vou me vestir e depois te encontro no celeiro.

    Jake não demorou muito para colocar roupas apropriadas à caça, e desceu até a sala de jantar, onde os seus pais estavam à sua espera. Quando o príncipe irrompeu na sala, sua mãe tratou logo de abrir um belo sorriso, e falar para o rapaz:

   — Bom dia, meu amor — Petúnia pareceu cantarolar aquelas palavras. Ela tinha pele clara, olhos acinzentados, longas madeixas castanhas e um sorriso de lavar a alma.